terça-feira, 24 de julho de 2012

a carta


Allô!
Esta carta é para ti.  Mas primeiro deixa-me fazer uma introdução, para ganhar coragem. Balanço. Para depois me atirar de cabeça. Sabes como é. Adivinho esse mergulho no mar da tua escrita quando leio as cartas que  partes, repartes e dás, depois de me baralhares.
Gosto de escrever cartas. Sempre gostei. Fiquei amiga p’ra sempre nessa eternidade mais próxima, que nos espera,   d´ algumas pessoas que também gostavam do prazer da escrita no papel de linhas, seguido do ritual de meter no envelope, colar os selos, com a língua, e deixar no marco do correio, feito espera até outro dia e oxalá, receba a minha missiva. E responda na volta do correio.
Os correios são um marco importante nas cidades. Saber onde fica o  tribunal, o mercado, a escola, a farmácia e o hospital, faz parte. A gente nem pergunta. Procura só com os olhos e acha. Há uma linguagem universal que nos faz encontrar caminho até lá. Com os correios é diferente. Mágico. Hoje está ali e amanhã está no lado de lá. Romântica, a ideia do carteiro batendo na tua porta e gritando – Correspondência! Carteiro…
Esta carta é para ti e tenho a dizer que já estou a ficar mais relaxada, mais incentivada, mais confiante p´ra começar. Bem sei que só a lês se te chegar às mãos. Mas há que ter fé. Embora que, os carteiros agora não se preocupam muito porque não nos chegam a conhecer nem de nome sequer, culpa dos contratos breves e não renováveis. Ok, não vou falar do sistema, nem do estado da nação.( se bem que acho que não é por aí que nos desentendemos ) . É por isso que  aquelas cartas que cantam bem mas não nos alegram, tipo pagamento de água, luz, gás, que é que queres? ainda sou à moda antiga, essas cartas às vezes, com estes novos carteiros, vão parar a mãos alheias e bisbilhoteiras que nos fazem contas à vida mas não nos pagam as ditas. Se participasse desses jovens contratados o que aconteceria? Oh, parece que sou bruxa! Levavam um chuto no cú, perdoa, eu não queria escrever palavrões, mas a situação atual, este meu jeito de me resvalar o pé para o chinelo, são culpados. Tá bem, tá bem. Eu sei que tu não tens culpa disso e sei também ser uma senhora no papel e cara - a - cara. Tête- à-tête como dizem os franceses, a olhar o teu rosto que me abstenho de lhe chamar charmoso, sou atrevida mas não descarada, a olhar nos teus olhos, bem no fundo dos olhos que eu não sou de pôr o olhar cobarde no chão, nem tu. E mesmo que isso não chegasse, aprendi a jogar ao sério naquela terra que me ensinou tudo o que é preciso para ser assim, como eu me vejo, e só não aprendi mais porque não sabia que ia deixá-la. Sabes como é. Quer dizer, não sei se sabes. Não me pareces um ser físico preguiçoso, como eu, que deixa para amanhã o que pode fazer hoje. Ou que faz tudo muito às pressas para ficar sem nada para fazer.
Mas vou mudar de assunto, porque já percebeste que só me estou a enterrar e ao mesmo tempo a empalhar, como é que se diz aqui? A encanar a perna à rã. A chover no molhado. Os carteiros que continuem os seus contratos e desta vez que não falhem e chegue a ti esta minha carta que parece até um parto difícil, um menino tirado a ferros, ou de cesariana, com tudo o que isso envolve, juro, nem sei o que me deu para te escrever. Atrevimento dirás, se é que vais dizer alguma coisa. Se é que vais abrir e entender este pedaço de vontade de comunicar contigo sem interferência de ninguém. Nem tua.
Que gozo me dá, saber que vou escrever até ao fim sem que haja um apagão, essa coisa dos tempos modernos, o clique do delete, por vezes conveniente e que dá um jeitão, olha, rimei, quem rima sem querer, é amada sem saber… ahahahahahahah, agora? Tarde piaste. Há quem diga que nesta idade, só sopas e descanso e … pronto. Que é que se há-de fazer?  Nada…
Nada? Não me conformo com essas bocas despeitadas, invejosas e mal-amadas. Nego-me a ser um processo prescrito, como há muitos nos tribunais. Ok. Mesmo trabalhando num, não vou falar do sistema. Nem do estado da nação. Mas isto é o que se chama, deformação profissional.
Olha, desculpa. Tá bom, eu sei que as desculpas se evitam, não se pedem. Este cliché tem o condão de me pôr em brasa. De me dar náuseas. De me fazer brotoeja, mas, eu sou um ser vulgar, não sou surda, leio, vejo, enfim, tenho os sentidos todos ( deus mos conserve e guarde ) e mais um, que dizem, exclusivo das mulheres e por isso também tenho desculpa não é? Quando te peço mil perdões é apenas pelo abuso. Pareço abusada, mas no fundo no fundo nem sou. É pena o fundo não estar no cimo que tu vias sem qualquer ginástica. Sei que deves estar a dizer – vou ali e já venho… aka! Sukuama!
Desculpa de novo. Ouço dizer também que as boas pessoas pedem desculpa humildemente. E também as dão. As desculpas...
Eu quero ser boa pessoa. Humilde? Ahhhhhhhhhhh, ok. Faz parte do crescimento. Uma coisa parece implicar a outra.  Tu deves saber isso. Tu parece sabes tudo. Parece sentes tudo. Parece queres sentir ainda mais. Pareces uma boa pessoa.
Neste momento, que estou pronta para começar esta carta, vou então te dizer  que parece atingi os meus objectivos.
Carta longa, esta! Não é de estranhar. Tenho uma amiga de infância que me disse na minha cara, olho no olho sem rococós que escrevo coisas tão longas que não tem paciência para ler. Fazer o quê? Amiga de infância é família, não dá para ficar ofendida e me zangar.
E tu ?  Leste até ao fim? É preciso ter coragem. Só podes ser boa pessoa. Ya. Obrigada.
Não te roubo mais tempo. Fica bem.
kisses
a de sempre
clara

2 comentários:

Anónimo disse...

sempre o mesmo

Maria Clara disse...

sempre o mesmo??????? Não percebo.