quarta-feira, 18 de julho de 2012

caminhando férias abaixo



É verão. Tempo de férias. É Odivelas. E o metro a transportar-me para o centro de Lisboa. Para um encontro prazeroso. Para uma tarde de afectos. Para um fare niente. É um dia de temperaturas que chegam aos 40 graus, no país. Entro no metro e sento-me. É estação terminal. Aos poucos, os lugares vão sendo ocupados. Não há dúvida que é o transporte público mais fácil, rápido e cómodo ( continua a ter ar condicionado ) da capital. Tem um senão. Somos obrigados ao constrangimento de olharmos uns para os outros e procurarmos fixar um ponto que nos afaste de rostos, a maior parte das vezes, fechados, tristes, zangados, solitários, cansados ou doentes. Tirando turistas, não há alegria nos rostos dos habitantes desta cidade. Há uma conformação assustadora. Desistência.  Pressa. Cansaço e mais cansaço. Mas onde é que não há constrangimentos?No banco ao lado do meu, estão sentados, um homem, e na frente dele,um rapazinho. Devem ser pai e filho. Conversam animadamente. O imberbe parece ser levado pelo pai, à cidade, para conhecer mundo. Faz lembrar quando os pais levam os filhos ao jardim zoológico. A propósito disso, um dia destes vou ao jardim zoológico. Gosto de lá ir.Ao meu lado, um homem, muito cauteloso, senta-se sem me tocar. Acho bem. Odeio encostos nos metros. Esse abuso de pagarem um bilhete e usurparem o nosso lugar como se tudo lhes pertencesse não falando dessa quase repugnância do toque no meu corpo por gente que não conheço. À minha frente senta-se um casal jovem. Na casa dos 20 que pode chegar aos 30. Dão as mãos e ficam de mãos dadas. A mão dele na dela e a dela em cima do joelho. Não evito pensar que está imenso calor. O amor já é quente, a temperatura é alta. Lá fora está horrível. Detesto mãos pegajosas. Sinto nojo. Mas isto sou eu, não eles. Não sei há quanto tempo não ando de mãos dadas. Será que estou com inveja? Não. Não sou invejosa. Não, jamais estaria de mãos dadas no metro. São romantismos para não dizer que é uma piroseira. O amor é piroso, mas toda a gente gosta. Volto a mim. Não namoraria num metro. Não daria mãos num metro. Já não sou romântica? Não sou é palerma. Amor e uma cabana? Não. Numa cabana o amor vai morrendo aos poucos. Numa cabana chovem raios e coriscos. Numa cabana pode nascer o amor. Pode fazer-se o amor mas que morre, morre e não é bonito nem fácil ver o amor finar-se. Numa cabana.Para evitar os tais constrangimentos e porque sou daquelas que por esse motivo, oiço música,  escrevo, ou leio livros, por falar nisso, gosto de ver gente lendo, nos transportes públicos. Interrogo-me se estão mesmo a ler. Se querem mesmo ler. Se sabem ler. É lá com eles. Tiro da carteira, “ o retorno “ de Dulce Maria Cardoso, que já vai a meio. Tenho-o devorado. Foi prenda de aniversário. Gosto de receber presentes personalizados. Que me fazem mais contente por cá andar e apostar em pessoas. O perfume que o F. me ofereceu foi outro presente que me encheu as medidas. É uma das prendas que mais gosto de receber. Perfume. Mas tem um pau de dois bicos. Vamos que é alguém que nem está nem aí para os meus  gostos? Gasta dinheiro e não me satisfaz. Podia pensar que gastar dinheiro é o menos. Mas não penso uma maldade destas pois que os perfumes estão horrivelmente caros e quem oferece um perfume ou gosta muito de nós, ou tem dinheiro a dar com o pau ou quer agradar-nos, passando-nos a mão pelo pêlo, muitas vezes, comprar-nos. Evidentemente que o F. não tem nada a ver com isto. Nem comprava um perfume que não gostasse, nem me passa a mão pelo pêlo, nem é rico. E tem bom gosto. Já me ofereceu muitas prendas e todas óptimas. O ano passado foi o relógio que uso habitualmente. Há 2 anos foi um colar que adoro e sei não haver mais nenhum no mundo inteiro. Grande F! No natal também me presenteia com A vida é bela, livros, Cds. Sinto o aroma do meu perfume. E sorrio. Será que alguém me está a observar? Borriquei nisso. No metro parecemos todos pouco inteligentes, pouco satisfeitos, pouco bem humorados. Muito cuscos. Acho que escapo por uma unha negra a essa condição porque não cusco por cuscar. Observo. Os comportamentos. Com tanta observação poderá chamar-se curriculum? É que pedir não custa e ficava com duas licenciaturas, oferta da Lusófona, uma vez que até fiz anos há uns dias. Que me perdoem a Manuela ( socióloga ), as três Joanas que conheço, a Ana Rita e a Sónia( psicólogas ), mais uma meia dúzia de que me abstenho de colocar os seus nomes,  mas acho que já reúno condições para ter estas duas licenciaturas. Não? Se calhar não. Terei de bater com os costados no banco da faculdade porque haver benesses há, mas são para os outros.
Saio no Marquês. Mudo de linha para os Restauradores. Já estão à minha espera. Combinámos a esplanada da Timeout. Mesmo em frente às instalações da revista. Vamos almoçar ali. Há uns pães que se chamam quadrados e que são de massa de pita, vegetariano,, rosbife  e lombo de porco, todos, com pasta de azeitona e molho vinagrete. E têm uma limonada espetacular. E tem também um ambiente agradável e boa música. Gosto de lá ir. Depois iremos numa visita obrigatória ao Santini. Acabar com o resto. Dia não são dias. Nem quero pensar nisso pois tem muito dias assim...
Dirijo-me ao elevador. Em vão. Está fora de serviço. A passadeira e as escadas rolantes, também. Gente com dificuldades, ou deficiência, velhos e crianças pequenas não podem, nos dias de hoje, andar de metro porque as dificuldades são imensas. Diz que é a troika. Pois é. A troika não anda de metro. 
Daqui até ao Restauradores é um pulinho. Há só uma estação pelo meio. Saio. Na saída errada. Junto ao “ Pinóquio “. Com o calor e sol fortíssimo, com a minha pessoa à espera, quase soltei um desaforo mas ficou-me apenas a bailar pelo pensamento. Bem no centro da praça, o telefone tocou. Era a Constância a dar-me os parabéns atrasados. Esteve no Alentejo. No monte. Fiquei contente com este mimo. Fico sempre. Gosto de mimos. Vejo a minha pessoa à espera. Começa a minha tarde. Na amizade. Em Lisboa. De férias... 

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