Diz que de Espanha nem bom vento nem bom casamento.
Lérias! Digo eu. Pois que estas coisas podem ter algum fundo de verdade , mas não devemos pôr um pueblo a amargá-las todas juntas. Algum ou alguma se deu mal e pagou o justo pelo pecador, para sempre crucificado colectivamente. Em forma de ditos e mexericos.
À velocidade que os divórcios acontecem aqui nesta ervilha, pois que dizem que é o pais da Europa onde há mais divórcios, eta povo este descontente com as rotinas familiares, de casal, afectivas e sexuais! cai por terra a ideia de que os culpados são os espanhóis. Este povo tuga gosta mesmo duma caldeirada, duma espanholada, duma tourada, que a gente não anda a dormir na forma e sabe, é mais por aí que o gato vai às filhós mas também é próprio atirar com as culpas para trás das costas ou ali mais para a fronteira. Há até uns que nunca passaram a dita, nem sequer chegaram a Elvas, comem os caramelos cá deste lado, não gostam de tapas, não lhes faz falta a siesta nem castanholas para dançarem flamenco e nunca estiveram perto duma paella.
Enfim! Pano para mangas...de alpaca, dava este assunto.
Eu cá, não me esqueço que sou de origem espanhola, pelo lado da minha bisavó paterna. Que dizem, era dançarina.
Pode não se notar mas existe salero para dar e vender na minha família. Nem preciso de ir mais longe. Sô Santos, meu pai, era um homem encantador. Alto, magro, tez morena, olhos escuros, brilhantes e marotos, rosto bonito e expressivo, cabelos negros e ondulados, de humor fácil e piropo na ponta da língua, de conversa fiada e dando música até vir a mulher da fava rica, cantador e poeta de quadras populares cantadas à desgarrada, bailador quanto bastasse e ainda gostava de fazer um bom teatro de pôr a chorar as pedras da calçada. Verdadeiro macho latino botando charme para tudo quanto vestisse saias até que deu de frente com uma menina linda, tímida e ingénua que o prendeu pelo beicinho para todo o sempre e até que a morte os separou.
Aqui está o sangue quente e espanhol nas veias fervilhando.
Bom, mas não querendo dispersar-me, volto atrás, não para me repetir, à semelhança dos desconfiados, dizendo que de Espanha nem bom vento nem bom casamento, isto porque mesmo que seja verdade não há perigo para os meus lados já que o vento é o ar em movimento, dizem, e é um ar que se lhe dá porque não tenho vontade de correr à frente ou atrás do vento, seja do sul, do norte, do este ou oeste e muito menos de casamentos, pois que fujo a sete pés deles, venham os mais pintados, espanhóis ou não.
Volto atrás para dizer que o que eu queria mesmo era passar-me para Espanha nos dias próximos. Lá é que a festa vai começar. Mas afinal não tendo nunca tido aulas de hipismo, isso é para os gaspares da vida, porque queria eu montar na garupa e passear-me por terras de nuestros hermanos? Não adivinham? Primeiro, para resgatar um presente de Natal que anda perdido por terras da península ibérica entre aeroportos e porões, não se sabendo quais e depois porque o que eu queria era celebrar os Reis. Podia até apanhar boleia dos ditos. Qualquer servia menos o Gaspar. Não sei mas não me apetecia ir a cavalo com este Rei Mago do Oriente. É que este ano não só recebi menos presentes de natal como recebi coices com fartura de uns e outros das finanças, que me puseram de monco caído como o peru na consoada. E a esperança de presentes adiados do lado de lá da fronteira, motiva-me . O que eu queria mesmo era a tradição do dia dos Reis a ver se me dava algum alento e trazia a surpresa que o Pai Natal de pirraça ou incapacidade não foi capaz de trazer.
Rei é rei e quem sabe me faria reinar em reino por mim ambicionado.Uma vez que sou meio espanhola até que era justo receber presentes cá e num pueblo qualquer, daqui por mais uns diazitos.
Acho já merecia. Sim? Sim. Todos merecemos, parece que estou a ouvi-los. Tenho a dizer que cada um sabe de si e Deus e os quadrilheiros sabem de todos.
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