terça-feira, 23 de novembro de 2010

aconteceu hoje

Hoje

Oito horas.Chovia.
Decidi logo ali ao dobrar da esquina que iria de TUT. Já não tenho idade para chuvas, espirros, lenços de papel ranhosos, pastilhas de mentol, securas e arrepios de febre. Posso não me recompôr. O ano passado estava a ver que não.
O que me custa mais é dar 1,30 € pelo bilhete. Não sou foca, nem lá perto, sou capaz de dar isso ou mais a quem me esticar a mão e disser que quer comer, mesmo desconfiando que não o fará, mas fico com a minha consciência aliviadinha. Para o TUT é que me custa engolir. Mas hoje estava a chover. E por isso tive que abrir os cordões à bolsa, muito contrariadinha.
Só que o TUT chegou atrasado. Enquanto esperava ia arrependendo-me à medida que via os minutos passarem. E como não me perdoo das asneiras que faço, mentalmente rezava numa reza de velha, ronhonhós do tipo, p´ra que é que te metes a besta?! ou, Ias a pé e já lá estavas, sua pindérica...quando o desejado TUT me parou aos pés.
O motorista era um meu conhecido de outras viagens no meu autocarro de todos os dias. Às 8,18 horas ainda não chegara à minha paragem. Olhei o relógio e fiz concerteza uma careta, boa que sou nessas manifestações faciais. Testa franzida, lábios esticados e juntos, tipo cu de galinha e acompanhadas de um suspiro fundo e sonoro. Não faço por mal. Acontece. Fui buscar isto a um qualquer antepassado mal disposto, que há-de ter havido muitos na minha família transmontana que eles não são para brincadeiras.
O motorista olhou-me pelo espelho retrovisor e sorrindo disse-me, a mim que ia logo ali quase que ao seu colo, tal ia o mini-autocarro ( vai sempre sardinha enlatada ):
Não se preocupe. Vai apanhar o seu autocarro porque já telefonei ao meu colega para esperar por si.
Caiu-me tudo. Desfiz a cara feia, sorri-lhe e agradeci grata.
Fiquei a pensar nisto. Fui invadida de uma sensação boa de paz. De lar.
Afinal, ainda vale a pena ser eu.
Afinal ainda vale a pena viver numa cidade como torres novas.
Afinal sou injusta quando lhe chamo tarrafal...

1 comentário:

Anónimo disse...

Afinal és uma mulher linda consciente e honesta.
Parabéns.
A.L.