domingo, 7 de novembro de 2010

nas asas de um albatroz

Olho para lá do espaço pequeno e fechado que me prende às lembranças de ti.
A porta da rua abre-se. Espreito o seu movimento desordenado.
Foi o vento que a abriu.
O meu coração desordena-se também de sentir as coisas normais de um dia de domingo frio e triste.
Já hoje choveu. E deixou o cheiro da terra molhada no ar. O sol não chega para a secar.
Mesmo que tivesse binóculos, nada via. Os limites dos montes e vales e estradas que se perdem por vielas e esconderijos sem luz me impediam de ver mais além.
Não te vejo chegar.
Não consigo desenhar ainda que a carvão, a tua silhueta. Não sinto o teu perfume, nem oiço os passos fazendo ranger as folhas secas da árvore do quintal. Não te advinho as mãos bentas de esperança.
Não me sinto observada nem há um só escrito, mesmo que no céu a escapar pendurado nas nuvens brancas, indicador da minha presença em ti.
Devemos deixar livres as almas ancoradas nos portos feitos de castelos no ar.
E eu, que apenas olho para lá do que me rodeia não possuo o poder dos bruxos nem o condão da mágica varinha.
Apenas observo. Nem sequer espero, porque quem espera, desespera e chora. E o sal das lágrimas derramadas no mar vai temperar a vontade de te ver chegar de novo, mas vai deixar marcas no meu olhar.
Para te abraçar, num enlace gigante como enorme é o desejo de te ver voltar.
Parece que a chuva me fez delirar a espasmos descontrolados.
Não sei se te esperei sempre. Ou apenas hoje. Ou se te espero. Não sei o que sinto. Baralhei-me observando, como baralhei a sina das cartas que não me leram...
Não sei sequer se existes. Se sou...
Ou se és alma penando em mim.
O que sei é que te queria ver chegar nem que fosse nas asas de um albatroz, desviado na rota para sul.

2 comentários:

TITA disse...

Maria Cçara,cheguei até aqui e apetece-me deixar um registo,pois tenho uma paixão por África e gostei deste espaço e sobretudo acho que com as tuas palvras se pode tocar o céu de Angola com o olhar.Voltarei aqui de certeza.Por hoje fica o meu abraço.

Maria Clara disse...

Muito obrigada, Tita.
Sempre que quiseres, esta porta está aberta. E se acaso estiveres cansada há um banco sempre disponível para descansares e sonhares.
Benvinda.
Kandandu