terça-feira, 21 de janeiro de 2014

o Tempo num deus dará

Esqueço que há amanhã. Está marcado no calendário. Mas não lhe dou qualquer importancia. Porque o futuro a Deus pertence e não a mim. 
O dia de ontem, esse foi meu. Mas já se diluiu na vontade de não carregar fantasmas. Não me pesar as costas frágeis e doentes. 
Sinto que a existencia do hoje me foge também. Ainda agora aqui estava e já se apressa na partida. Na vontade de se esvair, na bruma da noite. 
Entre as luzes dos candeeiros que se acenderam há pouco. 
Entre os calendários pendurados nas portas das lojas, que depressa se fecharão ás pessoas de fora. Aos atrasados e esquecidos. Aos que perderam os transportes. Aos incautos e desplicentes. Aos preguiçosos. 
Por entre os becos e esquinas. 
Por entre os silencios das horas tardias e da escuridão que caiu na cidade. 
Não abro janelas nem espreito a rua, fria e molhada da chuva choviscada, pingo a pingo, hora a hora, desde que o sol não nasceu mas devia ter surgido de manhã até que se escondeu noutro local que não aqui, no relógio que marcou o fim da tarde. 
O tempo a modificar-se. 
Rapidamente, este hoje não existirá e da memória selectiva poderá nem sequer constar. Insignificante que foi. Passando despercebidamente. Sem marca nem cor. Sem amor. Nem desamor. 
Um número branco. Branco, não. Cinzento. Que a tipografia não acautelou. 
Dizem-me que o presente é agora. E neste momento, olho á volta e não há nada nem ninguém. Nem vozes convencendo-me. Nem notícias confirmando. Nem telefones tocando. Nem o calor de um abraço. Nem um beijo de chegada. Nem mais um prato na mesa. 
E assim me vejo sendo um pouco de tudo que é feito de nadas. 
Um mais ou menos, que se equilibra e seguro nas mãos. Linear. Sem altos e baixos. Sem sequer sorrir e apaziguar o meu coração.
Esqueço que há amanhã e que pode ser melhor. É melhor para mim, por via do crédito que nem sempre uso. Tão pouco valorizo.
Acredito porém, sem muita paixão, que o tempo me é favorável, depois da noite passar. Nos amanhãs todos em que possa existir, porque difícil, foi saltar as noites de nevoeiro, as madrugadas de temporal, as horas paradas e os dias intermináveis e fora d' horas. Afastar as pessoas sem graça e que desgraçadamente quiseram ver-me cair em desgraça. 
Para provação já chegou. De relógios avariados. De intenções mal intencionadas. Escondidas. De traições mal calculadas. 
Repetidas.
Sento-me neste presente que é hoje. Não em espera. Nem antecipando momentos. Um pouco indiferente. Talvez um nada insensível. 
Espectadora de mim e do tempo. Do que o faz prosseguir. Do que o pode parar. 
Fico assim, aqui, ao deus dará que sempre dá alguma coisa, assim eu acredite que sei receber. Que sou capaz...
O tempo esse, no tic-tac do relógio de pulso, com a corda toda e pilha nova, seguirá o seu rumo com intenção de cumprir a função. E não serei eu que o pararei. 
Ontem já lá vai, hoje é o que sabemos e amanhã, quem saberá a mudança que para aí virá...
Eu não. E não me importo. 
Há muito tempo que não sou surpreendida e diz que quem não se surpreende não vive verdadeiramente. 
O que for, será...

Sem comentários: