Tudo corre sobre rodas. Carris ou mesmo em meias solas.
O que eu quero dizer é que tudo desliza. E se assim é, nada há a impedir o andamento. Nada que não se possa resolver. E se fosse uma teeneager, diria que se leva na boinha. E porquê?
Porque amanhã vem longe e hoje estou bem. Direi mais, tá-se bem! Não há a menor dúvida que sol é urgente para todos e mais para quem dele é dependente. E mar também. Mais a liberdade duma roupa simples, sapatos a condizer, saco de praia, chapéu na cabeça e sorriso a fazer pandã.
Metro e comboio. Tempo para chegar ao destino. Não vale inquietação nem impaciência. São inimigas do equilíbrio.
Descalço as sabrinas. Os pés reconhecem o calor dos grãos da areia morna do areal.
À volta, toalhas estendidas e secas. Corpos semi-nus, deitados, parecem lagartos ao sol. Estendo também a toalha. Perdão. Não tenho necessidade de mentir. Estendo o pareo. Não faço conta de me banhar senão de sol. E o peso duma toalha é um inimigo da viagem nos transportes públicos. Pareço uma burra carregada de pancada e para mais, já basta assim. O meu pareo é bonitinho. Antigo que eu sei lá. Transporto-o num saquinho onde vinha quando o comprei, numa loja toda xptó do Amoreiras. Poucas compras ali faço. Para além das vendedoras das lojas serem umas snobs arrogantes ( quase todas ) os preços são tão antipáticos quanto elas, mas isto foi uma feliz excepção. E em saldos. Era Setembro e estava mesmo no finzinho, o que fez com que levasse para casa uma mão cheia deles. Compra dois levas três, a letras garrafais.
Eh pá, como gosto de compras destas, mesmo quando ponho a cabeça a jeito para enfiar o barrete! Não foi. E quem ganhou foi o mulherio da família. Da minha e daquela, madrasta em todos os sentidos, que a gente não pede, não deseja nem tem como rejeitar. Daquela que dá meias e bombons no Natal em troca de pareos em saldos, mas com alguma sensibilidade para o desejo de serem felizes numa praia qualquer ou numa piscina de amigos. Daquelas que te acolhem no clã com palavrinhas mansas e nem desconfias que são contra retornados até que um dia passadas décadas de seres membro integrante desse clã deixam escapar um rancoroso protesto contra quem veio de " áfrica ". Daquelas que quem vê um ou uma, vê todos, tira-se-lhes a pinta numa facilidade que até chateia de tão óbvias que são. Daquelas que quando te afastas ou te afastam, passas a ser um número. Zero. À esquerda. O que parece mórbido, mas que sob outra perspectiva acaba por ser uma bênção dos céus. Já que não nos pode tirar tudo, acena-nos com a lei das compensações.
Mas, dizia eu que, saltando a parte do pareo, afinal tenho muitos outros mais novos e bonitos e não houve nenhum saudosismo na escolha, apenas preguiça numa busca mais minuciosa, acabei estendendo o dito e também o meu corpo para um tempo mais ou menos calculado de três horas já que ao cair da tarde faz frio, porque convenhamos, ainda é inverno.
Tenho uma mania danada de me deitar e olhar o céu, à procura não sei de quê. Há carreiros brancos, paralelos e perpendiculares. Linhas que parecem estradas. São caminhos. Rotas para voar. O silêncio da tarde é quebrado pelos aviões que passam lá longe deixando esses rastos que me fazem divagar e imaginar viagens por acontecer. Também as vozinhas de crianças brincando junto às ondas que vêm estender-se na areia lentamente, quebram este silêncio que vale ouro.
Os velhos sentados no muro da esplanada olham para longe com o olhar perdido no horizonte. Terão ainda sonhos por sonhar, perdidos que ficaram num qualquer temporal que lhes entristeceu a vida e lhes cansou a vontade? Ficarei sem o saber, se bem que tenha as minhas teorias.
A tarde tem a cor da paz. Tudo está nos seus lugares. Parece véspera de dias de festa.
Lembra-me as sextas-feiras santas e os sábados de aleluia.
Uma mulher loira, entrada na idade, com a celulite e as estrias , o topless , a indiferença e o despudor, próprios das mulheres da minha idade que já não está nem aí, quem não gostar não olhe, devagar, mas com passos seguros entra na água salgada deste mar que está tão belo e tranquilo. Arrepio-me. Às lembranças de dias de verão que hão-de chegar. Sorrio ao vento e olho eu também o horizonte. Far-se-à verão daqui por algum tempo e eu aproveitá-lo-ei, a sul. Aqui. Ou noutro mar qualquer.
Tudo corre sobre rodas. Carris ou mesmo meia-solas. E o que é preciso é deslizar, na crista da onda, ou simplesmente voando nas asas da imaginação, duma prancha qualquer.
Por falar nisso um dia destes enlouqueço e experimento equilibrar-me numa. Do mar não passo...
