sábado, 23 de junho de 2012

é karma, só pode


Ontem foi dia de são carro de praça que era assim que o sô santos e todos os da época dele diziam.Não. Não enriquei de repente. Não. Ainda não foi desta vez que o euromilhões me brindou. Quer dizer, não sei, porque sou boa a jogar mas sou péssima para confirmar suposta e improvável riqueza. Se calhar porque já sou rica em tanta coisa que não ponho grande fé em fortunas feitas de papel do banco de portugal. Se agora quisesse, estas notas, este banco de portugal, tinham pano para mangas, mas não me apetece começar a manhã a desconversar. 
Volto então ao ponto de partida, que foi ontem ao chegar a Sete Rios. Estamos na semana do ordenado e apesar de não ter recebido o subsídio de férias a que tenho direito, não deixo de me sentir feliz  nestes dias mais próximos. Dias que me dão a ilusão de que posso fazer coisas que gosto e mereço. Isto é água de pouca dura, até que as minhas contas maiores estejam pagas, por isso, dura pouquinho. Mas enquanto dura, sou feliz. 
E aí vai disto. Porque cheguei pesada que nem uma burra e a minha hérnia todo o dia de ontem latiu que nem uma cadela raivosa, entendi por bem apanhar um taxi. Há qualquer coisa estranha entre mim e os taxis. Entre mim e os taxistas. Que provoca já comentários entre os amigos, que também se dão conta disso. Jocosos. Maliciosos. A dar para o humilhante. É que tenho a língua comprida e dou com ela nos dentes, ou é esta necessidade de falar. De mim, do que me acontece, do que o universo me apresenta. De tudo e de nada. E nesses nadas por vezes materializam-se carros de praça, e que solicito, que ali esperam pacientemente que chova. 
Ontem não foi diferente d'outras vezes. Não é proibido falar - deve estar escrito na minha testa tapada pela franja que as crias embirram que devia deixar crescer e eu teimo que é ela que me rende a tal conversa que acabei tendo com os taxistas de ontem. Sim porque foram dois. Sim porque ambos me teceram elogios que já mereciam um babete. 
E estou eu aqui a perder tempo com elogios que taxistas fazem a quem transportam e lhes vai pagar.Mas é assim, há quem fale muito mal de taxistas. Eu não tenho razão de queixa. Só tive um episódio assustador mas também eu andava nervosa com a minha primeira ida a Luanda após 33 anos de ausência e não soube parar a tempo de perceber que o homem estava enervadíssimo, vai-se lá saber porquê, enervadíssimo é favor, louco varrido, espumando, e eu e a minha cria levámos com a sua loucura, acho que foi a única vez na vidinha que tive medo de estar à mercê de um taxista. E cá para nós, até acho, quase 4 anos depois, que ontem esse mesmo homem me transportou até ao Rossio, não sei mas foi só uma suspeita minha. Também este enervadinho mas perfeitamente controlado. 
Mas, voltando à partida, o senhor taxista de Sete Rios, começou por dizer:
- Então lá vamos nós para o Olival Basto. Bairro simpático...
Eh pá, podia ficar silenciosa, mas não me apeteceu. Estava mesmo a merecer resposta. Ele queria resposta e aí vai.
- Bairro não. Já não pertence a Lisboa, A ver se ele ao chegar às bombas de gasolina não muda o tarifário. Ó se muda! E continuei. Pertence a Odivelas. Quem me dera que ainda fosse Lisboa, pagava menos.
E a nossa conversa começou aqui e acabou à porta da minha casa. 
- Mas a menina só paga cerca de um km no outro tarifário. Sei lá, mais uns 50 cêntimos. 
- Mas quando quero vir para Lisboa pago imenso.
E pronto, o senhor que me tratou por menina 3 ricas vezes na viagem, explicou-me como devo fazer para pagar menos que não é senão pedir taxi a Lisboa. Já outros me aconselharam isso. 
À tarde, atrasada que estava para o lançamento do livro da Sónia resolvi chamar um taxi a Lisboa pelo número que gentilmente me deu, ressalvando que estava à vontade porque não pertencia a nenhuma central de taxis mas sabia de cor o número em questão.
