sábado, 27 de abril de 2013

superstição


Olho-te. Sorris p'ra mim. Sorris sempre. Foi por isso que ficaste comigo. Que te quis de imediato num amor à primeira vista que nem sempre acontece. Quer dizer, menos vezes do que o meu espírito romântico o deseja. 
Foi por isso que abri os cordões à bolsa. Desiludiste-me, mas isso são outros quinhentos. 
Tantas desilusões já sofridas criaram uma carapaça que visto de vez em quando, sempre que necessário, para não me desnudar assim às primeiras. Por isso, mais desilusão menos desilusão, fazer o quê? Desiludiste-me porque apenas cumpriste uma parte da tua função. Tornares-me mais vistosa. Bonita, direi mesmo. P'ra quê estar aqui a encanar a perna à rã? Não tinha ficado contigo se os meus olhos não tivessem brilhado, não me pavoneasses e não te tivesse imaginado combinando com o resto, num braço dado de amigos para sempre. E não te tivesse imaginando dando-me importância. Que nem sempre tenho. Olha só quando estou de pijama, cara lavada, chinelos de quarto. Parece que te estou a ver a piscares-me o olho e sarcasticamente dizeres:
- Estás linda, estás! Olha a tua figura. Se saísses assim para a rua ninguém te conhecia. E talvez tenhas razão. Mas sabes que mais? Cagari cagaró. Já não embarco nessa pele que nem sempre é minha. Como diz o outro - 90% da beleza das mulheres sai com água e sabão. Acho duma indelicadeza, duma falta de respeito um homem escrever isto e deixá-lo ficar num lugar onde só quase existem mulheres, as atitudes ficam com quem as toma, mas que o boneco corresponde, corresponde. E quanto mais velha eu sou mais necessidade tenho de me esborratar para parecer bem, quer dizer, melhor, no meu ponto de vista, que nem sempre é o ponto certo e vê bem, longe vai o tempo em que o espelho me devolvia a imagem que eu desejava, mesmo sem ti. Sim porque és recente. E não podes ter a pretensão de achares que não havia vida antes de apareceres e fazeres parte da minha.
Enfim! Até porque me desiludiste. Mas pior, pior, foi que não me protegeste. E até limpaste a tua barra como se nada fosse. Tenho-te desprezado desde aquele dia. Malvado dia...
Bem sei que entretanto a minha imobilidade te foi útil. E o Outono que se instalou. Saíste de cena de mansinho. 
Sorrateiramente como quem não quer a coisa. Não querias, de facto e para falar verdade, eu também não. Não insisto no que me desilude. Fica uma relação comprometida para sempre. Uma paz podre que não me faz bem à cara, à pele, à auto-estima. 
Estou para aqui com este relambório todo e ainda não despeguei o olho de ti. Nem do teu sorriso maroto. Nem do teu piscar de olhos. Acordei para aqui virada e sou meio doida varrida. Já não me escapas, quer-me parecer.
Finalmente posso olhar-te olhos nos olhos sem pestanejar, sim porque corar não me fazes, tinha que vir algo melhor, mais bonito, mais inebriante, mais ...olha, queres saber a verdade? Que me deixasse QO. 
Por falar em QO, lá está, qual foi o motivo do desprezo a que te votei? Diz lá? Han? Han?
E, não disse que nunca mais para ti olhava, nem jurei, num juro sangue de cristo porque jurar é sério e eu se juro vou ter de cumprir e olhando-te agora sei que nunca poderia dizer que desta água não beberei porque tu és irresistível e eu...bem, eu sou uma boba que mesmo servindo-me de ti, porque me sirvo, pois claro, ainda acredito que me fazes bem. Sou doida né? Onde já se viu estares com tudo? Teres essa importância toda...
Continuas aí. Sorrindo-me. E eu...apesar dos pesares e de me teres pesado demais, em tempos que já lá vão, eu perdoo, perdoo sempre é o que vale, estou de espírito aberto e vou esquecer a zanga e o motivo dela. Claro que tu aceitas e regozijas-te com isso, até porque quem ficou doente não foste tu, tu saiste da estória numa boa, nem um arranhão sofreste, já eu...caí das tamancas abaixo e sofri as consequências. Um braço ao peito. Ainda me acompanhaste ao hospital. Ainda sentiste as minhas lágrimas e até cumprimentaste o doutor e a enfermeira. O mano Zé que me transportou e a Ana Paula que me veio fazer companhia toda a tarde enquanto eu me contorcia toda qual boneca articulada ou palhaça e disfarçava a tristeza atrás de um sorriso tristíssimo mas já conformado. 
Ok. Venceste. Vou agarrar em ti, esquecer que me espalhei ao comprido, até porque também acontece quando não estás e não podes gramar com as culpas todas. Vou esquecer que me zanguei contigo e te pûs de lado. Vou quebrar o enguiço e... vou vestir-te, querida blusa por mim abandonada no dia em que parti o ombro.

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