segunda-feira, 7 de maio de 2012

the day after


Chove desde a noite passada num chuva irritante que torna tudo pegajoso. Parece um inverno moribundo a castigar a primavera. 
É uma segunda-feira especial. De restos. 
Depois de três dias meio carnavalescos, com muita luz, muita cor e muita fantasia, uma verdadeira movida torrejana, parece que estou a ouvir a Antónia encostada ao balcão da sua tasca a dizer-me: Vão embora? Então não vêm a chegada da princesa? Eu sorrio trocista e ela corresponde do mesmo jeito. A minha princesa sorri também como que a dizer-me: Vês?
É que a sua opinião é que entro completamente no espírito da coisa e dou-me às cerimónias da história tão escandalosamente oferecida que devo mesmo alugar ou até comprar um traje e  abrir completamente a porta à fantasia ao invés de ser simples, simples uma ova, ao invés de ser ansiosa espectadora dessa feira dos séculos passados.
Na verdade, eu gosto da beleza. Das luzes, da música, das danças. Do faz de conta, era uma vez...
Na verdade a gente está sempre a representar, quantas vezes fingindo tanto que até doi lá bem no fundo da nossa alma. Quando a representação nos faz felizes, porque não? Venham feiras quinhentistas. Venham oportunidades para darmos uma boa gargalhada ou entrarmos na narrativa, no sonho que se prolonga por 3 dias e 3 noites em que o clima vivido é idêntico a acontecimentos como a expo, o euro, o rock in rio. Boa onda, porque as pessoas estão felizes.
Mas hoje é segunda-feira. E a ressaca do vivido traz dor de cabeça, sono, enjoo, depressão, vazio.
Passando o dia a sonhar com a minha cama, chegada a casa nem por isso cumpri o desejado. Meter-me na cama e tapar-me até às orelhas. Não gosto muito de cama. O corpo puxa-me para ela, o resto não.
Hoje decididamente não é dia de olhar para a frente. Mergulho no passado mais recente e pergunto-me com o posso eu ser uma criatura equilibrada, com uma vidinha simples e tranquila se num dia tenho tudo e no outro um vazio? 

Estou de resto. A cidade também  está. Afinal, hoje é... the day after...

1 comentário:

Anónimo disse...

Estás com tudo, Maria Clara, qual resto, qual carapuça!