sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Nadir, a atleta

Cheguei à caixa do hipermercado com algumas compras. Coisa pouca por causa do peso a carregar. Uvas, fiambre de perú, queijo, salmão fumado, pão, leite, iougurtes gregos, croissants de chocolate e romãs.
À minha frente, uma tiazorra, de cabelos aloirados e madeixas,( próprio de morenas, que não percebo para que querem elas ser loiras, mas também não tenho de perceber . Cá para mim, são a fingir, de plástico, mas isso é lá com elas ). A tia loirona estava companhada de uma rica filha, miniatura da mãe, mas uma promessa de que seria como sua mãe, num futuro próximo. Caso para dizer tal mãe, tal filha. E estavam enfadadas. Com a menina da caixa e com a cliente, atendida por esta. Por esperarem. Eu não. Estava com todo o tempo do mundo. Já jantara e em baixo como ando, sem pachorra para dar ao chinelo pelas lojas, ou ir ao cinema, apenas queria pagar e de seguida ir para casa, mas num tempo relaxado. Nada de sangrias desatadas que a minha energia está pelas ruas da amargura.
A menina da caixa mantinha o sorriso e a energia. Positiva.
Tia e rica filha finalmente foram atendidas. E não reclamaram, como o fizeram de boca pequena na fila, onde esperaram.
A menina continuava sorrindo pacientemente. Sem ser de plástico. Sorria com os olhos negros e brilhantes.
Chegou a minha vez.
O boa noite papagueado, de sempre, diferente no tom de voz e no olhar. E no sorriso extra.
Foi passando cada artigo até chegar às romãs.
-Não pesou as romãs. Não posso passá-las.
- Aaaaaah! Esqueci-me. E agora? Quero mesmo levá-las.
- Quer lá ir pesá-las?
Mas antes que eu respondesse, continuou:
- Eu peço a um colega que o faça. Não se preocupe.
Olhei-a bem como olhos de olhar e ver tudo claramente visto.
Um porte altivo, olhos bonitos, nariz de judia, lábios finos e pele muito escura, quase negra.
Um rapariga muito interessante. Com uma voz lindíssima, e uma dicção perfeita.
Que estaria a fazer no Continente uma rapariga que parecia perfeita para dar a voz numa qualquer Rádio ou Televisão?
De palavra fácil e sorriso aberto fomos falando até que viessem buscar o artigo para a sua pesagem.
Nadir é o seu nome. Faz desporto. Atletismo. Vai fazer a travessia da ponte Vasco da Gama. A meia maratona de Portugal que terá lugar domingo, 26 de Setembro.
Trabalha no hipermercado só aos fins de semana e acha que também por isso, às 11 da noite ainda mantem tanta energia. Gosta do que faz e tenta chegar ao emprego muito bem disposta ( disse ela ). Está efectiva.
Desconhecia que efectivavam funcionários que apenas trabalham 3 dias por semana. 18 horas. Cada pessoa escolhe as horas que quer fazer e o vínculo não depende disso.
Para além de ser atleta e trabalhar no Continente ainda trabalha num Call Center. Rádio Comercial. Tinha que bater a bota com a perdigota.
A Nadir é portuguesa. Os pais são guineenses. As suas raízes passam por Cabo Verde, S. Tomé, Guiné Conacri e Açores. Esta mistura deu uma menina lindíssima, de uma beleza rara, de tez acastanhada como os são tomenses e feições muito europeias. Dona de uma voz belíssima e de uma simpatia e educação irrepreensíveis.
A Nadir complementa todo este encanto físico com uma atitude muito profissional. E com uma simpatia genuína. A comunicadora nata.
Despedi-me dela dando-lhe os parabéns. Não é fácil encontrar profissionais tão completos nas caixas dos hipermercados. Seres tão iluminados.
Hoje eu precisava de alguém assim para me salvar o dia.
Chegou-me a Nadir e fez-me acreditar que há sempre alguém que nos olha nos olhos e nos vê. E merece ser vista.
Vou torcer por ela na Meia Maratona de Portugal.

2 comentários:

milú disse...

deixavas de ser tu se não 'conseguisses' saber as origens da NADIR, ainda bem k assim és amiga......mas não compres uvas nem croissants com chocolate k engordam bué....ando sem força de vontade nem vontade de fazer força para emagrecer, sei k é preciso, porra de DNE......
Tou no Rio até amanhã
jinhos

Maria Clara disse...

Aka, já andava parecia barata tonta a tentar encontrar-te. A cria tá contigo?
E eu? Bem que queria perder estes malvados kgs a mais mas tá quieto e difícil.
Sabes de onde estou a chegar? Duma festança de angolanos e outros que falam com eles ( nós ), aqui mesmo ao lado, em Frielas.
Unh! Xé! Mas olha só né?
Depois conto-te como fui lá parar. Caí mesmo de pára-quedas bem no meio da farra com kizomba e tudo.
Olha só o jantar: Feijão de óleo de palma, batata doce e mandioca cozidas, rissóis, croquetes ( de entrada )caril de camarão, moamba e cachupa. Já deves estar a dizer; O kiêeeeeeeee? à noite? À noite sim, que esta gente não brinca em serviço. Mas brincam com a saúde. Lá para a meia noite serviram os doces. Tarte de laranja, bolo brigadeiro, um doce de colher com bolacha e chocolate, parecido com tiramissu, mas não era bem, salada de fruta e outra fruta qualquer que nem lhe pûs a vista em cima.
Como é que uma gaja vai fazer dieta? Ainda por cima não dancei. Comprei uns reles duns sapatos de pele, em Alcanena, que me roeram os calcanhares, ontem. Hoje tive que andar de pensos nos pés e sapatos da L'Ângela, que calça 39. Só comigo mesmo. Mas aconteceu-me uma que estou a rir até agora mas não posso contar aqui. Quando souberes vais rir bués. Até me lembrei de ti na hora. Amiga, só te digo, a ti não te acontecia isto que me aconteceu, porque não tens 1,73m.Com saltos da L'Ângela cresci para aí 1,80m E mais não digo. Só vou levantar um pouquinho o véu. Sabes como são as farras dos patrícios né? Todos dançam, não interessa se estás acompanhada ou não. Por aí...
Beeeeeeem! Estou a rir até agora.
Não tenho rido muito. Tem sido mais chorar. A semana foi muito madrasta comigo.Mas foi muito puta com gente minha sabes? Demasiado grave para escrever aqui. Mas esta semana por causa do que aconteceu andei mali mali, complicado gerir e esquecer...
Diz-me o nome daquela música do toque do telemóvel que te perguntei quando iamos para a tua irmã a semana passada. Manda por e-mail, tá bom? Eu adoro aquilo e o Zé tem gravada, mas se não sei o nome não consigo que ele chegue lá. Na altura disseste mas eu pensei escrever quando chegássemos lá a casa e depois esqueci-me.
Beijinhos amiga e bom trabalho.
Bom regressso a casa. E boa aterragem. mas olha só o que a Susete arranjou...já não consigo saber que vais trabalhar que me lembro dela e dos votos que me fez.
Caté...