Querido Ano 2013!
Começo esta minha missiva, dizendo-te, assim num repente, desses que me dão e não consigo silenciar-me, de caras e olhando-te bem nos olhos cansados de veres tanta sacanagem , mais eu, feita ao longo do ano, que te respeito muito.
Também te digo que não sou de guardar para amanhã o que posso dizer hoje, até porque é só este momento existe, o que lá vai, lá vai e o que há-de chegar não sabemos como será. E também porque é hoje que estás na posse do dia. Ainda. Como dono absoluto destas derradeiras horas, que alguns queriam despachar e esquecer. Não eu.
Se mandasse, acredita, inventar-te-ia mais alguns meses, todos com trinta e um dias, todos com a energia que tiveste em mim ao longo das estações. Todos com a coragem e a nobreza de que te vestiste, até quando escapaste por entre os pingos da chuva por via de actos, omissões e retaliações dos homens deste burgo, pretendendo, eles, tornar-te um ano antipático, difícil, de que tantos se queriam despedir logo nos primeiros meses.
Antes de mais e para que também eu não me torne ingrata, te digo, com toda a franqueza que me esforço por ter sempre, que foste um ano fixe. Para mim. E para os meus. O mais bacano, dos últimos que te antecederam. Especial. Por isso te agradeço do fundo do meu coração.
E porque não seria eu se não te escrevesse uma carta, já que tanto escrevi ao longo dos teus 365 dias aqui estou nas minhas escrevinhadelas, a que estás habituado e até tens incentivado.
Aqui estou eu com as minhas pieguices. Claro...
Ter esta " delicadeza " não é obrigação alguma. Tão pouco me estou a querer insinuar. Ou penitenciar. Estás de restos e há quem diga que a cães mortos não se dão pontapés. Eu direi que é uma cobardia sem tamanho. E duma ingratidão desmedida. E é por isso que te quero meu igual, a fim de poder dizer-te umas quantas sem que te ofendas ou envaideças. Assim como dois amigos partilhando vidas. Tempos. Despedindo-nos.
Por onde é que hei-de começar? Talvez pelo fim, que é hoje. Chove lá fora. É inverno e faz frio. Eu não me importo. Ao longo dos dias fui criando defesas para me suportar, mesmo se o tempo é adverso. Pensar positivo foi lei este ano. Dei um basta ao pessimismo que nos rodeia a todos e nos quer envolver com teias e truques, sendo que as tarântolas ( perdoem-me as bichinhas ) vão ter de pagar ( espero por isso ) pelos castigos impostos a quem é inocente e não predador. Como essas espécimes.
Bem, mas não te quero baralhar até porque és velhinho e respeito as tuas barbas brancas e algum lapso de memória ou confusão mental. Mais nova sou eu e já me baralho toda e até tenho de pintar as brancas que me vão aparecendo.
Agora que estou mais descontraída e tu também, chegou a hora de abreviar a missiva, até porque outros como eu, há para aí tantos, é o que há mais, também querem dizer-te umas palavrinhas, só que não sejam pais nossos tortos, mas vamos ao que interessa.
Pois então, passando em revista a minha vida e os acontecimentos vividos ao longo do ano posso dizer-te que não me tenho do que queixar. Não digo que foi mais ou menos, nem, assim nunca pior, não foi mau mas podia ser melhor, ou estava a ver que nunca mais acabava, à boa maneira tuga. Não caio em absurdos nem lugares comuns. De quedas estou eu farta e até me safei porque não caí ao longo do ano, nem no conto do vigário ou da desgraçadinha. Diz que era um ano protegido e não é que foste mesmo? Diz que era mais para voar. Não sei se voei, mas que tentei, tentei. O que já é um princípio. Ou por outra, voei, voei sim senhora. Do tribunal para fora, a caminho da liberdade pois que consegui a minha reforma, com o título de técnica superior do lazer, como diz a minha kamba, ela também já TSL e tornei-me num ser quase livre. A conjuntura política e económica deste país não me permitiu uma maior liberdade, mas isso foram outros quinhentos; fui enganando a crise, ajudada por uns e outros e Deus não me permitiu desacreditar de continuar a voar. Voei do Ribatejo para a Estremadura, voo esse que sonhei muitos anos, todos os anos da minha vida vivida no centro do país. Foi portanto um voo de vitória. Como o da águia.
Não, não. Não vou dizer piadolas para te atingir. Tu lá sabes porque deste a vitória aos outros. E depois, é para o lado que durmo melhor...
Também voei de férias para sul, numa generosidade ilimitada de terceiros. Há quantos anos não fazia duas semanas de férias no Algarve. Sol e mar. Praia e água morna. Amizade. Fotografia.
E fui de férias para Peniche. Com tudo o que isso significa para mim.
E estive de companhia da minha amiga de sempre, desde Abril a Setembro e estou agora mesmo, no finalzinho do ano.
E no mês de Agosto outra amiga do liceu me fez companhia na praia de Carcavelos, o que não seria possível se estivesse no ribatejo.
E nasceu o meu sobrinho neto. O único que é do meu sangue.
E fechei portas ao passado. E abri portas ao presente.
E esqueci mágoas. Enterrei-as e fiz-lhes o luto. Completo.
E assisti ao sucesso profissional dos meus filhos.
E o Alfama-te fez-se presente.
E conheci pessoas. Que estão na minha vida.
E tive convites interessantes que se poderão tornar realidades que me alegrarão.
E apaziguei-me.
E fiz cinquenta e oito anos. E estou viva. E as pessoas de quem gosto, também.
Por tudo isto, porque foste tão generoso, apesar dos pesares exteriores, muito agradecida ano de 2013.
Desejo-te um descanso merecido.
Ficas na minha memória como um ano bom. Para sempre.
Não sei virar costas ao passado e atirar-me de cabeça para mergulhar no que não existe. Ainda...
Nunca soube mergulhar e nem com tantas tentativas este verão, consegui. Burra velha não toma ensino.
Por tudo e mais isso, ficas no meu coração. E assim, aqui me despeço.
E mais não digo...só adeus e ... Viva o Velho!
( a 31 de dezembro de 2013 )
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