terça-feira, 1 de maio de 2012

angústias e desabafos

foto.tukayana.blogspot
Em dia do trabalhador, olhando de quando em vez a televisão, em tarde de ócio, no filme Austrália, que já vi no cinema, um menino diz: Todos estão felizes menos eu. Sou um cabritinho, não pertenço a lado nenhum.
Por vezes, muitas vezes eu sou como o cabritinho que não estou feliz nem pertenço a lado algum.
Nesta viagem organizada por uma torrejana que aqui tem família e amigos, que aqui sempre se sentiu em casa como quase todas as pessoas que viajaram naquele autocarro rumo ao frio do norte e de espanha tive momentos de sentir que não pertenço aqui.
Se mais alguém fez a mesma pergunta: O que estou aqui a fazer? Talvez tenha feito. Sei que não sou a única que sente o desconforto de não pertencer a um grupo que não tem o mesmo modo de vida que eu, nem a idade, nem os sonhos nem as ambições ou mesmo o percurso. 
O grupo funcionou. As pessoas são simpáticas quanto baste, conhecemo-nos todos e o propósito era o mesmo. Os sentimentos que nos movem, as necessidades, o olhar e o coração são diferentes. 
Ao meu lado ouvi várias citações que me fizeram sorrir. Apenas sorrir.
A propósito do estado do país - Os pretos estão a comprar tudo.
Ou - a mãe prefere o paredão da Nazaré à baía de Luanda.
Ouvi muita coisa mas retive estas duas frases. Os pretos estão a comprar tudo, tem um não sei quê de desdém e um cunho racista sem tamanho. Um complexo tramado porque hoje é de inferioridade perante os " pretos " e não de superioridade por serem brancos. Hoje eles compram o que " nós " não conseguimos comprar.
E a outra frase - A mãe prefere o paredão da Nazaré à baía de Luanda - podia ser recorrente para pessoas que não podem ir mais além. Estão verdes não as podemos tragar...
Mas não é. A pessoa em questão podia se calhar ir visitar Luanda. Mas alguém lhe diz: Não vás que não vais gostar. A tua praia da Nazaré é que é.  E ali logo pensei que há quem não deseje um mundo maior para os outros ainda que seja o mundo da sua mãe. Mas há também quem prefira o aconchego do que conhece ao invés de partir para o desconhecido apesar desse ser infinitamente mais belo e mágico.
E faz sentido. Não há baía, não há terra como a minha. Conheço outras, mas a minha alma pára e descansa no meu chão.
Então, seguindo a viagem fui percebendo quão diferentes são as pessoas que se sentam ao nosso lado que comem connosco que nos dão um sorriso ou mesmo que podem dormir na mesma cama que nós. Em excursão rumo ao frio, ou não. 
Volto a olhar o menino do filme. Volto a pensar na minha viagem de grupo. Que voltarei a fazer se me agradar o destino. 
Todos (?) são felizes menos eu (?). Não pertenço a lugar nenhum (?).
Volto à viagem. Oiço dizer: o nosso castelo de Torres Novas, e ele não é o meu castelo. Nunca mais chegamos à nossa terra e ela não é a minha terra. Sou do Outeiro, da Brogueira ou das Tufeiras, de S. Pedro ou da Meia Via. E eu simplesmente não sou. Oiço dizer: Nós e não consigo encaixar-me nesse pronome. 
Vou de viagem. Comigo vão, ou será com eles, eu vou? Vamos, para tornar tudo mais simples, de viagem. Em excursão. Parecem-me todos serenos. Eu também. Mas há um turbilhão de sentimentos, de perguntas e de respostas. Algumas que não me satisfazem.
Penso que é urgente sair por aí em excursão ou não, ao sabor do tempo e das oportunidades e deixar a minha alma viver os momentos sem quês nem porquês. Ela a alma tem poiso certo e seguro. Porto de abrigo. Está lá, onde um dia quero desencarnar. Por enquanto sei que vão todos felizes, menos eu que não pertenço aqui. Pelo menos isso eu sei. Se pertenço lá? Uma pergunta de cada vez. A resposta? Um dia tê-la-ei. E serei para sempre feliz. Em excursão ou não.

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