sexta-feira, 26 de novembro de 2010

o teu dia

Se hoje estivesses connosco farias 75 anos...
Porque partiste tão cedo?
Tenho tantas saudades tuas!

Por volta dos anos de 76, faz hoje anos, decidi fazer-te um bolo. Para comemorarmos o teu dia.
Sempre gostàmos de comemorações. Não era por vivermos com dificuldades que iriamos passar em branco este dia. O único bolo cuja receita sei de cor, tem 250 gramas de açúcar, de farinha, de manteiga e era precido pesar os ingredientes.
Estava feliz nesse dia. E cantava. As músicas de intervenção, tão na moda no momento, acabados de vivermos um 25 de Abril e uma Independência dos países colonizados por Portugal, incluindo o meu. Sobretudo o meu. Angola.
Descia as escadas a fim de pesar na balança da loja do pai os ingredientes para a feitura do bolo de aniversário. Numa mão o pacote do açúcar, na outra o da farinha. Apesar do frio calçava umas socas com salto grosso de madeira de andar em casa.
As escadas de madeira tinha alguns degraus gastos e tortos.
Eu estava numa grande animação e cantando tão alto como conseguia, algo, que acabava assim -
E sei que nunca mais haverá gueeeeeeeera.......
E sem saber como nem porquê, fiquei com a guerra na boca e a galgar os degraus duma assentada até me estatelar no chão acimentado do patamar antes da entrada para a loja. Acho que perdi os sentidos pela primeira e única vez na minha vida. Perdi a noção de mim e do local onde me encontrava. E pior, fiquei cheia de açúcar dos cabelos até aos pés.
Foi feia a queda e também pela 1ª vez não me ri de mim própria, naquela altura.
E tudo por um bolo cuja receita a única que sei de cor e que trouxe comigo na viagem de Luanda para Portugal.
Feri-me nos joelhos, nos cotovelos e nos braços mas o bolo fi-lo na mesma.
E tu fizeste anos. Tão poucos, mãe! Apenas 41 anos.
O ano passado, foi neste dia que me telefonaram a dizerem que já tinha o visto no passaporte para viajar para Luanda. É o teu dia feito nosso.
Hoje...está uma eternidade entre nós.
Já não faço bolos de aniversário, nem canto cantigas de Abril...
Continuo a cair e a levantar-me.
E nunca me esqueço que hoje é o dia em que nasceste. já lá vão neste ano 75 anos.
Costumo falar contigo à noite, olhando as estrelas na esperança que uma delas te pertença e me dê a Luz que me guie nos passos que dou.
Hoje queria de ti um sinal. Como o do ano passado...
E que me dissesse que recebes este abraço grande, tão
grande que não cabe no tempo. De um amor sem tamanho, minha mãe ...

2 comentários:

constancia disse...

Lindo, Lindo...quem me dera ser capaz de me exprimir tão bem ....como tu consegues dizer as coisas mais simples dessa forma tão directa e tão bonita. Um beijinho grande para ti amiga

Maria Clara disse...

É a leitura que fazes com a benevolência das amigas.
Beijinho grande também.