sexta-feira, 8 de junho de 2012

até Deus quiser...

Ao som de " deus "  - Nothing really ends -  despeço-me. Não podia escolher melhor som para te deixar partir. Para me deixar ficar virando a página. Escrevendo o xis no calendário. Fazendo o luto. De novo. E mais uma vez...
Quando oiço esta melodia transformo-me numa outra pessoa. Muito melhor. Repleta de magia. Como era aquele tempo. Como mágicos eram nós aprendendo o amor. Como mágico era o pôr do sol na contra-costa declarando-se para o Mussulo. Como mágicos eram todos os momentos que vivemos então.

Quando oiço esta melodia, transformo-me naquela menina acabada de despertar. De cabelos longos, pele morena, lábios vermelhos, nariz arrebitado, calças boca de sino e blusa mil flores a condizer. E de cigarro nos dedos. Transformo-me naquela jovem mulher de olhar profundo, tocando tudo o que admirava com o cuidado de quem toca a porcelana. E vê através dela.  Que via a vida como se olha um diamante. Com  respeito, prazer e cobiça. Sonhando com o que estava ali ao dobrar da esquina, à mão de semear. Esperando os sonhos concretizar. Esses sonhos candengues e tão fáceis de atingir...enganada que estava na sua louca inocência de um mundo por descobrir. E nem sempre melhor. Nunca melhor. 
Ao som desta canção de hoje, sim, porque podia escolher outra, aquela que dizia que... às vezes chegam cartas com sabor a lágrimas com sabor amargo, de Júlio Iglésias, ou a Katie Melua em If you were a sailboat... em noite de lua cheia, ao som de " deus " nesta nova melodia é mais fácil despedir-me, porque nunca saberás se choro por mais uma das muitas vezes te perder de vista ou se  emocionada pela voz que canta; ai  a Voz, sempre a Voz, a comandar as minhas prioridades e emoções, a voz sempre a sussurrar-me ao ouvido que é tal como os olhos que nos olham nos olhos, o espelho da alma,. E eu a acreditar nas almas, que por vezes são gémeas, só não se encontram para sempre, apenas numa curva do caminho, numa esquina fugaz, num momento escolhido pelo universo, como que num prémio de consolação de um jogo de azar que jogo com o coração, vai-se lá saber porquê, pois que nunca vi o livro da escrituras de  Deus, aquele onde as linhas da nossa mão foram decalcadas e parece está lá o nosso destino. O destino das nossas almas. Os jogos. As uniões. Os encontros e os fins.
Despeço-me hoje ouvindo esta canção perfeita para este momento solene, que me desperta o espírito, a pele e a mente. Parece que estou só e de novo a jogar com as palavras, dançando-as na frente do meu passado, ecoando no meu presente, contrariando-me os sonhos e desafiando-me as memórias, mas é muito mais que isso. 
Com requinte de malvadez, que nunca soube ter, escolhi o lenço branco da pureza com que aceno àquele tempo  e hoje, neste tempo que já virou passado, digo, basta, te mando beijos e abraços e kandandus do tamanho deste sentir! E te digo adeus como se fosses comprar cigarros ao bar da esquina lá do bairro. 
Adeus que quer dizer até breve, até já ou até qualquer dia com um pouco de sorte e algum querer. Adeus num parece, mas não é. Nunca foi. Aquele adeus de falinhas mansas com que se enganam os tolos e se empatam as vidas.
Despeço-me dizendo então, basta. Adeus. Digo-o p'ra dentro de mim, para as quatro paredes. Para os quatro cantos do mundo. Basta para o mapa que me inquieta. Basta de dias que não vivi. De lágrimas que chorei. Por mim e por ti. 

Hoje é o dia certo para mais uma vez escrever fim, neste intervalo de tempo que tanto pode ser eterno como para sempre. Declaro-me em luto. 
Até quando? Enquanto deus cantar. Até Deus quiser. E eu...

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