terça-feira, 27 de abril de 2010

Haverá Coincidências?


Queria perceber melhor o que me acontece. Queria poder assumir as minhas bruxarias de vidas passadas ( alguém me disse um dia que eu fui bruxa ).
Vivo numa zona muito bonita do país. O Ribatejo é bonito e todas as terras junto ao rio Tejo têm uma cor dourada e um cheiro a estevas e outras flores de campo que nos embriaga.
Anos e anos percorri este pequeno paraíso sem lhe dar qualquer valor, sempre com um pé em África e o meu coração em Luanda, guardando espaço nele, apenas para culpar este país da minha vinda. Sempre de costas voltadas para o que era o presente.
Namorei junto ao rio Tejo e também ao Zêzere. Visitei o castelo de Almourol que fica no meio do rio, em frente a Constância, algumas vezes. Uma aldeia bonita que se chama Arrepiado e que fica da outra margem do rio. Tancos, com o ancoradouro, Vila Nova da Barquinha. Passeei domingos de Primavera com as minhas crias, por todos estes recantos e o meu olhar nada contemplou com o encantamento que eu sei que sabe contemplar.
Há uns anos deixei de fazer esses passeios, deixei de ter domingos no Ribatejo e o meu Tejo passou a ser outro. O que desagua no mar.
No fim de semana voltei ao passado sem mágoa. Através duma canção do Pedro Barroso, revi o seu músico, Carlos Dâmaso. Lembrei esse tempo bonito das cantigas, dos festivais, dos espetáculos de dança, dos concertos, das exposições, das peças de teatro, das declamações de poesia, dos lançamentos de livros... Da união que parecia eterna.
Tive saudades do Dâmaso mais do que desse tempo, mas não doeu recordar para além de um simples músico amigo. Este homem bom, era só uma peça do jogo que muitos jogàmos num período das nossas vidas.
Está calor em Torres Novas. Quando o país está a arder, o distrito de Santarém é um inferno. Os termómetros marcaram 30 graus. A noite está boa. A convidar ao passeio. A comer fora.
Eu e os meus amigos fomos às pizzas. Depois alguém se lembrou que podiamos ir beber café a uma esplanada junto ao rio, na Barquinha, em Tancos ou no Almourol.
Gostei da idéia. Cheira a mato, a campo. A estevas e a luar. Cheira a Primavera quase a beijar o Verão. A lua espelha a luz nas águas temperadas do Tejo e os sentidos estão mais despertos. Chama-se o tempo das férias. Sonha-se com elas e já somos felizes, que até a minha temperatura baixa e olho para o lado perguntando, quando é que elas chegam, esquecendo este estado febril e meio adoentado em que me encontro.
Não conseguimos beber café por nenhuma das terras por onde passamos. Às 10 horas está já tudo fechado porque ainda não é verão nem fim de semana.
E onde acabamos nós? Em Constância. Ninguém lera o post recordando o meu amigo Dâmaso nem sobre a saudade que a música me provocou ao vê-lo ali tocando.
E subitamente, na rua do seu restaurante, eis que o vejo ao fim de alguns anos. O universo é perfeito e apanha tudo o que é importante, se encarregando de lançar fora e para longe o que não nos é benéfico. Ou será que eu sou mesmo bruxa e sábado já " sabia " que hoje voltaria a ver uma terra de que gosto tanto como o é Constância e uma pessoa da qual tive saudades? Se calhar nunca o saberei, mas gosto de fazer parte destas coisas que não têm explicação e por isso explicadas estão.

3 comentários:

Bolinha disse...

Olá Clarita!
Estive ausente uns dias, mas assim que posso dou uma espreitadela, e a verdade é que gosto de te ler. Quanta mágoa se adivinha, mas também uma força enorme para dar a volta por cima. È assim mesmo!
Parece-me que ainda não estás totalmente recomposta da tua gripe, por isso aproveito para desejar-te as melhoras. Um beijinho

Anónimo disse...

Que noite... Perfeita!

Anónimo disse...

Foi por acaso que aqui cheguei.
Eu vim de longe de muito longe o que passei p'raqui chegar---José Mário Branco---
Clara recorda-me dos teus "sinais".
Sou o Dâmaso e ---gostava de te ver aqui---Paulo de Carvalho.
Abreijos grandes
Carlos Dâmaso