- Olá vizinha! Tá boa? Não a vejo há muito tempo.
- Olá tudo bem? ele sorriu e respondeu, tudo bem.
O vizinho é aquele indigente que mora a mais de 200 metros da casa onde vivi há mais de 20 anos e que a partir desse tempo me intitulou de vizinha, o que não me incomoda.
Levei um susto dos diabos com a sua presença e voz súbita, distraída que vinha com os meus pensamentos, pois que nos últimos dias eles atropelam-se a quererem as minhas boas graças, mas não há nada para ninguém, que me cansei de ser benevolente, romântica, chorona, e já estou a partir para outra que não é senão a mesma mas sem mesuras ou frescuras. Que isto de sentirmos com o coração e não com a mente, tem muito que se lhe diga e já estou como a minha amiga Manuela que diz que uma criatura chega a uma altura que já não sabe se é o cão que morde em nós ou se somos nós que mordemos no cão.
A minha vida é só uma. Estou a um mês de fazer 57 anos. Preciso pôr as ideias em ordem. As emoções antigas nas gavetinhas onde sempre estiveram e que nos últimos dias libertei. Preciso limpar o pó das prateleiras e etiquetar cada dia, cada sentir, cada lugar, cada sonho e cada pessoa. Depois, abrir este músculo que me permite viver, e deixar lá o meu passado. Fechá-lo e pô-lo manso a bem da saúde.
Do meu passado retiro o dia de hoje faz 57 anos. Dona Celeste e o sô Santos juravam ali na Missão de S. Paulo, serem fieis a vida toda, amarem-se e respeitarem-se até que a morte os separasse. E cumpriram. E são o meu orgulho, porque eram pessoas de palavra, de sentimentos e de decisões honestas.
Do meu passado retiro-me para viver o presente. Estamos nos Santos Populares. Sardinha assada e arraiais. Amigos. O fim de semana mostrou-me que é possível. Não só o presente, mas também um pouco de futuro. Vi jovens que me dizem muito, trabalharem por um sonho para além de sonhos mais ou menos seguros que concretizam diariamente. Vi jovens embarcarem nos sonhos e juntos, todos juntos serem felizes, em festa. Vi um bairro alegre e bem disposto. De música, guitarras e voz.
Do meu passado, espero um tempo ameno que me permita seguir em frente quando a minha reforma chegar.
Entrei na loja da Ritinha. Estava zangada com uma quadrilhice duma vizinha. Contava-a ao brasileiro que vai fazer faxina ao emprego da caçula.
- O senhor não trabalha na ...?- Sim sou eu mesmo. E a senhora não é amiga da dona Paula?- Sou irmã.
-Irmã é? Olhe só....
Não percebi. Porque não? Bem sei que fisicamente, e não só, somos diferentes e há quem não saiba do laço de sangue que nos une...
A dor de cabeça que se me pôs no fim da tarde que por piada até disse que era mau olhado, ferrou-se-me nos olhos que não os consigo ter abertos. O dia está no fim. A Pitanga anda impaciente e aborrecida da comida que lhe ponho. E reclama.
Do meu passado retiro as flores, as canções, os sorrisos, as estórias...e parto para a gandaia. Só para me sentir viva. Porque a vida pode e deve ser uma festa.
Hoje dou por findo este dia cansativo e aborrecido e vou meditar para dentro.
- Olá tudo bem? ele sorriu e respondeu, tudo bem.
O vizinho é aquele indigente que mora a mais de 200 metros da casa onde vivi há mais de 20 anos e que a partir desse tempo me intitulou de vizinha, o que não me incomoda.
Levei um susto dos diabos com a sua presença e voz súbita, distraída que vinha com os meus pensamentos, pois que nos últimos dias eles atropelam-se a quererem as minhas boas graças, mas não há nada para ninguém, que me cansei de ser benevolente, romântica, chorona, e já estou a partir para outra que não é senão a mesma mas sem mesuras ou frescuras. Que isto de sentirmos com o coração e não com a mente, tem muito que se lhe diga e já estou como a minha amiga Manuela que diz que uma criatura chega a uma altura que já não sabe se é o cão que morde em nós ou se somos nós que mordemos no cão.
A minha vida é só uma. Estou a um mês de fazer 57 anos. Preciso pôr as ideias em ordem. As emoções antigas nas gavetinhas onde sempre estiveram e que nos últimos dias libertei. Preciso limpar o pó das prateleiras e etiquetar cada dia, cada sentir, cada lugar, cada sonho e cada pessoa. Depois, abrir este músculo que me permite viver, e deixar lá o meu passado. Fechá-lo e pô-lo manso a bem da saúde.
Do meu passado retiro o dia de hoje faz 57 anos. Dona Celeste e o sô Santos juravam ali na Missão de S. Paulo, serem fieis a vida toda, amarem-se e respeitarem-se até que a morte os separasse. E cumpriram. E são o meu orgulho, porque eram pessoas de palavra, de sentimentos e de decisões honestas.
Do meu passado retiro-me para viver o presente. Estamos nos Santos Populares. Sardinha assada e arraiais. Amigos. O fim de semana mostrou-me que é possível. Não só o presente, mas também um pouco de futuro. Vi jovens que me dizem muito, trabalharem por um sonho para além de sonhos mais ou menos seguros que concretizam diariamente. Vi jovens embarcarem nos sonhos e juntos, todos juntos serem felizes, em festa. Vi um bairro alegre e bem disposto. De música, guitarras e voz.
Do meu passado, espero um tempo ameno que me permita seguir em frente quando a minha reforma chegar.
Entrei na loja da Ritinha. Estava zangada com uma quadrilhice duma vizinha. Contava-a ao brasileiro que vai fazer faxina ao emprego da caçula.
- O senhor não trabalha na ...?- Sim sou eu mesmo. E a senhora não é amiga da dona Paula?- Sou irmã.
-Irmã é? Olhe só....
Não percebi. Porque não? Bem sei que fisicamente, e não só, somos diferentes e há quem não saiba do laço de sangue que nos une...
A dor de cabeça que se me pôs no fim da tarde que por piada até disse que era mau olhado, ferrou-se-me nos olhos que não os consigo ter abertos. O dia está no fim. A Pitanga anda impaciente e aborrecida da comida que lhe ponho. E reclama.
Do meu passado retiro as flores, as canções, os sorrisos, as estórias...e parto para a gandaia. Só para me sentir viva. Porque a vida pode e deve ser uma festa.
Hoje dou por findo este dia cansativo e aborrecido e vou meditar para dentro.
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