Não há dúvida de que, se quiser, há
sempre pano para mangas nas minhas andanças pela vida, que parecendo pacata,
quer dizer, é pacata, vai tendo alguns altos e baixos, para quebrar a
monotonia, a seca que por vezes são os dias de semana.
Há tardes que não vou logo para casa. Fico no alto da cidade. Contrariada a maior parte das vezes. Porquê? Porque tenho dias que apenas queria ver o caminho de casa. Mesmo não estando lá gente. Acho que até por isso, na verdade. É. Como as coisas são. Mas são.
Dar à chave, ver dona Pitanga aparecer feliz e ansiosa por afiar as unhas no tapete da entrada. Esperar pacientemente que o faça. Agarrar nela depois e levá-la até ao pratinho da comida, húmida, claro está. Pois que este acepipe come-o duma assentada e depois passa o resto do dia a comida seca para não ser gulosa. Espera ansiosa que eu a sirva pela posta do meio, como diz a minha amiga Manuela, e devo ser o sol, a lua, as estrelas e deus quando me vê chegar.
Há tardes, que quando chego a casa, eu própria tal como a Pitanguinha que passa o dia pitangando como quer e lhe apetece, e não é o meu caso, vejo o sol, a lua, as estrelas e deus na minha rica casinha. Na minha confessa liberdade que encontro dentro de quatro paredes.
Mas, dizia eu, que se quiser tenho pano para mangas nas minhas andanças pela vida, e é verdade.
Ontem fiquei na zona alta. Para além de precisar da farmácia, odeio deixar dinheiro na farmácia, afinal, hoje em dia, odeio gastar dinheiro, também precisava de ir ao Modelo. Se chego por volta das 5 e meia, tenho tempo para apanhar o TUT das 6. Se me atraso, estou feita e como não tenho pachorra para esperar, faço o percurso a pé o que não sendo por apetites se torna doloroso pois que moro longe, o calor aperta e as compras pesam. Tudo fiz em meia hora o que foi um verdadeiro achado. Feliz e contente dirigi-me para a paragem do TUT. A dona Stela que já não via há muitas luas fez-me uma grande festa. Esta senhora foi uma sofredora a vida toda. O filho matou-se na prisão. Gostava do filho dela. Gosto dela. E a tragédia que atingiu essa família tocou-me. A droga é lixada. É uma puta que vicia gente sensível e boa. E destrói tudo. A dona Stela é uma bordadeira de mão cheia e durante os anos do infantário no João de Deus foi ela quem bordou o monograma dos bibes da minha cria mais velha. Depois disso quase não a vi. Já passaram décadas desde então. Gostei de a ver.
Comi o croquete que comprei no hipermercado. Abri o sumo de maçã e cenoura fresquinho e bebi um pouco. Chegou o TUT. Abri o porta-moedas e verifiquei que não tinha moedas. Apenas uma nota de 20 euros. Acenei-a ao motorista. Já no interior do autocarro. Este disse-me que não tinha troco.
- E agora? Como vai ser?
- Entre. E para a próxima paga-me.
Fiquei incrédula. Acrescentei: E se não for o senhor? Na próxima vez entrego o dinheiro ao seu colega?
- Não, não. Quando voltar a viajar comigo paga.
Como quem diz: esqueça. É que foi mesmo assim que eu entendi.
Fui toda a viagem a pensar no assunto. E que só em terras pequenas isto pode acontecer, acho. Perguntei-me se em Lisboa, no 36, Cais do Sodré/Olival Basto seria possível. E…acho que sim.
Nunca me aconteceu uma coisa destas mas já aconteceu andar no elétrico desde Belém até Alcântara de borla por não ter moedas para colocar na maquineta. Sei que fui apoiada por uma certa pessoa que vigilante ia dando as coordenadas necessárias para que perante uma dificuldade saísse na paragem seguinte ou ficasse de sobreaviso, mas confesso, não quero repetir a façanha. Não é p’ra mim. Ainda há algo que eu não perdi. Vergonha. E se fosse apanhada morreria de vergonha mesmo. Não fui. Correu tudo bem e ontem não foi este o caso mas esta história ocorreu-me de imediato. Viajar sem pagar…eis a questão.
Agradeci ao senhor motorista quando saí do autocarro. Ele não estava nem ali. Não deu a importância que eu dei.
Quando ia a iniciar a minha marcha, bati com os olhos numa montra em frente à paragem que dizia – Morango & Pitanga.
Mais uma loja em torres novas. Uma frutaria pelo que me foi dado observar. Achei curioso o nome. Uma chará da minha Pitanga. Um fruta boa que eu sei lá, da minha terra. Alguém que conhece e gosta. Ou simplesmente marketing.
Cheguei a casa. Como sempre a Pitanguinha a receber-me. A esticar as patinhas da frente. A miar, num jeito que parece que me quer saudar. Estouem casa. Finalmente. Não
me sabia tão caseira.
Os tempos mudam. E as vontades também. Melhor assim. Será?
