quarta-feira, 27 de julho de 2011

insólito, ou não

O insólito aconteceu.
Já não é a primeira vez. Que o motorista não sabe o percurso. Não estou a inventar nada. Hoje aconteceu algo caricato. Se fosse muito má língua diria que só neste país, mas não, que nos outros acontecem estas e outras também.
Um dia, de Alcanena para Torres Novas, a Bélita ( a marreta do lugar da frente ), assumiu os comandos e num dos seus papéis preferidos, de guia, generala e crítica, indicou todas as paragens ao pobre de cristo que ali caíra sem saber ler nem escrever, nem sequer conhecer o mapa rodoviário, se é que isso existe. A bem da verdade, porque confiamos, acreditámos que era motorista da rodoviária, mas só porque somos boas pessoas. Porque convenhamos, motorista que é motorista não tem de saber antes todas as voltinhas que a sua viatura dá, inclusive as paragens, até ao seu destino? Tem. Mas este não sabia. E por isso na rotunda do Limão Verde, pastelaria da saudosa D. Maria José, mãe da Margarida e do Nuno, onde ia diariamente e onde voltei a ir com alguma frequência, ( tem umas empadas de galinha, fabulosas ) o senhor motorista que me havia estranhado quando lhe mostrei o cartão, num gesto facial assim como que a dizer se fosse da minha terra: Xeeeé, esse cartão aí quer dizer mesmo o quê? olha só a banga!!! Essa chipala não é você, pxxxxxxxt, pópilas, agora tás kota, madiê!, mas como estava a dizer, claro que o sr. motorista não teria a petulância de me observar algo semelhante mas que achou meio esquisito, achou, pois a foto de passe tem à vontadinha 15 anos menos, 15 rugas menos, 15 quilos menos, e quando me vi às voltas à rotunda como se estivesse na feira no poço da morte ( nunca andei ), ou nos aviões ( aí sim ), pensei para com os
meus botões: este gajo é parvo! querem lá ver que o batido me vai azedar o estômago? Pois o senhor motorista achou concerteza que enquanto andava às voltinhas do malhão, ganharia tempo para que alguém, uma Bélita da vida, o orientasse. E claro que a nossa estimada e cusca Bélita imediatamente, à semelhança de outros carnavais passados e os que ainda hão-de passar, porque uma vez assim, para sempre assim, com a voz aguda e irritante, mais uma vez, como da outra, há muito tempo atrás, tomou as rédeas e a partir dali e até sair de torres novas, nunca mais se calou. Ah grande Bélita! Ganhou! Agora percebo porque ocupa o lugar da frente, sempre, faça sol ou faça chuva. O sonho da Bélita será ser motorista da rodoviária. Bem sei que aos fins de semana se senta nesse lugar da frente, no seu papel muito assumido de guia encartada mas não doutorada. " Não tenho o curso mas tomara muitas dôtoras terem a minha competência " A Bélita é guia nas excursões de trazer por casa, como por exemplo, para o Algarve, descida do Douro, ao Minho, a Gibraltar e outros destinos em grupo, e fala do seu trabalho com tanta importância que nos olhares trocados na camioneta, adivinho alguma censura e quem sabe até alguma invejazita dela por não circularem estradas fora, por não se divertirem e não ganharem uns cobres mais, o que é sempre bom para engrossar o ordenado magro que devem ganhar nas fábricas agonizantes que alcanena e arredores ainda têm.
A Bélita não me parece importar-se com o que pensam dela, ela é, o que se pode dizer, mais ela, e cusca e autoritária como é, não me admirava que fosse mais competente como guia, que algumas dôtoras que por aí existem.

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