Sento-me no muro velho e gasto do quintal de casa.
Não há lugar melhor para pintar de cores alegres, o momento, o futuro, que o banco de tijolo gasto que o muro oferece, levando-me ao passado longínquo.
Os passos que me levam ali, são seguros. E de saudade e fé. Dão-me a possibilidade de ser criança de novo. Sem sair do presente.
Encanta-me o céu azul pintado de nuvens brancas , ovelhinhas de lã alva, correndo sobre o prado da minha inspiração.
É sábado. À tarde. Dia de festa nos ares. Azul, verde, amarelo e encarnado, uma panóplia de cores nos papagaios de papel que esvoaçam no céu, alegres e magestosos. As caudas compridas de pano riscado ondulam-se como se poisassem ao de leve nas ondas do mar azul verde esmeralda, perto de mim. À distância d' um passeio na carrinha azul do avô. À velocidade d' um desejo de neta mimada. E amada.
Ao meu lado os meninos fazem concursos. Um mais bonito que outro. Um mais alto que outro. Um que plana por mais tempo entre
as nuvens. Ganhando distância. Destacando-se. Para deleite dos putos da rua.
Sempre quis lançar um papagaio. Pô-lo no ar e dar-lhe guita. Fazê-lo subir direito ao céu. E de lá vê-lo acenar-me feliz.
Belo. Em liberdade.
Experimento. A medo. Insegura. Ondulo a mão direita em movimentos iguais e constantes e com a esquerda, seguro o rolo de fio mais pesado que eu.
O vento sopra de feição. Aproveito a distração da disputa de lugares de podium e pulo o muro, corro no passeio de terra batida. Envergonhado, o meu papagaio parece não querer obedecer. Insisto. E de repente num golpe de mestre, consigo. Vai subindo, subindo, direito à liberdade de voar. Seguro. Elegante. Imponente.
Sento-me no muro velho e gasto do quintal da casa. Há uma voz de menina que me diz: dá-lhe guita.
E eu dou. E voo com o meu papagaio colorido nas alturas, para lá do céu da minha rua, do meu bairro. De mim.
Voo, na liberdade de sonhar, nas asas da imaginação, dando guita ao meu coração.
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