Não sei. Mas também não me ralo. Haja andamento e peripécias a mudarem o rame-rame em que vivo. E haja alegria. Não sei, mas arrecadei ontem 1 euro e tal, por isso, siga a marinha…
Há tardes que não vou logo para casa. Fico no alto da cidade. Contrariada a maior parte das vezes. Porquê? Porque tenho dias que apenas queria ver o caminho de casa. Mesmo não estando lá gente. Acho que até por isso, na verdade. É. Como as coisas são. Mas são.
Dar à chave, ver dona Pitanga aparecer feliz e ansiosa por afiar as unhas no tapete da entrada. Esperar pacientemente que o faça. Agarrar nela depois e levá-la até ao pratinho da comida, húmida, claro está. Pois que este acepipe come-o duma assentada e depois passa o resto do dia a comida seca para não ser gulosa. Espera ansiosa que eu a sirva pela posta do meio, como diz a minha amiga Manuela, e devo ser o sol, a lua, as estrelas e deus quando me vê chegar.
Há tardes, que quando chego a casa, eu própria tal como a Pitanguinha que passa o dia pitangando como quer e lhe apetece, e não é o meu caso, vejo o sol, a lua, as estrelas e deus na minha rica casinha. Na minha confessa liberdade que encontro dentro de quatro paredes.
Mas, dizia eu, que se quiser tenho pano para mangas nas minhas andanças pela vida, e é verdade.
Ontem fiquei na zona alta. Para além de precisar da farmácia, odeio deixar dinheiro na farmácia, afinal, hoje em dia, odeio gastar dinheiro, também precisava de ir ao Modelo. Se chego por volta das 5 e meia, tenho tempo para apanhar o TUT das 6. Se me atraso, estou feita e como não tenho pachorra para esperar, faço o percurso a pé o que não sendo por apetites se torna doloroso pois que moro longe, o calor aperta e as compras pesam. Tudo fiz em meia hora o que foi um verdadeiro achado. Feliz e contente dirigi-me para a paragem do TUT. A dona Stela que já não via há muitas luas fez-me uma grande festa. Esta senhora foi uma sofredora a vida toda. O filho matou-se na prisão. Gostava do filho dela. Gosto dela. E a tragédia que atingiu essa família tocou-me. A droga é lixada. É uma puta que vicia gente sensível e boa. E destrói tudo. A dona Stela é uma bordadeira de mão cheia e durante os anos do infantário no João de Deus foi ela quem bordou o monograma dos bibes da minha cria mais velha. Depois disso quase não a vi. Já passaram décadas desde então. Gostei de a ver.
Comi o croquete que comprei no hipermercado. Abri o sumo de maçã e cenoura fresquinho e bebi um pouco. Chegou o TUT. Abri o porta-moedas e verifiquei que não tinha moedas. Apenas uma nota de 20 euros. Acenei-a ao motorista. Já no interior do autocarro. Este disse-me que não tinha troco.
- E agora? Como vai ser?
- Entre. E para a próxima paga-me.
Fiquei incrédula. Acrescentei: E se não for o senhor? Na próxima vez entrego o dinheiro ao seu colega?
- Não, não. Quando voltar a viajar comigo paga.
Como quem diz: esqueça. É que foi mesmo assim que eu entendi.
Fui toda a viagem a pensar no assunto. E que só em terras pequenas isto pode acontecer, acho. Perguntei-me se em Lisboa, no 36, Cais do Sodré/Olival Basto seria possível. E…acho que sim.
Nunca me aconteceu uma coisa destas mas já aconteceu andar no elétrico desde Belém até Alcântara de borla por não ter moedas para colocar na maquineta. Sei que fui apoiada por uma certa pessoa que vigilante ia dando as coordenadas necessárias para que perante uma dificuldade saísse na paragem seguinte ou ficasse de sobreaviso, mas confesso, não quero repetir a façanha. Não é p’ra mim. Ainda há algo que eu não perdi. Vergonha. E se fosse apanhada morreria de vergonha mesmo. Não fui. Correu tudo bem e ontem não foi este o caso mas esta história ocorreu-me de imediato. Viajar sem pagar…eis a questão.
Agradeci ao senhor motorista quando saí do autocarro. Ele não estava nem ali. Não deu a importância que eu dei.
Quando ia a iniciar a minha marcha, bati com os olhos numa montra em frente à paragem que dizia – Morango & Pitanga.
Mais uma loja em torres novas. Uma frutaria pelo que me foi dado observar. Achei curioso o nome. Uma chará da minha Pitanga. Um fruta boa que eu sei lá, da minha terra. Alguém que conhece e gosta. Ou simplesmente marketing.
Cheguei a casa. Como sempre a Pitanguinha a receber-me. A esticar as patinhas da frente. A miar, num jeito que parece que me quer saudar. Estou
Os tempos mudam. E as vontades também. Melhor assim. Será?
Não sei. Mas também não me ralo. Haja andamento e peripécias a mudarem o rame-rame em que vivo. E haja alegria. Não sei, mas arrecadei ontem 1 euro e tal, por isso, siga a marinha…
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