domingo, 10 de abril de 2011

rescaldo


Ainda tenho a expressão da paz no rosto. Quis deixar aqui a serenidade que o dia de ontem me deu, num reencontro com o passado longínquo, cheio de emoções, que acabou nesta coisa boa da certeza de que somos o nosso passado ainda que apenas de memória. Na nossa memória e na de outros. Ao meu lado direito a Mena, e o Quim, irmão da Mena. Ao meu lado esquerdo, o Luís e à minha frente, o Américo. Estes dois, irmãos um do outro. Vivem todos em Portugal. Com Mena e o Quim estou de vez em quando. Ela, a minha amiga de infância vive também no Ribatejo, mais lá para a terra dos touros e toureiros e estivemos juntas no fim do verão, aqui perto do Olival Basto, na casa da outra kamba diami, amiga comum a ambas. Com o Luís e o Américo que afinal, foram colegas do Quim na Indutrial, como o mundo é uma ervilha!!!! estive, talvez há 10 anos num encontro de antigos moradores do Largo Camilo Pessanha, da Vila Alice. O Quim lembrando os meu pais, disse: " O sô Santos! Parece que estou a vê-lo de sandálias. E a tua mãe, tinha mesmo cara de santa ...", como eu sei disso. Ela tinha cara de santa e era uma santa. O meu coração aqueceu docemente a este comentário das memórias do Quim sobre os meus progenitores. Depois foi a vez do Américo dizer que nas férias, ainda eu era bebé, ia ajudar o meu pai na loja. O pai era amigo do meu pai e punha-o lá para não andar por aqui e acolá. E ele e os outros miúdos do largo gostavam de arreliar o meu pai e o meu avó Carvalho fazendo interferências no rádio lá de casa onde os dois gostavam de ouvir a Rádio Brazaville, num tempo em que eu era uma amostrinha de gente, que nem m lembro disso. Era no tempo das mulembas, do peixe frito que o Xico, empregado da loja, fritava e no tempo da ginguba a assar no meio da areia, tudo para ser vendido na loja, que eles e os restantes miúdos do bairro iam cassumbular no quintal lá de casa, apanhando o Xico distraído. No tempo em que os pais se divertiam jogando às cartas, lá em casa, e eles faziam das deles, tudo sempre ali na minha casa que dava directamente para o largo, pelas traseiras. No tempo em que o pai Santos preparava o petisco para os adultos e fazia um lanche para os miúdos oferecendo até refrigerantes para todos, e provocando nestes miúdos feitos homens de 60 anos, hoje, a grata lembrança deste tempo bom da minh família, arracando do Luís um " o teu pai era um excelente ser humano " e ao despedir-se de mim num até beve, um dia destes combinamos e vamos estar juntos, e sei que sim, disse-me: Sabes quem é que vai saber que estive aqui contigo neste almoço tão agradável? O Augusto. Vou telefonar-lhe e dizer que aqui estivemos todos. O Augusto é o único tio que tenho, e que adoro, numa devoção misto admiração, misto assim um sentimento que não se explica, e sente-se muito. Também ele fez parte deste cenário de memórias gratas e por ser mais novo, bem mais novo que o meu pai, era amigo destes miúdos, hoje kotas, que se lembram das suas infâncias povoadas de episódios onde a minha família esteve presente de uma forma intensa. Lembrarem os três homens que me marcaram a vida mais profundamente foi a coisa melhor que me podia ter acontecido ontem no encontro de antigos moradores da Vila Alice. Mas também foi bom rever o meus compadres, vizinhos, outros amigos, e também pessoas com quem não tinha intimidade mas que faziam parte do meu quotidiano. Hoje estou de ressaca do dia de ontem mas ao invés de ter amargos de boca sinto a alma a transbordar.

2 comentários:

Anónimo disse...

As memórias libertam-nos o espírito e, quando compartilhadas, engrandecem-nos.

Fico feliz por si.
GAFM

Maria Clara disse...

Obrigada meu amigo.