sábado, 30 de julho de 2011

começando o dia

Hão-de chegar melhores dias. Tenho fé, pois a esperança é a última a perder-se, quando não está já perdida, o que não é o caso. Apesar das desconfianças, sou muito confiada.
Hoje é um novo dia. E é sábado. Mas como o perú eu ando nisto de véspera e tenho ainda o dia de hoje para exorcisar aquela viagem dolorosa, a pior da minha vida. Às quatro menos vinte da manhã, lá partimos num avião suíço a caminho de Acra no Gana. Éramos refugiados viajando na ponte aérea. Depois do pára, arranca que foi essa viagem, à hora de almoço chegava a Lisboa. Uma cidade completamente desconhecida. Só a 1 de Agosto chegámos a Trás-os-montes. Uma viagem de três dias nessa conta que deus fez e nunca percebi porquê, mas às duas por três, é mesmo por causa destas e de outras. Há 36 anos, quem saisse de Luanda com destino a Trás-os-Montes só ao terceiro dia chegava. Não ressuscitava, antes pelo contrário chegava mais morto que vivo.
E foi assim a minha morte lenta. Dolorosamente sentida, devagar devagarinho.
Esta noite, dormi mal. A cabeça a funcionar e o coração aos pulos. Como há 36 anos, alguém de meu, viajou a noite toda. E eu viajei no porão, olhando as horas à espera de uma mensagem. Nunca mais me passa. Nunca me passará. Estou muito melhor, o coração habitua-se porque o cérebro, um tirano, dá-lhe ordens e mais ordens, mas sei que nunca me passará. A Pitanga raspou o lençol com a pata. Com o calor que está, como é que esta gata se quer meter debaixo dos lençóis? Frescuras de gata mimada. Sem sono, liguei a televisão. O bando dos quatro, que eu gosto de ver, estava a começar. Uma aventura para os miúdos que já não acham piada aos desenhos animados. Porque será que gosto destes filmes? No meu tempo era só a Marisol e o Joselito. Não admira que a oferta hoje seja atractiva e estimule o que me faltou quando tinha 8, 10 anos. A Pitanga também gosta. Instala-se na minha barriga, olhando encantada para a televisão. Há gatos com sorte.
É sábado. Estou em paz. Está quase tudo nos seus lugares. Não fosse lembrar-me que foram horas e horas de avião a caminho de um destino que me pregou partidas e sustos nas esquinas dessa vida que eu não escolhi e seria um sábado perfeito. Na província. Apetece-me dizer assim na boa sem cuidado algum com a linguagem. Sem pensar que isto não é um diário...Yá! No Ribatejo. Nesta parvalheira.
Não. Não vou para a capital. A minha gente não está. O meu porto de abrigo hoje é um lugar que eu nem sempre gosto. Que repudio muitas vezes. Mas que é o possível dadas as circunstâncias. Não é segunda escolha. É a escolha. O campo. A casa. O mano Zé e a caçula. Afinal, a minha praia. A minha gente.
E agora vou bazar. Parece que não, que estou aqui cheinha de boa vida, mas não é verdade. Programei um dia muito intenso. Se o vou cumprir não sei, nem é importante, mas tenho imensas coisas para fazer. Logo se verá. Digerir o meu tédio, ansiedade e escolha já me dá muito que fazer.
Bom sábado para todos.

1 comentário:

maria disse...

Estavas a refilar ou é impressão minha?
A descansar, não era pra estares mais animadinha, não?
eheheheheheheh!!!!!!!