segunda-feira, 16 de abril de 2012

eu e dona Pitanga

foto tukayana.blogspot
Dona Pitanga quebrou o azedume.
Ontem, não comeu nada do que lhe pûs. Cada lata custa 1,09€ e eu não lhe aturo madurezas. Não quer comer, não come. Descartada que foi a hipótese de estar doente. Prendeu o burro vai ter de o soltar.
Já eu, não descartei para mim essa realidade,  estou aqui estou na cama tapada até às orelhas, pois que tenho uma dor de cabeça que se me ferrou na hora do almoço e nunca mais me largou. A caçula perguntou: Já tomaste alguma coisa? Eu não, disse-lhe. Nem tenho nada para tomar. E não tenho mesmo porque nunca me lembro que existem medicamentos para isto e para aquilo. Diz-me: É porque nunca tiveste daquelas dores de cabeça que... e eu já lhe ouvi tantas vezes isto que sei de cor e salteado o argumento e só me dá para rir.
Pois. Cada um com as suas dores, que  cada um sabe de si e Deus sabe de todos e sabe com certeza que estou que nem posso por uma gata pelo rabo. 
Será quebranto? Não deve ser. Que tenho eu que provoque inveja? Bem sei que os invejosos até nos invejam as maleitas. 
Em suma, estou com sintomas. Doi-me a testa, os olhos e até a cana do nariz. Estou de pingo no nariz, o estômago e a barriga às voltas e doi-me os ossinhos todos o que não me parece nada bem, que eu não tenho paciência para este estado de desgraça, porque se  estou deste jeito vitimizo-me e quero  atenção, companhia e mimos. E não há como ter tudo isso. Ó meu jesus, não me lembro já de ter estado nesses despropósitos e de quem me aparasse o jogo. Só mesmo dona Celeste e  Sô Santos me davam colo. Agora que penso bem nisso, só mesmo eles. E foi há tanto tempo!
Sô Santos uma vez até chorou por estar doente, tinha eu 15 anos e ninguém sabia o que tinha, mas que tinha, tinha. E até confessou ao amigo dele Sr. Setas, um negro de quase dois metros, são tomense, que trabalhava na Fazenda Nacional lá na Mutamba e usava balalaica, sapato preto e branco e chapéu na cabeça. Quase tão feio como o caboverdiano Bana e de uma delicadeza e educação que me deslumbrava. Menina Clarita o que é que tem que está tão magrinha? O pai anda muito triste. Um dia destes até chorou aqui ao pé de mim.  Não sei o que a minha Clara tem. Anda doente e não melhora. 
E eu que achava que o pai nem sequer dava pelas minhas kamuekas, afinal andava de olho em mim e não só pagava as consultas e os medicamentos como andava muito apreensivo e assustado. Coitadito do sô Santos! Só lhe dei valor quando as crias passaram a existir na minha existência. 
Não posso ficar doente. Nem tenho mimos...nem tenho mimos. 
Apeteceu-me fazer leite com café bem escuro e  pão de sementes com manteiga e molhar o pão no leite. Quando me apetece leite com café e pão com manteiga ou estou carente, ou estou grávida ou estou doente. Descarto a gravidez evidentemente e por vários motivos e sobram-me motivos válidos. Carência e doença.
Talvez por isso a Pitanga, Pitanguinha, achou por bem vir ao mimo e dar miminho. Que até me comoveu.
Não sei porque sinto saudade dela quando estou fora, mesmo que por dois dias. Não sei porque me ponho a pensar que está sem luz, sem a minha voz, sem televisão, sem o meu colo. Onde é que isto me vai levar?
Sei que esta gatinha é uma princesa e deve saber disso. Amua, não come,mas depressa lhe passa.
Hoje, veio comer à minha mão. Subiu para o meu colo e até me lambeu as mãos e fez festas com a patinha.
Dona Pitanga é uma companheirona que não é  descartável. 
Agora, sei que me seguirá até ao quarto. Até à cama e rapará com a sua patinha o edredon para se instalar ao meu lado. Quanto a mim, estou que nem posso mas estaria muito pior se ela não estivesse ao  meu lado.
Pitanga, Pitanguinha, Pitangando...Nem vontade para cantar  e rimar tenho...

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