quinta-feira, 26 de maio de 2011

à mercê da tesoura

Olha só a minha cara. Triste né? Pudera. Por que faço eu sempre a mesma asneira? Fui cortar o cabelo. Dois dedos. Apenas dois dedinhos. Qual quê? Dedos de gigante que me deixou neste estado. Gigante que se chama Ana. Nunca me pusera as mãos em cima. Mas são todas iguais. Apanham-se de tesoura na mão e é um vamos lá que é uma pressa. Assim parecido com os doutores que nos tiram a vesícula, o apêndice e outras miudezas; a fama é a mesma, apanham-se de bisturi e aí vai disto. Eu não sei porque nunca que fui operada. Mas já me cortaram o cabelo tantas mas tantas vezes que perdi a conta e a vontade de contar. As más línguas é o que dizem. Bem mas quem me fez este servicinho foi a Ana, sobrinha do Raul. Quem é o Raul? Ah pois é! Uma figurinha que conheço há 36 anos, desde quando cheguei a torres novas e fui viver para o largo do banco Ultramarino, em frente à pensão Parque. O Raul era um adolescente que ajudava o irmão que trabalhava na pensão. À noite, dava na rádio o Quando o telefone toca. E o Raul todas as noites se sentava na soleira da porta da pensão de transistor na mão ouvindo o dito programa. E eu ouvia o telefone tocar e todas as malditas noites a Gal Costa cantar Índia, que até apanhei um enjôo que ficou para sempre, porque odeio essa música. E também o, Si quieres ser mi amante, de Camilo Sesto. Essa então não falhava uma noite. Se penso nisso fico com náuseas, como quando oiço relato de futebol no carro em andamento. O Raul cresceu. E tornou-se empregado do merceeiro mais conhecido dali do bairro. O meu . Onde, depois de ser dona de casa e mãe de família, passei a fazer compras com carácter de cliente mais assídua que as assíduas. E o Raul fez parte das minhas rotinas até há 5, 6 anos atrás. Fui até ao seu casamento. Voltei a vê-lo no velório de uma senhora amiga há 1 ano atrás. Veio ter comigo e dadas as circunstâncias do momento e lugar onde estávamos até se manifestou com algum exagero, que me comoveu. Perguntou pelos meninos. A Ana que é sua sobrinha, cresceu apanhando boleia do tio, na mercearia, diariamente, para a aldeia onde viviam. Por isso a conheço. Não a via há 5, 6 anos também. Encontrei-a um dia destes. Ia eu com a Ana Maria. Custou-me conhecê-la. Hoje fui ao salão de cabeleireira de que é proprietária, em torres novas. Um pouco por acaso. Apenas para acompanhar a minha amiga Ana Maria. Deu-me uma veneta e zás- vamos a isto. Cortar as guedelhas que já estavam demasiado compridas e sem corte. Estou, como sempre, arrependida. Sim, que eu não sou daquelas pessoas que muito assumidamente dizem: Ah eu cá nunca me arrependo do que faço. Uma ova. Há tanta coisa que não fiz que queria ter feito e já não sei se vou a tempo. E outras que fiz acontecerem que antes tivesse partido uma perna. Quer dizer, um dedo. Não, uma unha, já chegava. Mas se arrependimento matasse... Como podem observar, estou assim, esta carinha de sonsa que até doi. Hoje não há dúvida nenhuma, dou-me conta que não vou para nova, mas...quero que se dane a idade!

4 comentários:

maria disse...

Minha amiga, estás sempre bem.
Mas concordo.
Tristinha, porquê?
Bj.

Ana Maria disse...

Não há "necessidade" de TANTO arrependimento! por dois dedos de cabelo!! achas que vale a pena!??! e, como já me manifestei estás bem!! e, mais cabelo menos cabelo porque----esse, logo cresce!!! amanhã seguramente já estará MAIOR!!!

david disse...

Está ótimo (eu escrevo segundo o novo acordo ortográfico). beijo

anónimo disse...

Maria Clara
Fizeste bem. Não te sintas arrependida. Afinal, a tua beleza é genuína. Mais cabelo menos cabelo como diz a tua amiga. E se ela diz que estás bem.......
Olha que as mulheres costumam ser invejosas.