quarta-feira, 4 de julho de 2012

quase...


Estou para aqui quase deitada no sofá. Quase a dormir. Quase desanimada.
Quase culpada...
Se querem mesmo saber, acho que tenho sido uma traidora. Quase...
Abro o computador, venho ao blog e fecho-o de seguida, vou ao facebook e valia mais estar quieta, vou aos e-mails e não me apetece abri-los. Muito lixo. Muita gente a mandar coisas desinteressantes. Ninguém lhes diz que são actos inúteis. Nem eu. Que não abro, não leio, não respondo. Deixo p'ra depois. Dou um tempo, que já vai em mil e tais e-mails por abrir. A ver se me há-de apetecer. Se não me der a preguiça. Há porém alguns que espero com mal disfarçada ansiedade. Sim porque eu sou inquieta e ansiosa por defeito ou feitio não sei bem. Acho até que sou paranóica, porque há e-mails que nunca chegam e que dava quase tudo para que chegassem. Há e-mails que têm anos de atraso. Outros, semanas, dias, horas. Porém há e-mails que eu nunca queria ter recebido. Que não quero receber e que me perseguem. Depois há os outros. Esses mil e tais, de gente que nem conheço e que ou são desocupados ou paranóicos como eu, mas são ainda atrevidos e inconvenientes e mandam-nos de empreitada e nem sequer percebem que quantos mais, pior.
Hoje até tinha um, duma suposta mulher e por isso o abri, burra como só eu sei ser, aliciando-me duma forma ordinária o que me fez pensar que sou uma otária que ainda acredito no mundo, apesar de estar sempre com um pé à frente e outro atrás. Caio na mesma, esfolo-me toda. Magou-me e entristeço. Dou comigo a pensar, nas caminhadas que faço sozinha, que este mundo está dum jeito que me desilude tanto que até me acho boa pessoa, eu que sou tão carrasca comigo própria.
Estou quase de férias. Quase a fazer anos. Quase reformada...
E que faço eu? Ao invés de me regozijar com estes quases todos, feitos de tudo o que gosto, definho-me numa quarta-feira de verão, sozinha, num sofá duma sala quente duma casa que deixou de ser ninho, lar, família. E quase paz e tranquilidade. É espantoso como recebo sinais. Há poucos dias sonhei com algo que me surpreendeu profundamente ter transportado para o mundo dos sonhos. Quando acordei, percebi de imediato que fazia sentido. E fez. Não vou dizer o que foi, mas o que aconteceu no sonho, aconteceu na realidade. Sinto um arrepio se isso acontece. Não é novo. Nem raro. Acontece muito. Mas sinto sempre um arrepio. Nesse dia, o pai, o meu pai faria anos se estivesse neste mundo. Acho sempre que tem a mão dele. É mais um sinal...
Hoje, cansada, doente, quase doente, pois que arrasto uma dor já há uns dias e pressinto que não me vai abandonar assim com um qualquer banal anti- inflamatório que ainda por cima se põe a desconversar com a minha colite e me atira para a insegurança deprimente da casa de banho, merda para isto, que já vi este filme há uns anos, poucos anos atrás e sofri tanto que ninguém sonha sequer como foi e como é que uma mulher descobre uma cabra duma hérnia na cervical, anda dois meses na toma de medicamentos e mais medicamentos, e Tramal em doses cavalares para suportar as dores, e leva ao mesmo tempo com uma intervenção cirúrgica da filha que fica sem se poder mexer durante mais de um mês, e para completar o ramalhete, descobre que vai dar e levar obviamente um par de patins a uma criatura que nunca a ensinou a patinar e sobrevive a isto. E é nisto tudo que penso a caminho de casa, antes de chegar ao sofá, ao computador e à sensação de estar só e desamparada, ( isto hoje está do pior ), que me interrogo sobre estes " quase " que não me animam, este passado que devia estar trancado a sete chaves para não beliscar sequer o meu dia, como diz a querida Sónia Morais dos Santos, " ressuscitei das cinzas," não devia atiçar o fogo, sob pena de me entristecer, mas a vida não pode ser só cruzes nos dias maus e reticências nos que hão-de vir, há os intervalos que servem para as interrogações e nos trazem os sinais. Quase acredito neles...
Estou para aqui quase a desistir de escrever, do computador e da televisão. Do telefone e do contacto com o mundo. Acho que devia fazer a experiência de não recorrer a estes subterfúgios a ver como seria a minha vida. Como no antigamente. Entregue a mim própria mais que sempre. Sem muletas a aliviar a carga. Apenas o relógio, o telefone e o caminho a percorrer. Já agora um rádio a pilhas. E uma bicicleta. Será que ainda sei pedalar? Faz tanto tempo que a minha vida é outra...
Estou quase a fazer anos. Quase de férias. Quase reformada. E quase angustiada também. Será que estou quase louca para vencer este quases, ou estou só louca varrida?
Procurei-me, falei com a outra de mim, acusei-me, vitimizei-me, esperneei, chorei e gargalhei loucamente e ainda assim não fiquei convencida de que sou culpada deste estado. Alguma vez tinha de ser. No sofá, quase deitada, quase convencida achei um culpado. Permitam-me que faça segredo. Mas até que posso dar uma dica. Sabia que algo estava a acontecer que me incomoda. Recebi o sinal e sem querer, encontrei quem tem culpas, sim.
Noutra reencarnação a ver se não me esqueço de ser Bruxa. Porque nesta, sou...quase.

2 comentários:

persiana fechada disse...

olá. as melhoras para si. não será melhor ir ao centro de saúde ou hospital, ver isso? quanto ao computador, há anos e anos que não leio aqueles mails com anedotas e piadas. Prefiro aqueles mails com uma longa carta, o que é raro. Já recebi longas linhas/cartas por mail mas é raro. beijos e um abraço

Maria Clara disse...

Obrigada Nuno.
Tudo de bom.
Um abraço