segunda-feira, 30 de julho de 2012

na piscina

foto tukayana.blogspot
·        Chego à piscina. Exterior. A piscina d’água quente, tem água fria. O jacuzzi idem. A luz está a falhar. Há um problema com o gerador. Na receção informaram-me. Quando lhes fui dizer que a televisão não funciona. A Sara ( a minha amiga da receção ) piscou-me o olho quando a chefe de sala, acho que é a chefe da sala das refeições pediu que se falasse mais baixo, pois estava ao telefone a tentar resolver a avaria. Esta mulher, ao jantar, ( às vezes janto no hotel ) circula de mesa em mesa perguntando se está tudo bem, distribui sorrisos de orelha a orelha mas não me convence. É a única criatura que ali trabalha que não joga na minha equipa nem que se pinte de encarnado. Chego à piscina exterior. É como chegar a casa. Sinto-me um peixe dentro d’água. É bom chegar e reconhecer o espaço. E chamá-lo meu.  Há sol. Não há vento. Está ameno e agradável. Procuro uma espreguiçadeira. Apenas três estão disponíveis. Bem me disse a Sara que o hotel estava lotado. Das três, só uma funciona. Acabo por sentar-me de costas para o sol. Os melhores lugares foram ocupados. Não faz mal. Há vários casais jovens com crianças pequenas. Há jovens raparigas e rapazes em grupo. Estes falam espanhol. Há um casal com sotaque forte de Angola, com duas kanucas, brincando ruidosa e alegremente dentro da piscina grande. Há um casal mais velho que eu, certamente. Ele, com certeza. Encontrei-os a fazer o chek in quando cheguei. Ela com ar  desportivo e moderno, loira, cara lavada,  magra, gira. Ele, cabelos brancos, pele morena, voz arrastada, ar pegajoso. Agarrando-a pela cintura, passando-lhe a mão pelo rabo e olhando p’ra mim por cima do ombro dela, com ar baboso. Detestável. Detestei. E continuo a não gostar. Ela está a ler uma revista e ele, quando me sento na espreguiçadeira, agarra nos óculos de sol e coloca-os. E pára de ler o jornal. Sacana de caça. Sacanas dos caçadores. Parece que estou a vê-los no Corte Inglês, passeando-se com as mulheres, companheiras, amigas ou amantes, quero lá eu bem saber, de braço dado e avançando para tudo o que mexe. Eu não devia levar tão a peito isto, cada um é como é, mas provocam-me asco, sobretudo quando babam pela minha cria. Pedófilos duma figa…hoje não é o caso pois que já sou bem crescidinha. Olho à minha volta. Uma mulher novinha muito escura do sol dá um iogurte ao filho. Fico daquela cor achocolatada ao fim de três dias consecutivos de sol, praia e piscina. Já me confundiram. Quem é essa mulata que está do teu lado? Perguntou a Nany à Mena, vendo fotos de aniversário desta última, comemorado no Ribatejo, ai jesus que se ma apaga a luz só de pensar no ribatejo, mas é que a Mena vive também nessa região. E esta respondeu: a mulata é a Clarinha e as pombas, ( como ela gosta de me tratar e como eu gosto de a ouvir  ).Ao lado da mulher escura, outra com o mesmo tom de pele. Enorme. Talvez tão alta como eu e mais pesada com certeza. O seu estômago e barriga, no dobro dos meus anexos. Acompanhada do namorado, marido, amigo ou amante ou seja lá o que for. Dirigem-se para a escada de acesso à água. Nas mãos dele, uma máquina fotográfica. Ensaia a foto. Ela diz: Assim? E finge que vai em voo. Agora, diz ele. Ela mergulha, atirando-se para a água sem desfazer o personagem. Dentro d’água grita: Ficou boa? Estou bem? Mostra, mostra…e ele, ai ele, olha-a sorridente, tão sorridente que eu sorrio também, ai ele…ai ela… ai o amor…ele sem desfazer o personagem, sorriso pepsodent, diz: estás linda! Pareces um golfinho.Olho os dois. E não desfaço o personagem, sorrio. Pareces um golfinho…O amor é lindo!

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