segunda-feira, 14 de maio de 2012

fim de semana

foto tukayana.blogspot
 O fim de semana chegou ao fim. Apesar d' amanhã voltar a ser domingo p'ra mim, na verdade, não o é para muitos. Há uns dias no ano que podem ser tirados e que fazem parte dum artigo que a gente usa, assim nos autorizem a usá-lo. Amanhã é dia de artigo. Por vários motivos e mais um. E esse é que me faz ficar por cá e tão bem usufruir dum domingo sem viagem para o ribatejo. A Pitanga preocupa-me e faz sentir-me culpada. O mano Zé tratou dela e bem, tenho a certeza. Já o confirmei pelo telefone. Mas...quando o motivo é o que é, não há opção. Há obrigatoriedade voluntária nesta escolha que não me deixa outra. 
Respirar, respirar, suspirar, suspirar, e tudo estar nos seus lugares, isso é que me faz feliz!
Foi um fim de semana de calor e sol. E peixe grelhado junto ao mar de Cascais. 
Foi uma voltinha pela vila como sempre faço. Umas fotografias e uma viagem de comboio até ao Cais do Sodré que me fez pensar no acidente há poucos dias em Caxias. Esta é a linha em que mais quilómetros faço. Chegada ao términos quis sair e o cartão não me permitia a passagem . Foi preciso pedir a umas meninas que me deixassem passar de boleia. Já mo fizeram e eu permiti. E elas também. Depois fui apanhar o 36, só para não ir de metro como toupeira, pois que o dia estava lindo e apetecia andar nas ruas. Melhor não o tivesse feito. Depois de, ter esperado mais de meia hora pelo desgraçado do autocarro, e ter ouvido xingar o governo, xingar a carris, xingar o parceiro do lado, chorar a criança, rir um maluco, que se metia com quem estava na paragem, menos comigo, não sei se porque estava de saltos e ele ficava minorca ao meu lado, se porque se cansou antes de chegar a mim ou se simplesmente me ignorou, lá chegou o bendito 36 para nos levar. E levou. 1,75.€. E levou, até à praça da Figueira, porque ali, um taxi veio por trás e pum catrapum, pum, pum, que a mim tudo me acontece,  e de repente podiamos ter sido sinistrados. Não fomos, mas fomos pouco bem tratados, pois que tivemos de descer da viatura e o motorista mais do que indicar o procedimento a seguir, grunhiu, tendo-nos valido o facto de todos  estarmos habituados a pessoas que grunhem e a paragem seguinte ser ali logo no Rossio e assim rapidamente nos encontrámos para tentarmos continuar a nossa viagem. 
O calor na baixa estava insuportável. 
Já na viagem de comboio percebi que fazia imenso calor. Mas ali a falta era a falha do ar condicionado. Remeti-me para a crise, achando indecente que os bilhetes sejam cada vez mais caros e  sejamos tratados a pão e água. Quando entrei no autocarro pensei que estava destemperada, até que ouvi as queixas da vizinha da frente, uma mulata guineense, li na mala e outras imbambas que trazia, guiné, e depois comprovei no seu crioulo um pouco mais difícil de entender que o crioulo de caboverdianos, com que ela brindava quem entrava e que conhecia. Quando apanhei o segundo autocarro percebi que nenhum autocarro teria ar condicionado. E percebi também que é difícil fazer Cais do Sodré, Olival Basto, num autocarro apinhado de gente, respirando o mesmo ar quente. Percebi que as escadas rolantes das estações, quer de metro, quer de comboio estão quase todas paradas. As passadeiras também. E as pessoas com deficiência, também, pois não têm forma de se deslocar, com tantas dificuldades. Finalmente constatei que o povo está quilhado. Paga e não bufa, porque quando o faz vêm as forças policiais e leva na tarraqueta. A ver, o Movimentos dos Indignados que gritando na Feira do Livro - Passos, ladrão, o teu lugar é na prisão - de imediato foram empurrados e obrigados ao silêncio. 
Em suma, e porque espero que a população de Lisboa e arredores que paga o seu passe mensal reclame pelo ar condicionado a que estava habituada, continuarei o meu acidentado e cansativo percurso dizendo que cheguei à paragem do 32 às 6 horas e quando entrei em casa eram 8,45. No Olival uma festa de arromba parecia estar para acontecer. Percebi depois, já instalada no sofá da minha sala que o som organizado e bonito que vinha da rua não era senão o da fé.  A procissão das velas, que iniciava na igreja e passava pela minha casa. A emoção tomou conta de mim que eu estou sempre a pôr-me a jeito para uma lágrima sobressalente.
Gosto de acordar no Olival. Sobretudo na primavera e início do verão. A cor e o cheiro deste lugar tem algo que me atiça as emoções e que por sua vez me chegam ao estômago. É lá que eu tenho o primeiro sinal de bem estar. Quando assim é eu sei que estou feliz. O Olival foi uma escolha minha. Não tem piléria nenhuma enquanto terra mas representa a minha libertação e deve ser por aí...
Acordada, fui às compras ao...Pingo Doce.  Claro que eu vou lá. Claro que fica perto de casa e eu gosto. Claro que no dia 1 de Maio não fui, não quis ir e tive raiva a quem foi, não porque me apeteceu ficar raivosa mas porque a ganância foi comprada miseravelmente por quem tem olho clínico e manipulador para a coisa.
Depois da minha ida e volta, foi ver o adeus à Virgem cujas celebrações em Fátima começaram logo pela manhã na TVI e terminaram quando Fátima ficou deserta. 

Foi ainda ler e acabar o livro - O Seminarista, de Ruben Fonseca, um escritor brasileiro que descobri há pouco tempo e que estou a adorar. Foi fazer o bolo de cenoura e amêndoa, o jantar, pôr flores numa jarra e esperar ansiosamente a chegada das duas criaturas que mais amo no mundo sendo que uma delas me fará finalmente e de novo, respirar a dois pulmões por algum tempo mais.  
 Se foi mais um fim de semana? Foi. Mais um. Mas em nada igual aos outros. Nem eu...

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