quinta-feira, 30 de setembro de 2010

apenas olhar

Hoje não me apetece sentar. Nem sonhar. Nem ver o que há-de vir através do além desse olhar de vistas cansadas. Num sonho cor de rosa pateticamente sonhador.
Vou agarrar no sonho que ficou pendente na vontade e vou fazê-lo sentar-se. E olhar mas como se fosse eu. Atravessando o tempo num sol de rachar que deus nos acuda e livre. E procurar até chegar, o sol da meia noite. Ver-se para sul na estrada de Santiago. Espreitando luas que transbordam de luz púrpura e se penduram nas arestas das estrelas, quais dengosas bailarinas.
E vou ficar assim. Na sua sombra. Como se fosse na outra face da lua. Apreciando. Num jogo de toca e fica e foge. Só para experimentar se o meu sonho se sabe orientar.
Porque isso de eu lhe colocar asas de pássaro livre mas estar sempre lhe passando a mão pelo pêlo, como mãe protectora, que nem lapa, assim nunca que vai ser um sonho crescido. Fica sonho medricas. Que a nuvem goza. Que o vento rasteira e a chuva persegue. Que a neve queima e a noite assusta.
Eu não quero um sonho assim medroso. Que chama pela mãe na primeira dificuldade. Eu quero meu sonho valente. E robusto, como imbondeiro. Atravessando savanas, planaltos. Desertos. Ultrapassando calemas, lutando com o trovão e enfrentando o fogo das queimadas tropicais.
Hoje não quero sentar. Nem sonhar. Só olhar.
Vou sentar o meu sonho. Se for preciso, lanço-lhe a âncora no mar mais próximo, aquele do dobrar da esquina e lhe dou um porto que o torne mais protegido. O seu chão, assim num assentar praça militante.

Se for preciso, esqueço democracias, direitos humanos e vai ser à força num, se não vais a bem vais a mal. Se for preciso o meu sonho vai ser telecomandado. Para aprender a voar.
Mas hoje quero que o meu sonho se sente. E livre para crescer, acredite. E se veja já a subir no céu do sul e a tocar-lhe, grande, imenso, com a alma dos inocentes.
Tem dias assim que é preciso pôr à prova os sonhos que a gente sonha.

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