segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

uma hostória de amor no Miramar


 Se o cinema Miramar me recebeu nos primeiros anos da infância, também foi o último onde fui, naquele cacimbo quente de 75. No século passado.
Foi no fim da tarde do último domingo do mês de Junho, desse ano que tocou todos os que estavam de pedra e cal na cidade.
Olho essa bancada, o que sobrou do que foi um espaço ao ar livre, bonito e muito bem posicionado na paisagem e na cidade, onde as matinés aconteciam apenas quando o sol se punha no mar, espetáculo que calava fundo na alma da gente e o privilégio de assistir dali, olho essa bancada e me sento de novo num lugar, vários, muitos lugares. Sentei sempre, no decorrer dos anos, quando o corpo se ausentou, porque a alma, essa, continuou dona do momento, senhora do ar, do filme, do mar e do céu que me abrigou.
Olho essa bancada e o pensamento voa, voa, voa, por entre histórias de encantar. Mesmo se a última vez foi ao som dos petardos, na luz dos balas tracejantes, a horas d' um recolher obrigatório que fazia crer que estávamos na guerra. E estávamos.
Mas naquele domingo, no pôr do sol cacimbado, a hora foi de paz. E amor. E o dia ficou assinalado.
De mãos dadas, primeira vez de mãos dadas, no cinema. Uma estreia, num amor no princípio do fim. Num amor prestes a partir e a se perder de nós, por via de desencontros de guerra.
Olhando o filme só por olhar, o calor da sua mão, o tremor do coração, sem palavras, bloqueada a imaginação, me fiz protagonista duma história de amor tão linda que só lhe faltou o final feliz. Para ser A História.
Duma história de amor tão intensa, que a minha alma ficou lá. A eternizar o momento.
Olho o que resta d' um espaço onde me reconhecia menina, adolescente, mulher feliz e apostaria o que tenho e não tenho que o que resta deste abandono, ainda se lembra de escutar o meu coração batendo forte, do rubor da minha face, do encanto, desse dia, do tamanho desse amor.
Qual era o filme? O Relojoeiro. Do que tratava? Esqueci. Não vi. Só olhei...
m.c.s.

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa amiga, muita gente tem uma história de amor, felicidade ou nostalgia vivida no Miramar. A primeira vez que lá fui, 22/07/1961, foi para assistir ao filme " O Mundo nos seus braços ".Lembro-me que quando entrei fiquei perplexo.
Só nos filmes é que tinha visto os
drive cine, mas o que via naquele momento, era simplesmente espetacular. Bj. GAFM

Maria Clara disse...

Belos tempos para recordar...
Beijos GAFM e tudo de bom.