segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

diário de Luanda

Luanda. 8.03 horas. 25 graus.
Tempo nublado.
Luanda acordou antes de mim. Ela dorme todas as noites. Eu fiz uma directa e apaguei às 10,30 horas muito contrariada mas completamente derrotada pelo cansaço e pelo sono.
Fui dar-lhe uma espreitadela. Continua como sempre. Alegre e garrida.
Barulhenta e aflita. Os automóveis na avenida são mais que muitos e adoram buzinar e as ambulâncias anunciam-se também. Dos prédios em construção chegam-me os sons de obras, que tão bem conheço, nesta Luanda nova.
Já andei pela cidade e pelos seus limites, Luanda Sul. Samba, Corimba, embarcadouro para o Mussulo.
Estrada de Catete e Ilha. Na cidade.
E estou quase em pânico.
Num ano, esta cidade cresceu de uma forma irreconhecível em algumas artérias. Dei comigo a perguntar contrariada - mas onde é que nós estamos, perdi o Norte?!
Construiram-se prédios, acabaram-se outros. Calcetaram-se passeios e divisórias de avenidas, plantaram-se imensas palmeiras já adultas e semelhantes às que existiram sempre na marginal.
E as obras na marginal e acessos à Ilha vão a uma velocidade surpreendente. Tive um baque, não por mim, mas por ti, Leninha, Constância, Clara Vieira, Elisabeth, Celeste, Maria, anónimo, Zé, GAFM, mano Zé, tu, que não vês Luanda há uns anos. Pois que têm que esquecer a Luanda de 75. A menina envergonhada que ficava namorando o mar. De casas baixas. De pouca luz. De vivendas e quintais dentro da cidade.
Esta, está imensa. Pejadinha de prédios modernos. Mesmo ali à beirinha de vivendas antigas de traça colonial. Pois é. É a modernidade dos tempos. O crescimento na vertical. Da Ilha e observando a cidade, Luanda parece outra. O romantismo duma cidade colonial deu lugar ao atrevimento e luxo duma cidade ansiosa de se expandir, gritando aos quatro ventos a sua mudança e progresso. Se está melhor assim? Claro que sim. Os tempos não se compadecem do nosso romantismo passado. O tempo é HOJE. E hoje a cidade precisa de facilitar.
Já andei em chão firme, ali onde antigamente era mar. Na Chicala. A margem esquerda da ponte da Ilha. Se esta já não era de facto uma Ilha, agora esqueçam de todo. A nova ponte é aérea. A baía diminuiu e tenho a certeza de que vai ficar uma obra imponente e a servir as populações mais eficazmente. A cidade vai ganhar muito com uma variante que parte da marginal e segue junto à Praia do Bispo colando na Samba. Uma avenida larga, arejada e moderna, já com alguns prédios bonitos e outros em construção, acabarão com os muceques que ali se instalaram. Já se iniciou esse processo.
No embarcadouro para o Mussulo, ali perto da Quinta da Rosa Linda também há obras. Aumentaram o embarcadouro para que possam atracar ao mesmo tempo vários barcos.
No início da Ilha, após a ponte velha as obras que se iniciaram o ano passado, vão de vento em poupa e antevejo uma Ilha nova, muito mais aberta, e mas digna pois que nas ultimas décadas a nossa querida Ilha perdeu mais que ganhou. O lixo era imenso e os musseques cresceram.
No Jumbo as prateleiras estão carregadas de mercadoria e até a padaria funcionava em domingo a seguir ao Natal. Logo ali pequei em pensamento pois que aquele pão quentinho a sair, só me fez lembrar manteiga a escorrer e eu a babar...
Ah, e as acácias...estão floridas como só elas florescem. De um vermelho laranja bonito e ousado. São às dezenas na estrada de Catete.
O verde das árvores por toda a cidade é impressionante. Luanda tem muito verde plantado o que dá a sensação de frescura na sombra que as árvores frondosas, dão.
Em suma, Luanda está linda. Continua Linda e vai ficar, uma cidade maravilhosa.
Luanda é a minha cidade. A melhor terra do Mundo...e arredores.

5 comentários:

José Carlos Moutinho disse...

Então viva a modernidade e que Luanda brote para o mundo, não só como uma cidade bela, com novos empreendimentos, mas também, como uma cidade que alimenta os seus filhos, sem descriminações sociais, porque tem potencial para isso...não só Luanda, mas a imensa e belíssima Angola dos nossos corações.

constancia disse...

Querida Clarinha, vejo que estás no teu melhor. Cheguei há pouquinho a casa depois de uma ausência de 5 dias e vim a correr abrir o teu blog.... sabia que ia encontrar novas dessa cidade linda. Claro que Luanda continua linda, mesmo que diferente....
Desejo-te umas férias maravilhosas com tudo a que tens direito. Mil beijinhos

helena disse...

Bom Deus, como tu descreves bem tudo o que vês. Tens o dom da comunicação e eu agradeço-te do fundo do coração por me mostrares este filme, por me mostrares Luanda sem imagens, Luanda imaginária. Luanda que eu venho imaginando pelo que me contam , por fotos que me mostram. Eu sei que um destes dias eu apenas teria pontos de referência para me orientar se aí fosse. Se a Luana da minha história aí fosse realmente, não teria o cenário que imaginou para estar com os seus meninos da rua. Mas as gruas que ela descreve, o crescimento louco que ela narra sem aí ter ido, esse sim, existiria. Obrigada Clara.Sê feliz porque se alguém merece, és tu. maria luanda

Maria Clara disse...

Olá Zé
Obrigada por vires aqui.
Ainda não passei em frente `FARMÁcIA lUANDA MAS já estive na Vila Alice. Lembrei-me de ti.
Beijinhoa kamba

Maria Clara disse...

Obrigada meninas. Beijos e abraços desta Luanda que amamos