segunda-feira, 14 de junho de 2010

A voz

Às vezes basta um telefonema. Apenas uma voz.
Nós que até gostamos de vozes. Mais do que do resto da matéria.
Às vezes a voz diz-nos que deve calar-se. Que fique muda.
Para percebermos que a nossa felicidade existe quando as vozes se calam. Ainda que bonitas.
Ainda que num português correctíssimo e bem articulado. Com as palavras certas, os vocábulos escolhidos. O tom adequado.
Às vezes basta que pressintamos ouvir a voz e já somos infelizes.
Uma voz culpada, monocórdica. Antiga e com um não sei quê de arrogante com laivos de insolência. Uma voz grave como grave fica o diálogo. E triste. E decadente.
Hoje a voz deixou-me tristemente triste.
O pior é que esta voz, não tem voz activa.
Mas como não há nada mais triste do que uma voz desactivada, fico sempre irremediavelmente triste e infeliz no desesperado propósito da voz.

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