sábado, 13 de abril de 2013

o beijo


Kiss, beso, kissu, küchen, baiser, tzub, su-ub, pitér, felia, xkyss, potselui, neshiká... 
São beijos em várias, muitas línguas. E falta ainda o beijo, na língua que aprendi. Não, ainda não estou a falar de beijo de língua. Em português, que é a minha língua, aquela com que falo e...beijo. 
Diz que hoje é dia deles. Os beijos. 
Há dia para tudo que até chateia de tanta invenção para tornar os dias mais interessantes. Nem sempre conseguem. 
Mas Dia do Beijo acho que toda a gente gosta. Não do dia, mas do beijo. 
Ah, há um que acho que ninguém quer. O de Judas, a menos que o beijoqueiro se chame isso mesmo, como o tal que traiu Cristo. Ninguém gosta de beijo falso, digo eu...
Já de beijo de mãe, de pai, de avô, ah como é bom! Esse é o beijo do colo, do porto de abrigo. E de filho, então, esse beijo sabe a flores, frutos, amores.
Beijo na hora de dormir e de acordar, também lembra que estamos vivos e que tem dia para além do momento. 
Beijo de amigo é demais, e se acompanhado de abraço torna mais firme o laço, de união.
O de circunstância por vezes me irrita. Nem sempre estou para aí virada e tenho de estender a cara que quase não toca ou toca demais. E são gafanhotos, ventosas se apoderando da minha bochecha e parece que não desgrudam e fico mais que, sem jeito, visceralmente enjoada. Na verdade, para lá de enojada...
Cumprimento de beijo ímpar também me incomoda. Se é tiaaaaa, tá a ver? A rica vai daí e espeta um único beijo para o ar encostando o boião de base no meu rosto e fazendo careta de contrariada; se é francês ou emigrante, vai-se lá saber porquê, repete a dose numa das faces e fico ali aos papéis. Ça va?! Daaaah!
E ainda há os outros que me deixam embaraçada porque me estendem a mão quando eu já vou para o sacrifício, num, vá lá terá de ser mais um beijo no camone.
Mas beijo que eu gosto de receber é aquele soprado na palma da mão. Me parece que tem asas, traz recados, não se pode perder...e o que a gente beija os dedos e manda no outro à laia de despedida carinhosa, seja no amigo, no compadre, no vizinho de sempre ou mesmo no bebé que sorri, no filho que acena se despedindo, ou no namorado, esse beijo, sinal de ternura e compreensão, esse ai como eu curto! 
Mas quantos beijo se dão e ao que saberão?
Beijos arrependidos. Beijos esperados. 
Beijos silenciosos ou repenicados, secos ou molhados. Num segundo ou numa eternidade. 
Beijos cheirando a álcool ou a perfume. A cigarro. A desejo. 
Beijos na despedida ou na chegada. 
No jardim, no cinema, no vão de escada, elevador, avião ou hospital. 
Beijos na escola, no banco de pedra. Beijos escritos, gravados, ao telefone, carta, e-mail ou mensagem. Beijos recomendados. Agradecidos, ansiados. Perdidos. 
Um comboio de beijos, um milhão ou um rôr deles, beijokas, beijinhos, beijão. 
Beijos do tamanho do mundo e da saudade. Beijos que se medem com a distância e outros para toda a eternidade. Beijos que ficaram por dar e receber e fazendo parte da nossa imaginação. 
Mas nem só destes beijos vive o homem.
Também daqueles que marcam apenas o momento ou até não. Há os que ficam para sempre. Por exemplo, o primeiro beijo, da vida, daquela pessoa, do dia. Ou o último, se a pessoa partiu, ou se valeu a pena, se os astros se conjugaram, se os acordes soaram, se o mundo parou...
E os da hora da conquista ou do engate. 
Na hora do engano ou dos pedidos. Da chantagem. Do pedido de perdão. Na hora do lobo.
Na hora do sexo. E aí não tem limite nem tamanho, nem hora. Pára o relógio, o calendário, a crise, o mundo. Sai beijo para todo o gosto e paladar. 
Há também o beijo que a gente dá se nos comovem, dançamos e os corpos se tocam, se passeamos na beira do mar ou estamos tirando fotografias. Se selamos compromisso, aliança...
Me lembra beijo de homem na hora da igreja, véu do rosto tirado, beijo na testa. Tradição que vai-se a ver, pode, estou a dizer pode, casar com traição. Mais tarde, quando ninguém lembra mais do beijo, do figurão...
Se alguém te der beijo na testa e não for mãe, pai, filho, irmão, desconfia sempre, pode ser um grande intrujão.
Há beijo na nuca, na mão, no nariz, no ombro e no umbigo. Há beijo quente. Escaldando. E aquele que parece defunto. Há beijo chorado que dá arrepio e beijo gargalhado. Há até beijo roubado. Quem não roubou?
Quem não foi apanhado beijando na esquina, no beco do bairro ou no banco do carro?
Quem não acordou num beijo sonhado e não se entristeceu? 
Quem não beijou? Apenas. Sinal de afecto, memória e prazer, partilha, loucura, desejo, ternura...
Hoje é dia de beijo, alguém o marcou. Tem milhares de beijos e sentimentos criando o gesto que sela sentires.
Se gosto de beijos? Bué. Demais. Devezes, como se diz na terra que beijo, na saudade e que me beija, de mãe. 
Se gosto de beijos? Meu beijo verdade, família, romance, tem sabor a mel. E a rosas, vermelhas. Tem tamanho sem tamanho e a cor do amor...

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