foto tukayana.blogspot
Há uns dias já, que venho observando o monte, defronte da minha janela com curiosidade e admiração. E um misto de intriga, deformação de profissão.
Não tenho de fazer coisa alguma. Apenas sentar-me a olhá-lo. Com olhos de ver.
É um monte verde, cheio de oliveiras, arbustos e erva. Mil tonalidades de verde, que a natureza oferece a quem o quiser contemplar.
Tem por tecto o azul do céu limpo, onde moram algumas nuvens brancas que o vêm visitar. Onde quase sempre o sol se faz anunciar. E de quando em vez surgem aviões a levantar. E à noite tem as estrelas. E também a lua quando está cheia de luar.
Há vários anos que olho para ele, ainda, com olhos de ver. Com vontade de o subir, de o descobrir...
Do outro lado está a cidade. No mapa.
Deste lado estou eu. Aborrecida umas vezes. Bem disposta outras, divertida, algumas, doente outras ainda. Sofrida e triste, ou sonhadora e feliz. Também.
Há uns dias já que observo o monte, intrigada.
Na outra semana, quando olhei o verde imenso que vejo daqui, sem precisar de me desviar, procurar posição, pôr-me a jeito, tal como olho o mar quando o vou procurar, vi-o pintado de claro. Uma mancha branca, movendo-se. E soltei uma exclamação de alegria. A natureza que me é oferecida sem precisar de gasto algum ou compromisso, mexia, para além dos ramos das árvores quando o vento lhes dá. Olhei com muita atenção. Pareceu-me um cavalo. Era um cavalo.
Como uma menina feliz à descoberta, segui-lhe os passos que não foram muitos. Ali se manteve toda a tarde. Quando o sol se pôs a mancha continuava. À possibilidade de ali o deixarem pernoitar, ao relento, no sereno da noite, senti um arrepio e o frio deixou-me uma sensação desconfortável, de angústia que me entristeceu. Não bastam já todos os sem abrigo da Baixa de Lisboa que conheço de cor e salteado e até lhes conheço também os poisos certos. Bem sei que era só (?) um cavalo. Mas, à possibilidade da minha Pitanguinha, que é este ser abençoado que faz parte da minha vida e que é só (?) uma gata, linda, fofa, amiga, mas uma gata, ficar na rua, à chuva e ao frio, ao medo, que todos os seres têm, fico não só perturbada mas profundamente assustada.
A noite se fez dia de novo e a minha janela, eu e o monte cá estávamos.
Sentei-me a olhá-lo de novo, mas desta vez como quem procura uma agulha num palheiro. E a mancha branca, que se movimentava e tinha os traços, o desenho, d' um cavalo, já lá não estava. Esfumara-se na madrugada de luar que iluminava o monte.
Dias depois fui surpreendida. A mancha branca multiplicava-se por duas. Para minha alegria. Separados por metros, quantos não sei, que não sei avaliar, dada a distância que me separa deles e do monte, lá estavam os cavalos, pastando no monte verde de várias tonalidades, em terreno inclinado, para quem como eu, contempla um monte, do sopé.
Agora, no correr dos dias tenho o campo na minha mira, feita pasto de cavalos brancos, oliveiras, arbustos e erva, verdinhos. E o meu coração se apaziguou.
Alguém os levará ao pasto. Alguém os deixa livres.
Distante que estou, apenas vejo as manchas brancas que tenho a certeza serem cavalos. Ou éguas.
Quem diz que só é feliz quem corre mundo, não está na posse deste quadro de natureza viva, nem se sentou à minha janela. De onde se avista um céu azul, um monte verde, cheio de oliveiras, arbustos e erva. Pasto de dois cavalos.
E que ao cair do dia e sob o luar, se transformam em duas manchas brancas.
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