A minha conversa com a telefonista da central correu mal. A senhora começou por me dizer que pedisse a Odivelas,  que era da minha área. Depois de me fazer entender com todas as letras, dizendo-lhe que parecia estar incomodada com o meu pedido e com a minha bolsa, dados os argumentos da senhora que parecia estar a trabalhar para o inimigo, lá desistiu. A senhora repetia que eu começava a pagar logo que o taxi se deslocasse para o serviço.  Mostrei-lhe que sabia que era obrigação dela contactar com o taxi mais próximo do lugar onde me encontrava e pronto, contrariada lá me disse que não demorava e era o taxi 16. Pediu-me o nome e a morada e pela primeira vez dei o meu nome. Ainda fui comprar o euromilhões ao antipático da papelaria em frente à minha casa e dali a uns minutos tinha o taxista fazendo sinal com os dedos em telefone. Era o 16 e eu entrei.
Começou ali outra saga.
- Chama-se? 
- Maria Clara Marques.
- Marques? 
 Perdão, maria clara santos. Apesar de ser também marques. 
Este é o conflito que tenho com o meu nome e a legalidade. Se tenho de o dizer de acordo com o BI, sai-me Marques em vez de Santos, porque de facto assim é. Na vida, sou só maria clara santos. Há 5 anos que sou só e basta, maria clara santos e com muita propriedade o digo, mas o taxista não tem de saber  isto, claro.
E o senhor continuou: Mil perdões se não cheguei mais depressa, estava na calçada de carriche e vim assim que pude.
Dali à telefonista foi um ai. Dali a exaltar-se porque devia participar da senhora que me  aconselhou a usar outra central, outro ai. E quando me passou a tratar por - maria clara, estávamos no terceiro ai.
Para além de que parecia ter engolido uma enciclopédia, o google mesmo, de tão rápido e tão caro falava, coisa que me enervou.
Da menina da manhã passei a maria clara isto, maria clara aquilo, mas o pior foi quando me perguntou se usava táxi muita vezes durante a semana, onde trabalhava e se na volta ia precisar dos serviços dele.
Eh pá, aguenta aí os cavais. maria clara, tudo bem, deram-lhe o meu nome e a criatura gostou de o usar nessa coisa de ficar mais familiar o contacto entre o prestador de serviços e aquele que os recebe, Quem sou eu para lhe dizer para medir distâncias, a mãezinha dele é que tinha de lhe ter ensinado isso, mas da minha rica vidinha sei eu e desabafos tenho-os com quem escolho ter e ainda assim, olhe lá...
- Não, não ando de taxi durante a semana. Não trabalho perto. Quando me reformar, logo se vê.
Olhou-me através do retrovisor e disse:
- A Maria Clara vai desculpar-me, mas não tem idade para a reforma. Pronto. Apeteceu-me dizer-lhe que não, sou uma menina. tenho lá idade para me reformar. Mas sorri. Não há-de faltar muito, disse. 
- Mas que idade tem? Uns 50...
- Sim. Uns 50 e mais alguns, muitos.Olhou-me de novo. Não lhe dava mais de 50, acredite.
E eu acreditei, claro. Custa alguma coisa acreditar? Cheguei na idade que darem-me 50 anos já é uma bênção.
Fiquei com o horário do Helder Vasco. Assim se chama o homem. com um nome assim que não bate a bota com a perdigota, não admira tanta perturbação, mas pronto, cada um é pró que nasce. Fiquei com os números de telemóvel. Para lhe telefonar quando precisar de ir a Lisboa ou voltar para o Olival. Acha ele...
Eles andam à lamira de clientes. Corridas que valham a pena. Uma cliente ligara-lhe porque precisava dele dali a 5 minutos, para a Parede. Lamentei por ele, porque lhe renderia bom dinheiro enquanto eu, ó, ia para o Rossio. Ele lamentou mais do que eu, pois que ao telefone com a senhora desfez-se em desculpas e insistira na hora a que a senhora precisava estar na Parede.
Eles, os taxistas, nunca foram tão simpáticos.  Andam em crise. Como todos os que vivem do seu trabalho. 
Por mim, acho que esta coisa que existe entre taxistas e eu, eu e taxistas, é algo kármico. Acho, vou levar sempre com eles e eles comigo. Fazer o quê?  

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