segunda-feira, 20 de setembro de 2010

o perfume (im)perfeito

Sentei-me. Mesmo em frente à porta. Lembrei-me da Mimi. E do acidente. Acho que me vou lembrar para sempre, depois do relato que lhe ouvi.
Ainda não estava bem acomodada, quando atrás de mim, uma miúda da escola secundária Artur Gonçalves, disse:
Eh meu, este cheiro! Faz-me alergia. E a comprová-lo, dois espirros seguidinhos.
E depois: Ai o c......, senhor motorista, ande lá com esta m.....
Eu já fui desconfiada. Depois curei-me. Mas algo me disse que era o meu perfume a fazer bordoeja na menina da escola secundária.
Estou careca de saber que já provoquei alergia, com perfume ou sem ele, como se esfregasse repelente na pele, num pernas para que te quero, que não te quero, vou-me embora antes que se faça tarde, mas uma miúda desejar pôr-se a milhas por causa do meu perfume, só esta idéia a dizer-me que podia ser verdade, me arreliou e entristeceu.
O mete nojo da miúda enervou-me tanto que me forcei a pensar se não seria um aviso.
O meu perfume tem classe. É distinto e não sou única a usá-lo. Roubei o gosto de uma amiga e preveni-a. Vou usar este perfume, para mudar do meu para outro. É uma amiga de bom gosto e com classe e além do mais vemo-nos pouco, por isso menos grave este copiar perfume de amiga de infância, que usava marlene ou chanel avulso que comprávamos na drogaria do " Rabeca " alcunha posta por nós ao filho do dono da drograria, na Senado da Câmara, quando éramos pitas e já queriamos cheirar que nem crescidas. Porque em casa apenas havia Lavanda e Bien- être, e já gozávamos.
À tempos quis mudar, para algo que me deslumbrasse, que tivesse sido escolhido por mim e fosse como que, só para mim, numa exclusividade que toda a mulher gosta.
Entrei na Douglas. Entro, permaneço e até outro dia, sempre na Douglas porque é uma perfumaria simpática, mais barata ( não sei como fazem isso ) fazem uns embrulhos giríssimos e dão coisas. Amostras. E até já me presentearam com um baton de bolsa. Que mais quero? A Douglas, claro.
Entrei. Uma menina bonita e simpática perguntou-me que aromas já usara. Disse do Poême e do Narciso Rodriguez, que foram os últimos, exceptuando quando alguém oferece, como a Pipoca ou a caçula.
Resposta dela: Acabou com o Poême, fez muito bem. Não se arrependa.
Oh e eu não sei? Não, mas é que nunca mais uso Poême.
Quanto ao Narciso Rodriguez, esse, posso dizer-lhe que é diferente. Se lhe lembra coisas más é pena, porque é um perfume especial.
Oh e eu não continuo a saber? Nunca se sabe se um dia o usarei de novo. Pode ser que me dê uma branca, tipo apagão total e eu queira sentir de novo o aroma de um perfume especial.
Sobre o Midnigt, continuou ela, nunca diria que o escolheria. Não é a sua cara. É bom, mas lembra o frio, gelo, sabe o que quero dizer?
Ri-me. Pode ser que ela tenha razão. Não foi a minha praia, não. Talvez não seja a minha cara, mas que dificuldade em deixar de o sentir...nem mesmo os espirros da miúda do autocarro me convenceram, ainda. Foi uma época, que se prolonga em mim, inexplicavelmente.
Naquele dia, a menina da perfumaria apostava num perfume entre estes dois. Um cheiro fantástico, que não conhecia. Encheu um frasquinho de amostra e deu-mo. - Quando terminar o seu compre este, vai ver que vai gostar. Tem tudo a ver consigo.
E não é que eu acho que tem?
O que me impediu de o comprar?
O que me impediu de o usar?
Dificuldade em abandonar o outro. O dos espirros.
Porque pensei que era traição?
A menina não me disse como se chamava este que me assentava que nem luva.
E parece que é coisa dos céus ou dos infernos, coisa encomendada, porque cada vez que vou à Douglas, procuro a conselheira, e não só não a encontro como qualquer outra desconhece este cheiro.
Será que foi um sonho? Um sonho cheiroso?
Se foi não quero acordar. Porque esse cheiro que os sentidos têm a par com as emoções ainda conservo em mim e acho que vale a pena.
Hei-de mudar de perfume. Hei-de deixar de provocar espirros, melhor dizendo, alergias, num adeus ó vai-te embora. Até ao meu regresso. Vai esperando sentada ou então vai ser se estou na esquina.
Macacos me mordam se não hei-de mudar...

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