Quando cheguei ao Rossio faltavam poucos minutos para as três.
Não fiz de propósito. Aconteceu. Porque tinha de acontecer.
Durante a manhã estive pouco ligada à televisão. A minha preocupação é o meu computador. Ontem à noite sofreu um acidente e a par disso, julgo que poderá estar com vírus. Isso deixa-me bastante aborrecida. Triste e desanimada.
Primeiro porque não estou na posse de uma quantia que me permita adquirir outro, segundo porque passo muito tempo acompanhada da internet e ligada aos familiares e amigos através desse meio de comunicação. E a custo zero. Um pormenor de que muita gente se esquece ou não quer lembrar, porque é mais fácil criticar, quando me " manda " viver a vida fora do pequeno ecran.
Viver a vida é bom. Mesmo se através de transportes públicos. Mesmo se sem motorista. Mesmo que, sem marido. Sem mãe e pai.
Mesmo que longe da terra. Mesmo que, com filhos ausentes. Mesmo que a viver sozinha. Sem amigos e familiares presentes, a viverem também as suas vidas. Como querem, sem que eu as belisque.
Viver a vida é o que eu faço. E nos intervalos da rua, do cinema, da praia, dos almoços e jantares fora, de encontro com amigos, da fotografia, da leitura, do trabalho doméstico, das viagens, estou na internet. Escrevendo. Publicando. Comentando.
Falando no chat.
Hoje o meu destino era para o centro de Lisboa.
Cheguei ao Rossio faltavam poucos minutos para as três. Para viver a tal vida que é boa e eu gosto.
Não fiz de propósito. Aconteceu. Porque tinha de acontecer.
Uma multidão aglomerava-se junto à rua. Desde os Restauradores, seguindo até à Rua do Ouro.
Entrara na Casa da Sorte, antes, a tentar a minha sorte para amanhã, para no futuro não me lamentar por ter um computador, meu fiel e amigo companheiro, avariado.
Ao sair olhei a praça.
Gente esperava, pacientemente, por que a morte viera roubar a vida ao Rei. Eusébio. E os vivos estavam ali para lhe prestarem uma última homenagem.
Porque não? Sei que não preciso de me emocionar. Sei que não preciso de chorar. Sei que não preciso de me castigar e fazer-me masoquista, mas, Eusébio, o Rei, merece. A minha espera, ao lado de anónimos, portugueses, ou não, benfiquistas, ou não. Para ver o rei passar na sua última viagem a Lisboa. Para lhe prestar assim a minha simples, sentida, homenagem.
Porque foi um homem bom, simples e popular. Embaixador de um país que o acolheu e estimou, até à hora da sua passagem, para lá disso, porque há-de lembrá-lo para lá de todas as cerimónias que a comunicação social com toda a justiça dará cobertura em directo. Para lá dos tempos. Bons e maus.
Porque foi o melhor jogador de futebol de todos os tempos do futebol português. Porque cresci a saber das suas vitórias que foram as vitórias do Benfica, o meu clube.
Porque o meu querido pai o admirava profundamente bem como o meu querido tio, benfiquistas até à medula.
Porque é o Rei. Um ser de excelência. Singular. Especial. Cidadão universal.
Porque também eu lhe devo muito. Alegrias para o meu clube. Vitórias e campeonatos. Sorrisos e olhares de ternura perante a sua humildade e simplicidade.
Assim, no dia dos Reis, eu, anónima entre os anónimos tristes, consternados, emocionados, chorosos, vi passar pelas ruas de Lisboa, na sua última viagem, o Rei, entre flashes, lágrimas e palmas.
Até sempre Eusébio.
- a seis de janeiro último -
existem erros no texto como sinais agudos quando deviam ser graves e outros, porque as palavras dependem das teclas caps lock e shift e um acidente com o computador danificou estas teclas impedindo-as de muitas das suas funções.
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