Acordo com o sol entrando pelas frestas que não tapo.
Não quero esconder nem proibir.
O sol é amigo e vem visitar-me com a frequência, dos amigos presentes.
Chega-me da rua o som da manhã, início de semana. Recomeço...
Já não estou de férias. Não tenho, nunca mais terei a angústia dos dias felizes, ameaçados. Nunca mais sentirei essa solidão.
Ao fim de muitas folhas retiradas do calendário, travessia pelas estações do ano, noites e dias, rotinas e aventuras, viagens e planos cumpridos, adiados, ou desfeitos, regressar ao tempo que me manteve presa à secretária, à terra e às limitações duma vida a viver para sobreviver, regressar àquele tempo longo e amorfo, seria um pesadelo que me nego sequer a imaginar.
Não saberia recomeçar. Não saberia como resolver. Porque, não sei estar sozinha no mundo.
Viver o presente com os olhos no futuro, o coração amargurado, ansioso, revoltado, é como aquele passageiro de barco naufragando, última viagem, o quarto escuro, a cadeira de dentista, o elevador transportando o medo de nós, ou temporal no meio do mar...
Viver o presente com os olhos no incontrolável tempo que se pode escapar de nós, não é viver, é vegetar. E muito vegeta quem vive sozinho no mundo. Quem no mundo está sozinho.
Acordo e beija-me o sol. Dá-me a mão para me erguer.
E eu afasto a vontade de me deixar ficar entre pensamentos e divagações, sorrisos parvos e preguiça e dou a cara ao dia.
Olhos nos olhos com o tempo, meu companheiro, hoje mais do que nunca, que não estou de férias nem compromissada com o dever de outrora, abro a janela.
Inspiro o ar frio da manhã e escolho ficar em casa, na companhia da minha gata, dona Pitanga, que se acha gente e eu gosto desse seu achar, meio felina, meio pessoa, da televisão, dos livros, do sol e das memórias.
À janela, sempre à janela, porque não sei estar sozinha no mundo.
Enquanto não me perder de mim, não estarei. Nem a janela se fechará...
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