quinta-feira, 7 de julho de 2011

à lupa

Não usei óculos desde sempre. Houve um tempo, no liceu, que quase todas as colegas os usavam. De massa, pretos. Algumas, poucas, castanhos, naquela de serem estilosas.
Nessa altura também queria. Para a banga. Para o ar de intelectual. Que, ou se nasce...ou se nasce. Por isso mandaram-me crescer e ter juízo e foi o que fiz. Cresci. Mas aos 18 anos fiz uma visitinha ao oftalmologista no hospital maria pia. Consulta arranjada pelo Hêrnani, caboverdiano amigo de casa, da D. Arminda, que era admnistrativo nesse hospital. Só ali havia os aparelhos necessários à descoberta do meu mal. Insuficiência de convergência. Achei pomposo o palavrão. Não era um problema qualquer. Era um músculo preguiçoso que trabalhando mais lentamente que o normal provocava uma insuficiência de convergência nos olhos. Isto é, estive a uma unha negra de ficar com os olhos a olhar para os cantos de fora. Muito tratamento, exercícios nas máquinas que o hospital possuía, em casa, lendo com um olho tapado, fazendo aproximar o dedo indicador dos olhos mas tentando sempre ver apenas um, o que é quase impossível e na verdade, melhorei. Não fiquei com os olhos tortos, porém havia quem dissesse que quando fico em fúria ou em pânico, os olhitos, coitaditos, têem uma certa tendência a assustar-se e parece que dão um ar da sua graça. Nunca vi pois não me enfureço nem me amedronto ao espelho ( por enquanto ). Aos 38 anos, portanto, 28 anos depois, voltei a visitar o doutor dos olhos, porque em férias, esticada nas areias da praia, lendo, percebi que tinha que puxar para longe a leitura, se queria ficar informada. Sina lida. Óculos para ver ao perto. E assim foi. Esse tira-pôe, tira-pôe é irritante e eu andava farta disso. Há cerca de 10 anos, numa visita mais demorada, o senhor achou por bem pôr-me a lentes progressivas a tempo inteiro. Não me valeu nada espernear. Nem dizer que não concordava porque ainda via ao longe. Assim como assim, eu já deixara de cumprimentar gente que conhecia por não perceber quem eram e outras situações constrangedoras que se sucediam a toda a hora. E pronto, resignei-me, embora muito contrariada, numa de voluntária à força. Assim que coloquei os ditos óculos maravilha, fiz uma descoberta tão ridícula, mas tão ridícula, que já serviu para muitas gargalhadas. Descobri que tinha pêlos nos braços, ainda. É que eu achava que os meus braços estavam pelados. E foi uma grata surpresa. Não é por nada, mas porque percebi que a minha incapacidade passaria a ficar sanada graças aos ditos óculos de lentes progressivas. Toda esta conversa fiada para dizer que observei os meus braços à luz do sol e percebi que os seus pêlos estão loiros. Do sol. Ver mal é mau. Dá até sumiço a coisas nossas, de sempre. Mas ter pêlos loiros...Anda aqui uma criatura a apaparicar o sol, a fazer-lhe versos, textos, fotografias, a beber-lhe todos os raiozinhos e ele, traidor, descolora-nos os pêlos. O Sol é um filho da mãe.

1 comentário:

maria disse...

Ahahahahahahah!!!!!! Já sabia essa história de julgares que já não tinhas pêlos nos braços. Uma descoberta quase como a do Vasco da Gama, amiga.
Tens toda a razão do mundo. O sol é um filho da mãe muito grande. A toda a hora nos deparamos com situações complicadas, por isso, protege-te.
Porque és morena, não penses que estás protegida.
Beijinhos e bom fim de semana.
Diverte-te.