domingo, 12 de dezembro de 2010

o que me aconteceu hoje

Há dias assim. Que nos corre bem o dia. Porque sim.
Apanhei um taxi para o Olival e à saída do Colombo. Parecia o Pai Natal, cheia de sacos. Só me faltou o gorro vermelho com pêlo branco e o pompom que lhe dá um ar ternurento. Mas lá chegarei. Senão vejam para a semana aqui, porque prometo que vou aparecer de gorro do pai natal. Eu curto aquele carapuço. Não sei, mas dá-me a ilusão que posso ser eu própria a criatura que nos natais aparece para distribuir presentes pelas pessoas. E a cada Natal sonho também que me apareça um pai natal com um saco cheinho de presentes, como as crianças anseiam.
Entrei no taxi, disse para onde e por onde queria ir. Pela segunda circular há mais semáforos, demora-se o dobro e paga-se mais. O taxista riu-se com a minha preferência. A meio do percurso resolveu falar. Olhando pelo espelho retrovisor: Está frio não está? Não tenho, respondi. - Então não é friorenta. Não, suporto melhor o frio que o calor. - Não é de África, pois não? - Sou, sou...Ah! Bem me parecia, quando entrou no taxi pensei que tinha mesmo ar de boa pessoa.
Dei uma gargalhada. Eu sei que não tenho cara de boa pessoa. Mas não tenho mesmo. E reconheço boas pessoas à légua. E gosto de pessoas que têm cara de boas pessoas. E até sinto um certo ressabiamento por não ter nascido com uma cara dessas. Bonacheirona.
O taxista passou a explicar. E foi básica a sua explicação. Depois de me dizer que nascera em Angola, N'Dalatando e viera pequenino para Lisboa, aquando da independência.
Ora então segundo ele, os africanos, sobretudo os angolanos, são todos boas pessoas. Ri-me de novo. E como já não embandeiro em arco, fui dizendo que há de tudo. Ah... mas porque NÓS os angolanos somos diferentes....
Gostei desta criatura que me contou a sua vida como se me conhecesse desde que nasceu.

Ao fim da tarde pedi um taxi mas desta feita, a Odivelas. Era o 35. O Sr. Frederico. Um rapaz um pouco mais velho que Ricardo, da semana passada, mas ainda com idade para ser meu filho. Alegrou-se de me ver. Porque tal e coiso, que a D. Clara nunca mais me chamou ao fim de semana, que até pensava que estava zangada comigo...
Eu sei que uma corrida para Lisboa é considerada um bom trabalho e que eles se animam por isso, mas esta criatura sabe o meu nome e por isso tem o meu apreço.
Quando estava quase no Parque das Nações, o taxista diz: Hoje a senhora está triste. Nos outros dias fala muito, ri...
Ele é que fala pelos cotovelos o tempo todo. Porém fiquei a pensar no que observara. Será que estou triste?!
Estou cansada. Respondi-lhe. E não entrei em detalhes. Nem sei se havia detalhes. Mas este homem que me transporta de vez em quando e que até me telefona uns minutos antes de chegar viu o que eu não vira ao longo do dia.
De facto há uma certa tristeza nos domingos à noite, em dias de chuva e em época de Natal.
Deu-me de novo o contacto. O seu telefone fora trocado por avaria e por esse motivo nunca mais me transportara.

Trabalha no dia de Natal. Levar-me-á ao aeroporto.
Até a levava a Luanda se fosse possível, disse-me divertido.
Há dias assim que os passamos entre corridas de taxi e centros comerciais.
Mas ainda assim, somos bem tratados e o balanço é positivo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei deste diário de domingo.
A.L.