domingo, 1 de julho de 2012

Pai


Pai
Não resisti. Estive até esta hora a pensar que ia saltar o teu dia.
Não. Este ano não escrevo, disse para com os meus botões. Não faltam oportunidades de o fazer. Porquê este masoquismo? Esta necessidade de não deixar passar o dia em que nasceste há 87 anos?
Fui até procurar as palavras que te dediquei o ano passado aqui no blog, eu sei que tu deves ter tido dificuldade em saber o que é um blog, eu própria sei desta modernice há tão poucos anos e ainda por cá ando... mas dizia eu que procurei no blog um texto que escrevi o ano passado no dia 1 de Julho e vai daí publiquei-o hoje no facebook. Pois, também não sabes o que é facebook. Ó sô Santos as coisas que tu perdeste...
Acho que ias gostar do facebook como eu gosto. Somos feitos da mesma massa. Gostamos dos afectos. De reencontrar amigos. De recordar Angola e a vida que lá vivemos. Sim, ias gostar do facebook. Ias gostar de saber como tanta gente te recorda. Como têm saudades tuas. Como se lembram de como foste amigo. Como eras honesto, simples, confiado e leal. Amigo.
Decidi escrever hoje só para te dizer isto. Para além do meu pai que amo eternamente, foste amigo de gente que se cruza comigo na vida e  nessa rede social e ainda te recordam nos pormenores mais bonitos de ti. 
É a Ana Maria que ainda há poucos dias quando fez ela também anos, me disse que o leitão que tu fazias era melhor que o da Bairrada. E ainda sabe que hoje é o teu dia. Ah e não é só, ainda sonha de noite, quando dorme, com a mãe. Diz-lhe, porque eu sei que estão juntinhos como sempre, para todo o sempre.
É o Nené, sabes quem é? O filho do Sr. Belmiro e da Arrelésia, que me perguntou: És a Clara, filha do sr. Santos da loja? E acrescentou que tu e o pai dele eram os melhores amigos. Não deu novidade nenhuma. Também eu me lembro desse teu grande amigo que ainda está neste mundo graças a Deus com a sua mulher. 
É o Armindo, que me disse um dia destes que ajudaste o seu pai numa fase menos boa da vida dele, assim, de caras sem pensares duas vezes.
É a Fatinha, que te recorda cantando fado à desgarrada nas noites de fim de semana lá em casa.
É o Luís, que diz que no tempo da casa das mulembas, quando eu ainda nem sequer era nascida, tu fazias o lanche, e que lanche devia ser, porque eu sei como tu gostavas de uma mesa farta,  para os miúdos do Largo Camilo Pessanha que apareciam por lá por casa, quando tu e o pai dele, e outros pais de miúdos do largo jogavam às cartas, ao chinquilho ou simplesmente passavam juntos momentos de descanso e lazer. 




Tudo isto no facebook, pai. Esta rede social dos tempos modernos que nos faz ir mais longe e ter mais mundo, como tu gostavas de ter e  estar mais perto dos afectos e vivê-los mais intensamente. E me faz ter um orgulho profundo de ser tua filha, porque estas pessoas te recordam com saudade e admiração. Respeito e estima.
Parabéns dá-se aos que permanecem fisicamente entre nós, quando comemoram mais um aniversário.
A ti, hoje, neste dia que tantas vezes comemoràmos, porque tu gostavas de uma boa farra com dança e tudo, ah como gostavas de dançar tango comigo, a ti hoje eu digo: 
Muito obrigada pai, por teres sido o melhor pai do mundo e um amigo muito querido para quem contigo privou. És o meu orgulho e ser tua filha faz de mim uma pessoa melhor. 
Daqui de onde estou, para aí onde tu estás o meu abraço maior, aquele que não cabe em todas as eternidades que possam existir. Do tamanho do olhar de Deus.   

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