sexta-feira, 23 de setembro de 2011

tempos futuros

Perguntas-me o que deves fazer para sobreviveres ao frio e à solidão.
E eu respondo-te sem saber se te vai perturbar a resposta.
Ou enfurecer. Ou entristecer.
Eu...eu sei que o frio enrijece e a solidão emudece.
Queres mesmo que te diga? Se fosse a ti, com o frio fazia um poema.
E com a solidão uma canção.
Comprava uns botins.
Ah, e um sobretudo quentinho.
E já agora um guarda-chuva. Não fosse o diabo tecê-las.
Comprava também um boné, de preferência já com a mão esticada.
E ia para a porta do teatro.
Haviam de me ver. De me ouvir.
Matava os monólogos. Paria diálogos.
Sustentava coros. Brincava aos jograis.
Não me calava. Nunca. Nem em sonhos.
Falava com as sombras que toldam os pensamentos e escurecem as paredes do teatro. Não lhes gritava para não se assustarem. Mas repetiria, repetiria, repetiria, até me responderem, em eco.
E entrava em cena assim que as luzes se apagassem...

2 comentários:

maria disse...

Brilhante, Clarinha.

Anónimo disse...

Aqui está outro texto perfeito.
Estás imparável.