O que eu quero dizer é que tudo desliza. E se assim é, nada há a impedir o andamento. Nada que não se possa resolver. E se fosse uma teeneager, diria que se leva na boinha. E porquê?
Porque amanhã vem longe e hoje estou bem. Direi mais, tá-se bem! Não há a menor dúvida que sol é urgente para todos e mais para quem dele é dependente. E mar também. Mais a liberdade duma roupa simples, sapatos a condizer, saco de praia, chapéu na cabeça e sorriso a fazer pandã.
Metro e comboio. Tempo para chegar ao destino. Não vale inquietação nem impaciência. São inimigas do equilíbrio.
Descalço as sabrinas. Os pés reconhecem o calor dos grãos da areia morna do areal.
À volta, toalhas estendidas e secas. Corpos semi-nus, deitados, parecem lagartos ao sol. Estendo também a toalha. Perdão. Não tenho necessidade de mentir. Estendo o pareo. Não faço conta de me banhar senão de sol. E o peso duma toalha é um inimigo da viagem nos transportes públicos. Pareço uma burra carregada de pancada e para mais, já basta assim. O meu pareo é bonitinho. Antigo que eu sei lá. Transporto-o num saquinho onde vinha quando o comprei, numa loja toda xptó do Amoreiras. Poucas compras ali faço. Para além das vendedoras das lojas serem umas snobs arrogantes ( quase todas ) os preços são tão antipáticos quanto elas, mas isto foi uma feliz excepção. E em saldos. Era Setembro e estava mesmo no finzinho, o que fez com que levasse para casa uma mão cheia deles. Compra dois levas três, a letras garrafais.
Eh pá, como gosto de compras destas, mesmo quando ponho a cabeça a jeito para enfiar o barrete! Não foi. E quem ganhou foi o mulherio da família. Da minha e daquela, madrasta em todos os sentidos, que a gente não pede, não deseja nem tem como rejeitar. Daquela que dá meias e bombons no Natal em troca de pareos em saldos, mas com alguma sensibilidade para o desejo de serem felizes numa praia qualquer ou numa piscina de amigos. Daquelas que te acolhem no clã com palavrinhas mansas e nem desconfias que são contra retornados até que um dia passadas décadas de seres membro integrante desse clã deixam escapar um rancoroso protesto contra quem veio de " áfrica ". Daquelas que quem vê um ou uma, vê todos, tira-se-lhes a pinta numa facilidade que até chateia de tão óbvias que são. Daquelas que quando te afastas ou te afastam, passas a ser um número. Zero. À esquerda. O que parece mórbido, mas que sob outra perspectiva acaba por ser uma bênção dos céus. Já que não nos pode tirar tudo, acena-nos com a lei das compensações.
Mas, dizia eu que, saltando a parte do pareo, afinal tenho muitos outros mais novos e bonitos e não houve nenhum saudosismo na escolha, apenas preguiça numa busca mais minuciosa, acabei estendendo o dito e também o meu corpo para um tempo mais ou menos calculado de três horas já que ao cair da tarde faz frio, porque convenhamos, ainda é inverno.
Tenho uma mania danada de me deitar e olhar o céu, à procura não sei de quê. Há carreiros brancos, paralelos e perpendiculares. Linhas que parecem estradas. São caminhos. Rotas para voar. O silêncio da tarde é quebrado pelos aviões que passam lá longe deixando esses rastos que me fazem divagar e imaginar viagens por acontecer. Também as vozinhas de crianças brincando junto às ondas que vêm estender-se na areia lentamente, quebram este silêncio que vale ouro.
Os velhos sentados no muro da esplanada olham para longe com o olhar perdido no horizonte. Terão ainda sonhos por sonhar, perdidos que ficaram num qualquer temporal que lhes entristeceu a vida e lhes cansou a vontade? Ficarei sem o saber, se bem que tenha as minhas teorias.
A tarde tem a cor da paz. Tudo está nos seus lugares. Parece véspera de dias de festa.
Lembra-me as sextas-feiras santas e os sábados de aleluia.
Uma mulher loira, entrada na idade, com a celulite e as estrias , o topless , a indiferença e o despudor, próprios das mulheres da minha idade que já não está nem aí, quem não gostar não olhe, devagar, mas com passos seguros entra na água salgada deste mar que está tão belo e tranquilo. Arrepio-me. Às lembranças de dias de verão que hão-de chegar. Sorrio ao vento e olho eu também o horizonte. Far-se-à verão daqui por algum tempo e eu aproveitá-lo-ei, a sul. Aqui. Ou noutro mar qualquer.
Tudo corre sobre rodas. Carris ou mesmo meia-solas. E o que é preciso é deslizar, na crista da onda, ou simplesmente voando nas asas da imaginação, duma prancha qualquer.
Por falar nisso um dia destes enlouqueço e experimento equilibrar-me numa. Do mar não passo...
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