quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Fortaleza de S.Miguel. Lugar de onde vi muitas corridas de automóveis. Corredores famosos, como Álvaro Lopes, depois mais tarde António Peixinho e outros. Sô Santos conhecia muita gente. E também os que organizavam as corridas. E conseguiamos entrar de borla. Os amiguismos. Coisa tão antiga como a própria fortaleza.
Antes do autódromo ser construído e inaugurado era daqui que partiam os carros de corrida, lindos de morrer e ruidosos que só eles.
Gosto de ver provas de automobilismo, não por alguma razão especial mas apenas porque me ficou desse tempo, os domingos na fortaleza em tempo de corridas. E toda a festa que isso envolvia.
A fortaleza também lembra outras actividades.
Namorar. Oh como era bom ir namorar para a fortaleza tendo a Ilha e a Baía como cenário...ouvindo uma música de Lindomar Castilho, eu vou rifar meu coração,vou fazer leilão, vou vender (?) a quem der mais...
Tudo o que é bom termina, e de repente estou aqui no lugar de outrora e em vez de apreciar a fortaleza hoje, estou a olhar através do tempo para o que já passou e até parece que há uma certa nostalgia em mim...
Mas não. Cada coisa tem seu tempo. E depois, corridas para quê? As kinamas já não aguentam e namorar no carro é coisa antiga e perigosa e pode ser interrompida abruptamente. Nãnãnãnãni...
Estive em contemplação no fim do dia. Olhando a fortaleza, o grande orgulho da nossa baía. A lembrança que não se apaga. Gritante.
Desafiando os tempos, ali está espreitando cada regresso a casa. Dando as boas vindas.
Fui à Chicala que já não é como era dantes, mas não é mesmo. Agora até tem prédios sendo construídos. Parece que hoje tirei a noite para criticar. Estou só constatando. Apenasmente...
Fui buscar um bolo de chocolate, recheado a mousse também de chocolate, com raspas e pepitas de chocolate, evidentemente. A doceira vive mesmo em frente à fortaleza, na Chicala. Enquanto esperava, olhava o mar, pouco mar, porque agora fizeram um aterro e tem mais terra que mar, mas olhava o cochito que deixaram, todo ele dourado da luz da fortaleza. Na margem mesmo ali na rua esburacada pelas chuvadas recentes, palmeiras. Olhando este cenário mágico, pensava no privilégio que é viver naquele lugar. Em frente ao mar. Podendo contemplar a fortaleza que a gente todo o ano, ano após ano, sonha ver um dia. E um pouco da baía e os seus prédios luxuosos, qual cidade europeia, americana, asiática, moderna e estilosa.
Dei comigo a pensar que se fosse invejosa estava mordida querendo estar na pele da doceira que pode acordar na aurora, abrir a janela e agradecer a Deus viver nesta cidade maravilhosa que abraça todos os seus filhos, mesmo que ao fim de trinta e três anos de ausência e abandono. Mas como não sou nem um cadito apenas pensei que era para lá de bom poder viver nesta terra e vir à Ilha quando pudesse e me apetecesse. Apenas isso, chegava.

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