segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

ser humana

Hoje acordei a horas escandalosas. Meio da manhã. Um sol invejável tocou-me a pele e a alma sedenta. Bebi o milagroso copo d' água e sumo de limão, como de costume, passei pelo espelho do hall, reprovei o mau aspecto a que não me habituo, apontei-lhe o dedo, acusadora, numa recusa do tempo que se instalou inevitavelmente, difícil de aceitar e conviver, antes do rosto lavado, retocado, disfarçado de rugas e sinais, do dito tempo. 
Fiz-lhe uma careta, encolhi o ombro doente, que ultimamente doi mais, ( fruto do inverno rigoroso ), num relógio, que diz que sempre fica a dar horas e não pensando muito no que por aí vem, sendo que do que está para chegar, apenas me interessa um encontro por mim ansiado desde a partida, coisa de placenta, vim ao computador e deparei-me com fotografias que me levaram à minha terra, tão rápido que a velocidade da luz não é nada comparada ao que a minha alma percorre em voo de pássaro livre a caminho do seu destino. Ao encontro da kianda. De mim...
Há dias, por mim falo, que o mote, para que a sensibilidade derrame lágrimas salgadas de saudade e lembranças duma felicidade que foi vivida e nunca esquecida, é inventado, sei lá, ou será coisa do universo para me fazer vazar o que me oprime, me magoa, me humilha e me ultrapassa. O que sobrou de mim. E perceber-me simples ser. Humano.
Ser humana é isto. Ter coração que sente, olhos que enxergam e mente que guarda. Alma que se dá. E se expõe.
Ser humana é sentir que preciso de ti. Sim, de ti. Não procures ao teu redor. É contigo que estou a falar. Não sabias, que preciso de ti? De todos de ti. No que tu me dás, no que tu me gostas, no que tu me respeitas e apoias. E no que tu me criticas, me prevines e esperas de mim.
Ser humana é importar-me e reclamar-me. Estender a mão e apertar a tua. Mesmo que estejas longe, pois que do longe se faz perto. E salvar-me.
Ser humana é cair e levantar-me, naufragar e ressuscitar, no que ficou de mim depois de me morrer de amor, dor e desilusão. 
Ser humana é dar e receber perdão. 
Olhei as imagens de luz dum passado longínquo, numa terra abençoada e humanizada e chorei lágrimas grossas e ávidas. 
Chorei do passado, do presente e de mim. Chorei, de ti. Por ti. Todos de ti que não me conhecem. E também daqueles que amei e não me amaram. Que respeitei e não me respeitaram. Que não desiludi e me desiludiram.
Chorei a dor de ter chorado, chorei a paz que me foi roubada e chorei um tempo que me fugiu.
Olhei as fotografias que me humanizaram e percebi que acordei mais humana que nunca. E assim vou permanecer...

2 comentários:

Agostinho disse...

Coisas que nos sabem bem e fazem mal.
Têm aparecido, por aqui, tantas coisas boas. E as fotografias da saudade fazem-nos...

Maria Clara disse...

:)