É domingo mas nem por isso me mantenho na cama mais tempo. O braço doi-me. O despertador toca. Esquecimento meu.
Nem o prazer que sinto no edredão de penas, oferta de Natal, de quem me quer bem, quentinha e confortável, me convence.
Conheço os ruídos rotineiros de um domingo, nas casas abaixo de mim, ao lado, na rua. E os cheiros. São muitos anos.
Este é o lugar onde me sinto mais protegida. Trato por tu tudo o que vejo e não vejo mas sei onde está. Cada coisa no seu lugar. Com linguagem própria.
Tudo me fala. Ou se cala. Tudo se ri ou chora assim esteja eu em maré de amar ou de entristecer. De me alegrar ou me revoltar. De odiar ou simplesmente de me permanecer num, ao deus dará, um pouco sonâmbula, um pouco sonhadora, um pouco criança, um pouco velhinha. Um pouco eu e a outra de mim num todo que nem sempre me reconheço.
É domingo e este espaço foi um lar durante quase uma semana.
O sol entra-me pela janela. Toca-me ao de leve.
Se este fosse um espaço isolado do mundo seria o melhor do mundo. O lugar mais seguro. Aquele onde o amor parte e volta sempre. A minha âncora. A minha certeza de poder deitar a cabeça e descansar.
A minha certeza de que aqui não estou sozinha.
O meu lar está no fim. Amanhã será mais uma casa, como tantas outras.
Talvez melhor que outras, porque ficará a memória de ter sido muito feliz durante uma semana, desde que há cinco anos deixou de ser um lar para se tranformar numa casa fantasma onde eu fui assinando o ponto para ser dada como presente e não ser despejada de mim própria.
Talvez melhor que outras, porque ao longo deste ano com o culminar no Natal, e dentro do espírito que a quadra quase exige, recuperei a lucidez e a saudade que me dominava. A vontade de olhar, sorrir e partilhar um ninho com as melhores pessoas do mundo no melhor lugar do mundo.
O lugar onde sou tudo e nada. Tenho tudo e nada. Amo tudo e tudo.
É quando tenho as minhas pessoas em casa que recupero o lar...
1 comentário:
Olá. Não sei se é da idade ou não, mas agora quando passo dias no Marco ou quando estou na Figueira com os meus Pais, sinto falta desta casa, que me acolhe todos os dias. Não há nada como a nossa casa, os espaços aos quais estamos habituados. beijos e as melhoras do braço. Um abraço
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