Chego ao fim do dia e olho para trás. O dia terminou. E então? Eu sei que não vale a pena chorar pelo leite derramado. Eu sou pessoa para nem sequer gostar muito de leite. Sou mais de chás…
Mas este costume de me virar para ver o dia indo embora, me despedir mesmo se o quero ver pelas costas, não perco, ainda que tudo mude.
Mudem-se os tempos, mudem-se as terras, as pessoas, os sentidos e sentimentos. Mudem-se até as vontades, a ver se eu não olho para trás a ver o sol a se pôr e a noite a nascer?
A ver se as vozes que nascem com a noite são mesmo verdade?! Se materializam?!
A ver se a voz que ouvi a me chamar te pertence…
Em pé, que sentada me contorciono e parece que não vejo tão bem. Sentada serve mais para sonhar contigo, em ti, de ti e para ti.
Não fosse a minha cervical andar mal com tanta mudança, andança e desesperança e eu ia parecer que nem aquela artista do circo Mariano que me fazia olhar pasmada de admiração que nem pestanejavam os meus olhos vidrados em tanta beleza, saber e arte.
Que nem tu. É isso. Olho para trás e a tua voz, será que era mesmo a tua voz? Vou admitir que sim, quero admitir que sim, quero muito acreditar, depois de admitir, que sim, que era a tua voz a chamar por mim. Só pode ser. Voz bonita assim quem mais tem?
Chegou o fim do dia e olho para trás. Oiço a voz que parece que é a tua e sorrio. Fazes-me sempre sorrir. Pateticamente bem sei. Mas é um começo. Tudo tem um começo e eu não quero perder o fio à meada porque se eu sorri quando tu me chamaste, supostamente queres fazer-me rir. Não sei. Alguma coisa queres tu de mim…
Ou será que sabes que a minha cervical grita ais de desespero e raiva e quiseste testá-la? Não acredito que seja teste. Até porque nem sempre passo nos testes, nem sempre tenho nota 10. Sou normal e mortal e cometo até a insensatez de sonhar com a tua voz a me chamar.
Sonhei? Olha, já não sei se foi sonho a dormir de olhos mergulhando no sono ou se foi mesmo a olhar o dia finando, a noite chegando e tu me chamando.
O que sei é que te sonho, te oiço e te sorrio, seja na hora da mudança do dia, da noite ou de madrugada. O que sei é que tu mais que miragem, voz de vento soprando ou sinal luminoso, que me mantêm aqui, és palavra que te quero ler, escutar e falar e até sorrir. Chamaste-me? Eu ouvi…
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