quinta-feira, 21 de julho de 2011

aconteceu ontem

foto tukayana.blogspot À minha frente caminha quem me acompanha. Fico para trás. Fico sempre para trás. O que incomoda quem comigo vai. Hoje, tal como noutras ocasiões. Eu sei que isso incomoda mas não evito. Não consigo evitar. Quero sempre registar as imagens de luz que tenho oportunidade de ver. De repente, e surpreendentemente tocam-me no cotovelo que está em posição de fotógrafo no activo. Olho. Era este homem que depois, fiz questão de fotografar, afastando-se. - Querem que vos tire uma fotografia? Com a mão estendida para a minha máquina. Devo ter feito caretas, mas não fui demasiado convincente, pois que não disse não, nesse gesto que toda a gente percebe. O homem riu-se e disse: é costume oferecer-me p'ra tirar fotos aos turistas.
Porque não? Sim. Porque não, aproveitar e registar uma foto de corpo inteiro a dois? Já tínhamos tirado daquelas, tiradas a nós próprios, que parecemos tipo monstrinhos com cabeças e caras imensas, onde somos mais narigudos que o pinóquio, por isso, destas, pensando bem, é um luxo. E daqui por muito tempo ao contemplá-la, um e outro ou os dois diremos : Que simpatia a deste homem que não sabe que já não se usa este oferecimento? Lembras-te das férias calmas e serenas quando fomos ver Lisboa da outra margem, sem o stress de passarmos a ponte 25 de abril? Ih, como tu tinhas o cabelo...Estavas mais gorda. As bolas da t-shirt não te favoreciam. Pôe-te de lado. Rodas a anca e olhas de frente e pareces mais magra. Lembras-te dos caranguejos querendo subir as pedras? E o cão em cima do sofá, olhando lisboa e o rio? Porque razão os armazéns ainda estão ao abandono e a Câmara não transformou a margem num lugar seguro, bonito, útil e da moda? Uma fotografia tirada pelo senhor que passeva, como nós, o que pode sugerir daqui por algum tempo...
E o simpático lá nos tirou a fotografia de corpo inteiro, com o rio e o tejo como cenário. Sorrimos para o fotógrafo. Com aquele sorriso cretino que todos sabemos fazer, na maior felicidade ( que cinismo! ) Não parece, mas fiquei agradecida. Já ninguém se oferece para este efeito. Recordei a última vez que alguém me pediu que fotografasse. Foi em Lausanne, junto ao lago. Foi um asiático. E eu tirei, não uma, mas, two, como me pediu. Num fundo montanhoso e repleto de neve de um abril suiço e quente, com as gaivotas coloridas no lago, dando um toque idílico ao momento. Depois foi a minha vez. E no mesmo local, com a mesma paisagem e o mesmo sorriso pateta. Apenas não tinha os olhos em bico, apesar de estar de visita à cidade pela primeira vez. Mais tarde, no mesmo dia, passeando-me pela marginal belíssima e sofisticada do lago, sozinha, pois que fazia horas para que a minha amiga voltasse do culto, aonde eu me negara a ir por não termos a mesma fé; como é que eu prescindia dos meus santos e seus altares, das minhas preces, dos meus conversares para o alto dos seus pedestais e dos seus sinais?! Eis que duas brasileiras trocando papinho num banco de jardim me inspiraram a novas fotografias e lhes pedi por favor, que era portuguesa, ficava difícil dizer que era angolana, muita explicação e nem sempre querem conhecer, não vá parecer estar a lembrar nas raízes, escravidão, pesada cruz, melhor fingir que não aconteceu. E muito simpáticas me disseram: Uma só? Pô, uma só não. Vamo tirá pelo meno duas, pode não ficar bacana.
E ocorre-me agora uma pergunta ou duas, já que me instalei na memória do Lago em Lausanne, porque será que não o atravessei até às montanhas. Arrependi-me depois. Não devemos deixar de fazer o que desejamos só porque não apetece a quem connosco está, ou já o fez antes. Via os barcos chegarem e partirem. Maravilhosos e sorridentes nos rostos de quem partia e chegava. Perdi isso. Como perdi o passeio no Sena. Tótó, fiquei nas margens tirando fotos belíssimas aos barcos e às pessoas. Aos monumentos. À cidade. Andando de autocarro e sofrendo os horrores de 2 graus num frio de gelar a ponta do nariz e a raiz do cabelo e chorar a bandeiras despregadas numa reacção de defesa ao frio concerteza, de dias de Fevereiro e não fui sequer saber o custo dum passeio no rio Sena!!! Olho para trás e penso-me muito pouco merecedora da cidade luz. E do Lago, quer em Lausanne quer em Geneve, quer entre estas duas cidades, ao longo das vilas e aldeias à beira água. Se tivesse percorrido estas águas teria forçosamente muito mais para contar. Assim, ficaram-me as fotografias. Como ontem. E as histórias em terra.
Mas desta vez, o rio foi um apelo a que não quis ficar indiferente. E afinal, quem não tem 1,90€ para ir a Cacilhas e voltar, e no intervalo, passear e recolher matéria para recordar?!

3 comentários:

maria disse...

Que beleza de textos, Clara.
Adorei.

nuno medon disse...

olá. o senhor foi muito simpático. já não existem muitas pessoas assim . beijos e continuação de muitos e bons passeios.

Maria Clara disse...

Obrigada Maria.
Bjs.


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Obrigada Nuno.
Bjos.