sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

chove chuva em mim



A chuva me atacou ferozmente logo pela manhã. Foi-se a mim como se não houvesse amanhã. Perdendo a compostura. Me fazendo perder o norte. 
Agora que caiu a noite percebo que o que ela queria era dar nas vistas. 
Tem chuva assim, que não nos deixa escapar por entre os pingos. 
Afinal, vale mais uma boa carga de água ansiada, consentida e sentida, do que rezar para a " Santa Bárbara bendita que no céu está inscrita e na terra assinalada ", metendo a cabeça debaixo do edredon com medo dos relâmpagos, dos trovões, de Deus a ralhar...sabe-se lá porquê!
A coisa certa é mesmo aceitar. 
Hoje, a chuva me molhou a pele, o corpo e não chegou à alma me machucando porque eu ao invés de rezar padres nossos tortos, fazer aviões com os dedos, insultar o imbecil que passou na poça d' água com a roda, no momento em que eu ia a passar a pé, sorri para ela, lhe disse ao ouvido que não valia a pena, não me iria zangar. 
Em memória das grandes chuvadas no tempo do liceu, fazendo como hoje quilómetros até me resguardar, no caso , chegar a porto seguro, desprezando chapéu de chuva, capa de plástico e galochas. Em memória dessa idade, dessa terra, dessa leveza. Dessa alegria...
A propósito, estão na moda as galochas e quem segue cegamente o que a moda dita já tem nas sapateiras, dúzias delas, às cores, das melhores marcas, com pesos medonhos, sim porque pesam toneladas, ( ou sou eu que já não posso com as canetas e vou-me abaixo delas ) e anda a rezar a santa Bárbara e a todos os outros santinhos, que chova. A cântaros. A potes, ( com toda a cerâmica que exista ) , canivetes e mais a todo o vapor e que deus a dê. Sim porque metem Deus nisto. Como se Ele apreciasse galochas, alguma vez as calçasse e provocasse as nuvens, as fizesse chorar histericamente só para terem uso, mostrarem-se na banga e competirem levianamente. Como se Ele fosse cúmplice das vaidades.
Hoje a chuva me molhou até ao tutano. Sequei no corpo essa chuva doida de me molhar por nada, d' abuso, mesmo na hora de sair de casa. Me desrespeitando. Me deixando a vontade de recuar no dia. Mas em nome daquele tempo que brincava nela, dançava nela, namorava nela, segui em frente. 
A noite caiu. A chuva continua caindo. Num tempo chuva molha tolos n' outro tempo com mais personalidade. 
Tenho frio. Arrepio. Não sei se de memória se do toque da noite que me anoitece nesta sexta-feira chuvosa e agreste.
Como dizia o meu pai, pode chover à vontade que não é geral. 
Hoje já tive a minha dose.
Olho o tecto da sala. Só que não chovam gafanhotos...

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