quinta-feira, 18 de novembro de 2010

o meu desconhecido


Há quem tenha um tique. Um vício. Uma doença.
Há quem tenha um sogro. Uma dívida. Um clube perdedor.
Há quem tenha um partido na oposição. Uma colega invejosa.
Há quem tenha sarna. Um patrão tirano. Ou o mundo às costas.
Há quem tenha até uma cruz...
Eu...eu tenho um desconhecido.
Bem sei que é coisa pouca, comparado com o que outros têm, mas é o que se pode arranjar.E a mais não sou obrigada.
E não posso dizer muito mal. Porque eu até acho, muito sinceramente, que quem tem um desconhecido, tem tudo. Podemos não ter mais nada mas só a alegria que é todos os santos dias nos dizerem que somos recordados é uma benção.
Eu diria que é paixão.
Parece que estou a ouvi-lo: Ó minha, ouve o toque do telemóvel. Ó minha, sou eu, o teu desconhecido, para te dizer que existo e não me esqueço de ti.
Eu tenho um desconhecido que não é exigente. Dá um arzinho da sua graça depois do almocinho. Se atendo só precisa de me ouvir dizer: Estou (?) e desliga. Mas também... quem me manda ser jerica, se atendo é porque estou. Se não atendo, depressa se cansa e desliga também.
Tenho que enaltecer aqui os predicados do meu desconhecido. Isto de ter desconhecidos é para quem pode e não para quem quer. E desconhecidos como este é um luxo.
E bem comportado. Metódico, frio e calculista. O contrário de mim. Sim que isto de gabar as qualidades dos outros apenas, não pode ser. Se ninguém me gaba que é que estou eu aqui a fazer, que não me digo " gaba-te cesto..."
Será que o meu desconhecido busca em mim algo que lhe falta? Se assim é, azar, que eu não tenho nada para lhe oferecer que não me faça falta.
Às vezes, até parece que sou eu. Juro que penso, assim em momentos de confusão psíquica que pode ser a outra parte de mim a ordenar à operadora que diariamente me ligue na ilusão de que haja alguém, não importa quem, num algures qualquer manhoso, que me diga " Hello, estou cá, nunca te esqueças de mim ". Isto parece insólito mas eu já vi de tudo. Faz lembrar uma ex-colega que queria tanto que acreditássemos que tinha um admirador, que volta e meia comprava um ramo de flores e a florista ia ao seu local de trabalho entregá-lo com cartãozinho do inventado admirador. Sinistro não é? Ardiloso. Que meeeeeedo!
Mas pronto. Não é nada disto. Eu tenho um admirador assim como quem tem cócegas. Que me faz rir...
Não o respeito nem o levo a sério. Nem me importo. Sei lá! Talvez porque já tive outro desconhecido antes que me fez temer pela minha segurança. Curei-me a bem dizer. Com a crise não me apetece comprar outro telemóvel e assim como assim sempre posso dizer que todos os dias recebo um telefonema...e dar por bem empregue a necessidade que existe, de todos termos um telemóvel.

1 comentário:

anónimo disse...

Vê se descobres quem é que eu ajusto as contas partindo-lhe o f......,certo?