quinta-feira, 10 de maio de 2012

falta-me o mar...apenas me falta o mar!

foto tukayana.blogspot

Os termómetros dispararam para mais de 30 graus. Olho os céus e parece vai desabar uma trovoada que  levará tudo na frente. Alguém me disse: parece África. Sim, parece. O céu cinza esbranquiçado, o tempo abafado, e uma esplanada para me acolher, faz lembrar sim. Falta o mar. 
Ai se eu vivesse em Cascais! alguém sonha. Eu também. Nem precisava ser Cascais. Qualquer terra da linha servia. Qualquer kimbo com mar...
Falta-me o mar. E lembro uma criaturinha que neste momento está a banhos no sul desta ervilha que felizmente tem desde ontem bom tempo, para a praia. E me mandou uma foto pelo telemóvel chamando paraíso ao lugar onde se encontra, só para me fazer pirraças. E fez.
Vou comprar O  Almonda e a Sábado. Encontro a Isabel, uma das educadoras das minhas crias, do infantário. Custa-me reconhecê-la. Muito mais gorda, apenas o sorriso sereno e bondoso continua igual. Deixei de a encontrar na cidade e também em Peniche. Com casa no Baleal muitas eram as vezes que nos cruzávamos inclusive nos supermercados ou a caminho da praia. Claro que perguntou se os meninos estavam bem. Claro que pergunta e perguntará sempre. Foi-lhes muito dedicada e fez questão de assistir ao lançamento do livro deles há uns anos atrás no Virgínia, já eles eram adolescentes. Acho que desde essa altura só nos cruzámos uma ou duas vezes aqui.
Chego ao Limão Verde e de companhia sento-me na esplanada. A Palmira chega.  Há muito que ali trabalha. Está muito magra e parece mais nova. Traz-me um sumo de laranja natural. Estou a sério na dieta. Agora é que é.  Voltei aos batidos e às saladas. Ao iogurte e à fruta.  Como farei no fim de semana, não sei. Mas que vou tentar, vou. Há um bolo de cenoura e noz que prometi fazer. Que não faço há mais de cinco anos. E que me dará muito prazer dar prazer a quem tem muita vontade de  o comer.
Aparece a Lena surgindo do nada na minha distracção de olhar sem nada ver. Por falar em Lena, a outra, a da manhã, com quem estive à porta da Ana quando ia apanhar a minha boleia, a Lena do Zé Paulo, está bonita e lembrou-me tempos antigos quando nos juntávamos três casais e desde irmos para a sua aldeia, andar de burro, semear batatas e fazer patuscadas na adega dos pais até nos encontrarmos na casa uns dos outros, ensinar-me a fazer tricot apesar de ser canhota, ( foi preciso muita paciência ), tudo fizemos num tempo em que os filhos estavam por nascer ou eram crianças, Tempos que já lá vão.
Esta Lena da tarde é outra que foi dos outros tempos. Anteriores ao da Lena do Zé Paulo. Dum tempo do bar discoteca Bob's, o primeiro da cidade,  cujo dono era amigo e por isso fazíamos do espaço a nossa casa, quer de dia quer à noite. A Lena A. e a sua família, apesar de serem do Porto, depois de terem regressado de Angola em 75, ficaram no Ribatejo e foi fácil conhecê-la porque nessa altura todos nos cruzávamos no centro da então vila. Não sei por que raio mas há cada coincidência! Ou será que não há? Não há. Tudo tem razão de ser e não acontece por acaso e é acreditando nisso que acho um dia há uns assuntos para tratar, resolver e arrumar na minha vidinha.
Mas não querem lá ver que a Lena A. vê-me, o rosto ilumina-se porque olhos não lhos consegui ver pois nunca tirou os óculos de sol e diz-me: Há tanto tempo que não te via!  vê lá que ainda hoje estive a falar de ti. Meeeeeedo! É que não sou obrigada a confiar em toda a gente e não gosto muito que andem a falar de mim pelas costas. Se o pudesse evitar ah pois evitava, proibia até. Mas felizmente, parece que foi bem, ou pelo menos foi algo razoável. É que segundo ela, coincidência das coincidências a melhor amiga, quer dizer, uma grande amiga, enfim, uma amiga de há 20 anos, a maria josé, sabes?  E eu fiquei a pensar nas marias josés que conhecia. E não estava a ver nenhuma a ser amiga da Lena A. Conheço as pessoas com quem se senta nas mesas de café, nas esplanadas da praça 5 de outubro e não têm nada a ver com as marias josés das minhas relações. E de facto, ia caindo de cu quando me disse que não era senão a maria josé do TUT com quem ainda estive ontem.  Num preconceito que até a mim surpreendeu, disparei: Há 20 anos? Tua melhor amiga? Uma das... diz ela baixando a fasquia. Mas ela é muito mais nova que tu . Pois é, mas conhecemo-nos há muitos anos...
Conforme chegou assim se foi embora. No entretanto quis saber coisas. Mostrou-se contente por estar ali e contou muitas outras...desgraças que lhe aconteceram. Não gostei que me perguntasse se estava bem de saúde depois de ter insinuado, para que lhe perguntasse, ter tido problemas graves a esse nível.  Apeteceu-me bater com os nós dos dedos na mesa e fazer figas a seguir. Lá fui de novo ao passado para recordar uma criatura à data minha amiga e por coincidência, lá está, nada é por acaso, também amiga desta, que vendo-se a braços com uma doença muito grave da sua criança, sempre que via a minha cria mais velha e  perante o seu crescimento rápido, me fazia suar de medo e esfriar parecia já ser alma de outro mundo, porque invariavelmente me dizia com ar de doutora muito assumida: Tem cuidado, clara, ela está muito alta e magra. Cuidado com o gigantismo. Quem é o pediatra dela? E eu disfarçava porque todos tinham defeitos menos os do pediátrico de Coimbra. 
Como não me dava uma coisa má, ainda hoje estou para saber. O que conseguiu com isso foi que aos poucos me fui afastando pois que não podia dar-me com alguém que quando estava ao pé da minha cria olhava-a fixamente tentando descobrir algum sintoma de doença e puxava-lhe o rosto e lhe via os olhos como o médico fazia antigamente. 
Do que eu me fui lembrar hoje, perante esta Lena de outros tempos e que nada tem a ver com a Lena do Zé Paulo...
Depois do sumo de laranja bebido vou direita ao centro da cidade. No fundo, no fundo, a baixa, mas aqui ninguém utiliza esse termo, preferem chamar, centro. Há uma exposição de pintura no hotel. Vamos espreitar.  A cidade continua engalanada como se a festa da semana passada ainda não tivesse acabado. Há um qualquer vazio na desarrumação que ficou. Não gosto de ver a cidade a despir-se da fantasia que a torna mais bela. Gostava que estalassem os dedos e pronto, como num conto de fadas, tudo voltasse à forma primitiva, mesmo que menos vistosa e coquete.
Voltar para casa faz sentido, depois de me passear pela cidade. A Pitanga está à minha espera.
Um bom banho, roupa de verão. Uma boa salada e estou como peixinho dentro d'água.
Falta-me o mar. Apenas me falta o mar...

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