terça-feira, 14 de setembro de 2010

as palavras

Inesperadamente recebi um correio.
Que gostava dos meus escritos, aqui do banco dos meus sonhos.
"" Que tara é essa, a dos bancos onde te sentas para " sonhares "? Os sonhos sonham-se melhor deitados" ".
E que sempre que lê os textos que têm como imagem um banco de pedra - " Parece que me chamas a mim para sonhar contigo. Sinto que podia ser comigo. Queria fazer essa viagem...
Sei que não é para mim, sei que não tem que ser para alguém, sei que afinal, são apenas palavras, que teimas em deixar escritas" ...
Eu poderia responder a este correio que me chegou inesperadamente. E dizer que não. Não é para ninguém. Não é para ele, pessoa que me mandou este correio.
Mas me apeteceu continuar, pegando nas palavras deste alguém que afinal não me inspira e sabe que não, e dizer que:
São palavras, que teimosamente quero desenhar. Eu que não sou artista. Palavras soletradas, copiadas, repetidas, deslocadas, intencionadas. Que quero largar como se largam papagaios às cores nos céus da esperança.
Fazê-las viajar nas asas do tempo. Numa viagem para o meu lugar de partida e de chegada.
Fazê-las chegar. A ti. Que sonhas também.
Tu, só tu as podes ler com a certeza de que são para te depositar no colo, quando te sentares no banco de pedra a sonhar. Comigo, ou sem mim. Numa liberdade que não combinàmos. Que está instituida.
São para ti, porque só tu conheces a cor dos meus sonhos se chamo pela mulemba. Ou se cheiro a acácia. Ou se olho a lua prateando a Baía. Ou se me arrepio no silêncio desértico da paisagem. Ou se remexo cinzas de um passado de memórias que vestem ramos de palmeira e sabem a coco e a maresia.
Só tu chegaste aqui e queres chegar além. Onde os animais se passeiam na savana, as hienas choram lamúrias de crianças, as lesmas procuram o caminho de casa, os peixes conversam no tanque, o sal das lágrimas se mistura com o das salinas, o poente é vermelho, o batuque se ouve dentro de nós, os galos cantam à meia noite, e as manhãs são brancas e perfumadas. Os cheiros são fortes, a luz é intensa, as nuvens carregadas, os cacimbos, bençãos.
Onde o sol é inspiração, o mar é uma canção e a terra um poema.
Só tu chegaste aqui e queres chegar além. Por isso são para ti as palavras que escrevo, quando quero sonhar no banco de pedra.

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