sexta-feira, 20 de julho de 2012

tarde é o que nunca chega




Toca o telefone. Atendo.
- Dona Maria Clara?
Era a Sara. Conheço o número, de ter ligado, ontem. Conheço-a pela voz, um pouco sopinha de massa.
- Sim, bom dia, diga….
- Bom dia. Ontem falei com a senhora por causa duma reserva e fiquei de lhe dar a resposta. Liguei depois, antes de acabar o meu turno mas não consegui falar-lhe…era para confirmar a sua reserva, afinal temos quarto para a segunda noite.
- Sim, sim, eu vi a chamada. Obrigada. Liguei a seguir e falei com um colega seu que me confirmou  a reserva. E sorri.
- Ah sim? Espero que não tenha duplicado a reserva. Diga-me só qual é o seu apelido. Tenho sempre dúvidas. Por causa do apelido do ex-marido.
Ri-me de novo. E ela riu também. Já falámos sobre isso algumas vezes.
Percebi que sabia quem eu era. Percebi mas perguntei.
- Sei sim. É a senhora que costuma vir com os filhos e também com a irmã.
- Acho que está maria clara marques. Mas poderá estar maria clara santos.
- Ok. Vou ver…está Marques. Risos de novo. Então fica reservado o fim de semana a partir de sexta-feira. Já sabe como é. Então até…
Perguntei como estava o seu bebé. E despedi-me até uma sexta-feira destas para dois dias nesse lugar onde é sempre um prazer estar e ficar. Onde sou bem tratada. Tenho piscina aquecida interior e exterior à temperatura do ar. Jacúzi, sauna, massagens, um pequeno almoço supimpa e tudo isto na terra onde me sinto em casa, e que tem o mar mais lindo desta ervilha que dá pelo nome de portugal . Isto tudo graças ao presente de aniversário das minhas crias.
Ontem  apenas havia vago um quarto para a sexta-feira. Teria que me mudar para outro lugar no sábado. Muito mais caro. Se sou eu a pagar, apesar da minha pelintrice, não olho muito a isso, mais euros menos euros, poupo noutra coisa qualquer. Quando são outros, sobretudo se são gente minha, incomoda-me que gastem comigo mais do que é suposto. Achei por bem ligar eu e dizer-lhes que sou cliente habitual ( e sou, apesar deste ano só lá ter estado uma vez, por duas noites, três dias, dessa vez éramos quatro ). Podia acontecer que isso tivesse algum peso, ( muito cheia de mim, mas um pouco séptica ) porque não? Não conheço as práticas dos hotéis, mas isto está tudo em crise e uma coisa é o que consta da página na internet outra coisa pode ser a realidade.
Liguei e falei com a Sara. Não me dei muito a conhecer. Apenas disse que era cliente, a Maria Clara Marques, e que precisava de quarto para duas noites embora na internet já estivesse esgotada a segunda noite.
- Nesse fim de semana estamos esgotados. Não temos mesmo, peço desculpa. Até podíamos ter uma suite e ficava nela na segunda noite, mas não temos.
Fez um silêncio e disse a seguir: ainda não vi os e-mails todos. Pode haver uma desistência, havendo, eu telefono-lhe.
Cresceu a minha esperança mas ainda assim disse-lhe que não podia esperar até lá para decidir a minha vida, agradecia mas ia procurar outro hotel na cidade.
- Mas não. Eu telefono-lhe daqui por duas horas a dizer se há ou não há. Queria mesmo que houvesse uma desistência a favor da senhora, dona Maria Clara.
Passadas duas horas mais coisa menos coisa ligou mesmo mas eu andava de volta do meu almoço e não ouvi. O que aconteceu depois já aqui o disse.
O que não disse foi que liguei para um dos pagantes e disse: Já está. Consegui.
- Conseguiste? Como?
Habituada a que obtenha algumas benesses através de outros, isto, coisa mais simples não há, deixou-me com um sabor a vitória na alma que nem sempre acredita muito em si.
Consegui sim, ter três dias de férias na praia e estou muito contente.
O universo é meu amigo. As crias também. E a Sara idem.
E concluo que não se perde nada por tentar e…esperar. E tarde é o que nunca chega.

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